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Raphael

Acho que causei uma boa impressão a família de Sarah já que quando eu cheguei eu recebi meu talvez sogro com duas armas na mão — não ironicamente — e quando fui embora recebi um abraço dele dizendo que serei bem vindo sempre que eu quiser voltar. Sarah ainda não sabe, mas hoje mesmo falei dela para os meus pais e eles também querem a conhecer, vou marcar isso direitinho e avisar ela no dia.

Minha mãe disse que ela é linda.

Meu pai disse para eu tomar rumo na vida.

Estava deitado na cama de barriga para cima quando na minha cabeça me veio à memória da noite em que eu conheci a Sarah. Não quando eu a vi pela primeira vez, mas a noite que eu a conheci.

Eu lembro que mesmo tendo levado um fora, eu dormi tão feliz naquela noite. Ela se sentiu confortável para contar traumas e o que havia acontecido já com ela.

Eu queria tanto voltar nessa noite.

Desde que eu bati o olho eu já sabia que ia ser minha, não possessivamente falando.

E por falar no capeta, o diabo de saia entrou no meu quarto com um beiço quilométrico e se deitou ao meu lado de braços cruzados. Parecia ter chorado. Eu já falei que ela é extremamente mimada?

── O que que houve, mulher?

── Minha menstruação desceu. — Falou triste e eu fiquei confuso.

── Você não gosta?

Eu não entendo desses assunto.

── Odeio, toda vez que ela desce eu fico com enxaqueca, enjoo e cólica! — Disse com a voz embargada. ── E sensível. — Completou.

Cocei a nuca de forma nervosa e pensei no que poderia fazer para ajudar. Se a menstruação dela lhe traz problemas então é só cessar a menstruação, né?

── Segura ela então, amor, ou tenta fazer ela descer toda de uma vez. — Falei e a feição dela passou de triste para furiosa enquanto virava o rosto para me encarar. ── Calma, calma. O que você quer que pode te ajudar? Eu vou lá comprar agora. Pode falar aí!

Outra coisa importante citar é que a minha casa não é mais minha, é minha e dela. Minhas roupas já não são também minhas e o meu guarda roupas é compartilhado, meu banheiro tem duas escovas e shampoo caro de mulher que eu uso quando ela não vê. Fora a parte só dela de perfume e maquiagem na minha escrivaninha.

── Chocolate. — Falou me encarando.

── Você tem pano xerecal? — Perguntei porque é óbvio que eu não tenho aqui em casa.

── Pano xerecal, Raphael?

── É, aquele negócio que as mulheres usam durante a menstruação.

── Absorvente, gênio! Tinha só um na bolsa que tô usando agora.

── Ok, chocolate e absorvente. Só? — Perguntei levantando.

── Só.

── Qual o tamanho?

── Tamanho do que?

── Do absorvente que você usa.

── Noturno.

── Sim mas tipo, é P, M, G? — Perguntei e ela parecia que queria arrancar os meus olhos com os próprios dedos.

── Raphael, vai logo!

Vou pegar qualquer tamanho então. Dei um beijo de tchau e desci, peguei o carro e o meu celular vibrou nisso, peguei e era Ana mandando mais uma das fotos dela sem roupa. Rolei os olhos. É sério que ela acha que vai ser assumida agindo dessa forma por alguém algum dia? Fora o respeito com a "amiga" que ela diz ter. Bloqueei e apaguei, porque se a Sarah ver é dor de cabeça para mim.

Fui primeiro no mercado, comprei vários doces que ela poderia gostar, comprei também algumas coisas para mim e fui na farmácia, pedi absorvente para a atendente e ela perguntou se era externo, interno, com ou sem abas e eu fiquei confuso. O medo da Sarah brigar comigo quando eu chegasse me fez levar um de cada.

Eu poderia simplesmente ter ligado para ela mas só pensei nisso quando já estava dirigindo de volta para casa. Assim que entrei fui rápido para o quarto e ela tinha o rosto inchado de chorar. Sério que isso tudo é por causa da menstruação? Eu nunca convivi com mulher também, mas isso não tira o fato de que ver ela magoada também me magoa.

── O Fiona, trouxe doce para tu. — Falei balançando as sacolinhas.

A morena abriu um sorriso largo e pareceu melhorar seu ânimo, veio até mim e me abraçou como se nunca quisesse me soltar e eu só queria viver dentro desse abraço. Beijei a sua testa e ela foi ver as sacolas, em seguida deu risada.

── Amor, por que você trouxe vários absorventes? — Perguntou rindo. ── Muito obrigada, você me salvou!

── É que a atendente falou que era diferente que tinha uns de dentro outros de fora e seco e sei lá o que, aí para você não brigar comigo por eu ter levado todos eu trouxe um de cada.

Hoje foi um dia que Sarah tomou incontáveis banhos e o tempo foi passando, já batia onze da noite e estávamos deitados abraçados no sofá enquanto assistíamos desenho. Eu troco qualquer farra por isso.

── Parece você. — Apontei para a rena do Frozen.

lar, raphael veiga. Where stories live. Discover now