Capítulo 2 - Luminóis

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Submergindo todos próximo ao casco, pediu que ambos esperassem. Assegurou que seriam aceitos, mas que ele precisava "preparar o terreno" primeiro. Escalou a corda amarrada no parapeito e quando se pôs em pé na proa - na beirada de onde havia pulado - Saltwell levou uma das mãos à boca, assobiando na direção do convés.

Yami esticou a cabeça até aparecer e acenou. Sánchez começou a descer as escadas laterais logo em seguida com uma cara amarrada.

- O Farol disse que você trouxe aquelas coisas para cá. - Cruzou os braços grossos. - Que história é essa?

Saltwell fechou um dos olhos com força e prolongou um som de enrolação. O equipamento de segurança pode não ter flagrado eles, mas o velho binóculo ainda funcionava.

- Ern... são viajantes. Querem carona, só isso - respondeu, torcendo a barra da bermuda para tirar o excesso de água. - Não quis ser rude, um deles é Luminol.

Como um rompimento espontâneo da barragem, Sánchez desfez completamente a expressão, abrindo espaço para surpresa. Ele navegou os olhos entre Saltwell e as cargas, descruzando os braços.

- Certo. - Tossiu em um punho, apoiando-se com a outra mão na cintura. - Vão conosco até onde?

- Oeste.

- São pelo menos três dias, onde acha que eles vão dormir? - Boquejou, acenando para que Yami descesse até lá.

Saltwell bufou uma risada maliciosa, lançando um olhar indiscreto para o navegador.

- Como se o Farol usasse o quarto dele...

Sánchez o encara em choque, com as maçãs do rosto corando. Em resposta, ele abriu e fechou a boca sem pronunciar mais que meio-palavras. Saltwell, então, apenas se abaixa para recolher a blusa azul que havia jogado antes de pular e a veste por cima da cabeça.

- Eles vêm com a gente? - Yami pergunta assim que chega, entreolhando os outros tripulantes.

- Por alguns dias, sim. - Saltwell o explica.

- Um deles é Luminol. - Sánchez ressalta em tom baixo, enfático. Em resposta, Yami arregala os olhos, passando a mão pelos cabelos lisos e encarando o navegador, que devolveu de ombros e mãos abertas.

Saltwell assistiu a cena com estranheza. Era a primeira vez que os via reagir assim.

- Porquê? Tem algum problema? - Sabia que a raça era rara, mas não a ponto de se tornar uma ameaça ou estorvo. Ainda que a expressão deles não parecia estar relacionada a isso.

- Não! - Yami respondeu rápido, levantando uma mão. - Serão bem vindos, claro. Podem até ficar com o meu quarto se for o caso.

Saltwell sentiu o canto da boca repuxar em um sorriso, e Sánchez de repente ficou muito interessado em uma mancha no assoalho de madeira.

Assobiando, o meio-humano se ajoelhou até a beirada da proa e puxou a corda para chamar-lhes a atenção. Com o dialeto que havia usado na conversa debaixo d'água, ele gritou.

- Podem subir!

Viu a pequena Luminol agarrar-se nas costas do Abissal Atlântico enquanto este escalava a corda. Quando ambos subiram à proa do navio, Saltwell se virou para ver a reação de seus companheiros humanos e se divertiu com a expressão de espanto dos dois.

- Céus, é um Maralto... - Yami diz com voz falhada, e (por instinto, talvez) pressionou uma mão contra as costas de Sánchez, que, ao mesmo tempo, franziu as sobrancelhas grossas e se colocou no meio de ambos.

✦ Os Cristais de MarébyssWhere stories live. Discover now