Era do Ouro Puro - Um Conto de Fogo e Podridão

Capítulo 02 - Life is Like a Boat

 * Notas no fim do capítulo *

∰

Finalmente, ele se encontrava no centro da magnífica grande biblioteca. O Local da Graça pelo qual ele viajou estava voltado para as costas da Rainha Cariana. Apesar do enorme chapéu, era visível que sua cabeça estava inclinada para baixo, totalmente focada no objeto que segurava em seu colo. O cavaleiro não precisava vê-la para saber que se tratava do ovo de âmbar translúcido dado à rainha por seu ex-marido. O presente valioso tem sido abundantemente utilizado para realizar o rito proibido do renascimento sem fim.

Baron caminhou lentamente em sua direção, com cuidado para não a assustar, ainda que o mesmo fosse improvável, podendo ver que, no extremo oposto, uma estátua de Radagon ainda estava de pé perto das muitas estantes da biblioteca. Seus braços estavam abertos, seu rosto apontava diretamente para sua ex-esposa, quase como se ainda estivesse cuidando dela. Ou talvez ela estivesse ali propositalmente para ela se sinta um pouco mais próxima dele.

Qualquer que seja o motivo, não mudaria muito a atmosfera do lugar. A biblioteca sempre inspirou calma no cavaleiro depois que ele derrotou a rainha, é claro. Além de ser um dos poucos lugares em que ele poderia se sentir completamente seguro, o ambiente cheio de pilhas de livros, juntamente com os muitos lustres, era estranhamente nostálgico. Um lugar sereno, mas tão esmagadoramente triste e solitário – tão esmagadoramente azul. A estátua de Radagon nada mais era do que uma lembrança dolorosa do que ela já teve, e Baron não pôde deixar de simpatizar com sua situação.

O Maculado aproximou-se dela calmamente, sendo recebido da mesma forma que estava acostumado.

– Ah... tu... És teu desejo mais um renasscimento? Para se tornar um doce renascido do meu amado ovo?

Ele sorriu, respondendo gentilmente:

– Temo que não, Lady Rennala. Desta vez, não.

Algo em seu tom fez a rainha sentir-se diferente, como se sua voz desencadeasse uma reação que perfurava paredes que ela não podia ver. Como se tivesse aberto uma pequena fenda em sua cúpula invisível, desolada e escura. De repente, Rennala sentiu como se não houvesse falado com ninguém há anos; como se sua presença ali pudesse quase fazê-la voltar lentamente aos seus sentidos. "Sentidos" os quais ela não sabia que tinha perdido.

– O que desejas, então, filho?

– Estou aqui hoje para representar a próxima Ordem que será forjada, a do Ouro Puro. Queremos fazer um voto a você e à Casa da Lua Cheia. Buscamos acabar de vez com essa guerra de uma vez por todas. Em termos pacíficos, de preferência.

A rainha fechou os olhos brevemente como se a luminosidade do ambiente fosse clara até demais para alguém como ela, que ficou no escuro por tempo demais. Depois piscou como se mal pudesse reconhecer onde estava. Seus olhos brilharam assim que ela se acostumou com a "luz" novamente, recebendo lentamente a clareza que havia perdido com o tempo. Quem era esse pequeno cavaleiro a seus pés? Ele era estranhamente familiar, mas ela não conseguia se lembrar de nada sobre ele. Qual era mesmo o seu nome?

– Uma nova ordem... Será que a Ordem Áurea já não existe mais? Marika caiu, por fim?

– Ela já não existe mais. Mas temo dizer que o mesmo vale para Radagon. Eu... sinto muito por sua perca. – Baron acrescentou sinceramente e desviou o olhar quando lágrimas silenciosas escorriam pela face alva da Rainha.