04. Eu quero você, só você

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Na primeira vez que Angel engravidou, estávamos tentando há alguns meses, até que em um dia, perto do natal, minha esposa fez uma surpresa.

Assim que cheguei em casa, ela vendou os meus olhos, e com passos incertos, me fez caminhar até a varanda. A venda foi retirada, permitindo que eu visualizasse uma grande quantidade de balões amarelos e azuis no teto. Uma grande faixa escrito "você vai ser papai" estava presa na parede. Um bolo pequeno e branco, com uma personagem de palitinho estava grávida, e um "estamos grávidos" preenchia o topo do bolo.

Eu ainda não sei descrever qual foi a sensação que eu senti no momento em que experienciei essa emoção. Foram muitas coisas juntas. Uma alegria imensurável, e um medo de ser um péssimo pai. Um pensamento de ser chamado de papai por um serzinho minúsculo que teria os olhos de Angel. Que seria uma mistura perfeita de nós dois. E ao mesmo tempo o pavor de não ser o suficiente. De não o entregar o suficiente.

Então poucas semanas depois o nosso sonho estava se esvaindo pela primeira vez.

Eu deixei um beijo na testa de minha esposa, observando-a levemente brilhosa, me deitei ao seu lado, sentindo minha respiração ainda ofegante. O meu coração estava voltando aos poucos ao seu ritmo natural, enquanto eu podia sentir a minha pele ainda em chamas.

Sempre que estava com Angel, era em partes, como relembrar a nossa primeira vez. Ainda inexperientes, ainda ansiosos. Ainda ansiando ardentemente um pelo outro. Não importava quantas vezes fizemos ou faríamos amor. Ainda era como na noite em que nos entregamos um para o outro.

Os meus olhos se desviaram do teto branco, para a mulher ao meu lado, observando, admirando, gravando cada minúsculo detalhe seu. As suas bochechas coradas. As pequenas sardinhas que desenhavam uma trilha em baixo de seus olhos e em seu nariz. Os seus olhos pesados com um intenso brilho, esse que eu podia admirar em alguns raros dias. A sua pupila dilatada a ponto de quase se fundir com sua íris, sobrando apenas um pequenino espaço.

Ela era minuciosamente perfeita, e céus, eu me perguntava todos os dias como havia encontrado tal formosura.

A minha mão formigou, não conseguindo permanecer tanto tempo longe de sua pele, e assim que iria tocar a sua bochecha, Angel se levantou, puxando o lençol consigo, cobrindo a sua nudez. Ela entrou no banheiro e franzi as sobrancelhas, confuso com sua atitude.

Ela nunca havia sentido vergonha de seu corpo, e vê-la daquela maneira pela primeira vez, fez com que eu me levantasse e a seguisse.

Angel estava no box, com o chuveiro ligado, deixando que a água molhasse seu corpo nu. Eu abri a porta e entrei ali, percebendo ela se assustar levemente, afastando-se de mim.

— Anjo...

— Eu quero ficar sozinha, Asher. — interrompeu-me, e eu estranhei um pouco mais a sua atitude.

— O que aconteceu?

— Eu só quero tomar um banho sem você. — disse mais uma vez, e eu balancei a cabeça, aproximando-me dela enquanto a via se afastar, até bater com as costas no vidro do box.

— Angel, eu te machuquei? — perguntei preocupado, e toquei em seu rosto delicadamente, — Eu fiz algo que você não gostou?

Ela apenas balançou a cabeça negando, e comprimiu os lábios.

— Então o que houve?

— Eu... — ela ficou em silêncio e as lágrimas inundaram seus olhos.

— Anjo, você está me assustando, tem certeza que não...

— Está tudo bem, Asher. — me interrompeu, ignorando suas lágrimas e voltando ao seu banho.

O que estava acontecendo?

Engoli em seco, implorando mentalmente para que não a tivesse machucado, e me retirei do box, fazendo como seu pedido, ficando com algumas questões em minha mente.

***

Angel estava sentada em uma das banquetas na cozinha, tomando uma xícara de chá, e me aproximei, sentando-me ao seu lado.

Eram duas horas da manhã, e por sorte, não precisaríamos acordar cedo no dia seguinte, já que seria nossa folga.

— Precisamos conversar. — pedi, e ela me olhou, assentindo.

— Você não me machucou, nem fez nada que não fosse do meu agrado, Asher, não se preocupe quanto a isso.

Eu observei a sinceridade em seus olhos, e aceitei sua fala.

— Então o que houve?

— Eu... eu não... — ela mordiscou levemente seu lábio inferior, e balançou a cabeça, desviando seus olhos dos meus. — Só estou ansiosa para o resultado disso.

Eu senti como se um soco fosse desferido em meu estômago e uma dor lancinante irradiasse o meu corpo.

Eu preferiria que ela dissesse que não havia gostado.

Os meus lábios permaneceram em silêncio, sem saber o que falar de fato. Nós fizemos amor. Nós entramos em nossa sintonia única.

E após isso esse foi o seu primeiro pensamento.

Esse deveria ter sido o meu primeiro pensamento.

Mas eu havia implorado baixinho aos céus para que o resultado daquilo fosse negativo.

— É só esperar um pouco. — murmurei e ela sorriu levemente.

— Eu sei, amor, mas... dessa vez pode dar certo, sabe? Dessa vez eu realmente posso conseguir.

Eu apenas assenti, sentindo minha garganta fechar.

— Vai dar tudo certo, anjo. — eu forcei um sorriso e sua mão se envolveu em meu braço.

Ela se encostou no mesmo, repousando a cabeça em meu ombro. O calor de sua pele, a maciez de seu toque.

Céus, eu queria chorar.

Angel era perfeita demais, incrível demais. Enquanto eu estava ali, acovardando-me. Fugindo inutilmente da minha realidade.

— Eu amo você, anjo. — sussurrei baixinho, porque aquilo era verdade.

Eu a amava mais do que tudo. Mais que a mim mesmo, e era exatamente por isso que eu nunca revelaria os meus pensamentos.

Por que eu amo Angel, e eu nunca deixaria de a amar. 

AngelOnde histórias criam vida. Descubra agora