Rio de Janeiro, março de 2024antes
— Angel. — a chamei, ouvindo claramente a minha voz ecoar pela sala vazia.
Adentrei um pouco mais a nossa casa, e me aproximei do quarto, abrindo a porta.
Minha mulher estava deitada na cama, encolhida, em meio às cobertas.
O meu coração se entristeceu imediatamente e a olhei, sem saber o que fazer.
Saí dali e voltei à cozinha. Ainda estava com a roupa do trabalho, mas decidi deixar o banho para depois, prepararia uma refeição para minha esposa primeiramente, e era isso o que eu faria.
Em nossa segunda perda, decidimos que para conseguirmos passar pelo luto de uma forma saudável, encontraríamos um terapeuta familiar. E foi exatamente isso o que fizemos. E que durou pelos próximos sete meses.
Até chegar há um ponto em que, após nossas quatro perdas, nos perdemos de nós mesmos e Angel deixou isso de lado. Eu permaneci indo às consultas duas vezes na semana, após o trabalho. Aliás, eu deveria estar lá agora. Entretanto, o cansaço do dia conseguiu me vencer e me fazer voltar para casa.
O meu celular apitou com uma mensagem, e antes que eu pudesse abrir a geladeira, peguei o aparelho, observando o nome “Leonardo” brilhar na tela em uma notificação.
— Porque não veio na consulta hoje?
— Apenas estava cansado demais — respondi simplesmente e abri a geladeira, pegando a cebola, a carne, e mais alguns ingredientes que precisaria.
— Já é a quinta vez no mês. Não regresse, Asher.
Eu suspirei baixinho, sabendo que não poderia voltar atrás e coloquei as coisas na bancada da cozinha, encostando-me na mesma.
Respirei profundamente e deixei meu corpo escorregar pela bancada, sentando-me no chão.
— Ela está deitada e encolhida. — murmurei, distraindo-me com um fio que estava soltando da minha camisa. — Vou fazer algo para ela comer.
— É uma boa. Tentar confortá-la com comida.
Eu sorri levemente.
— Você foi irônico?
— Não. — respondeu. — Ela gosta de comer. Realmente vai ser uma boa.
— Ela não gosta de comer mais tanto quanto antes. — suspirei. — Ela está perdendo peso, Leo. Estou com receio que ela fique desnutrida.
— Quais são as comidas preferidas dela?
— Lasanha, strogonoff, quiche e qualquer coisa que envolva batata. E chocolate.
— Por que não tenta um desses pratos?
Eu ponderei diante sua fala e deduzi que talvez fazendo cada um de seus pratos favoritos, eu poderia fazer com que ela se animasse para comer.
— Vou tentar fazer.
— Boa sorte, Asher.
— Obrigado. Prometo que segunda estarei aí, Leonardo. — murmurei e nos despedimos.
Eu fechei os olhos por um momento, me sentindo exausto, e respirei profundamente, levantando-me.
Descartei os ingredientes que havia pego, colocando-os de volta na geladeira, seguindo o conselho de Heitor. Tentado conseguir fazer com que ela comesse algo.
***
— Anjo. — a chamei da porta do quarto, e a mesma se virou, olhando para mim. — Fiz a janta, vem.
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Angel
RomanceEles se conheciam desde os quinze anos. Eles prometeram que nunca deixariam seus sonhos morrerem, e o maior deles, sempre foi ter um bebê. Eles seriam a família perfeita. Mas aquilo não estava acontecendo. Aquele sonho, tão natural, não estava sen...