Capítulo 2

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Na manhã seguinte, a delegacia despertava sob o zumbido habitual de atividade. Verônica estava em sua sala, uma pequena área que ela havia personalizado ao longo dos anos. Ela conversava com Nelson, seu melhor amigo no departamento. Nelson, um analista de dados com uma veia cômica inesgotável, compartilhava a antipatia de Verônica por Anita, uma situação que os aproximava ainda mais.

Ambos riam, imersos em uma daquelas conversas que só acontecem antes do caos do dia realmente começar. Verônica tinha acabado de imitar Anita usando uma expressão pejorativa que havia inventado, algo que Nelson achava hilário. Foi então que a porta se abriu abruptamente, sem o aviso de uma batida, e Anita entrou, pegando-os de surpresa no meio da risada.

Anita os observou com um ar de superioridade, seu olhar varrendo a sala até pousar em Verônica. "Escrivã, espero que esteja pronta. Vamos ao local do crime que começamos a investigar ontem" - disse ela, sua voz carregada de uma autoridade que não admitia contestação.

A surpresa de ser pega em um momento tão descontraído fez com que Verônica demorasse um segundo a mais para recompor-se. "Claro, delegada. Só preciso pegar meu bloco de notas e estarei pronta." - respondeu ela, esforçando-se para manter a voz neutra e profissional, apesar do constrangimento de ter sido pega em um momento de zombaria.

Nelson lançou a Verônica um olhar que misturava simpatia e preocupação, sabendo bem as tensões que existiam entre ela e Anita. Ele acenou discretamente, um sinal de que conversariam mais tarde, e se retirou, deixando as duas sozinhas.

Verônica ajustou sua postura, pegou seu bloco de notas e acompanhou Anita para fora da sala. O caminho até o local do crime foi preenchido com um silêncio tenso. Verônica sabia que a delegada havia percebido o tom da conversa anterior, mas Anita escolheu não comentar. Pelo menos não naquele momento.

Ao chegarem ao local, o profissionalismo tomou a frente. Afinal, havia um caso a ser resolvido, e ambas sabiam que, apesar das diferenças pessoais, o trabalho precisava ser feito. Anita começou a dar instruções, detalhando o que precisava ser feito, enquanto Verônica anotava tudo meticulosamente.

Este novo caso, envolvendo um crime complexo com múltiplas camadas de mistério, exigiria que elas trabalhassem juntas mais do que nunca. E, enquanto investigavam a cena, havia um reconhecimento tácito de que, apesar dos atritos, a colaboração seria essencial.

O dia no local do crime forçou Anita e Verônica a se concentrarem no que tinham em comum: um compromisso com a justiça. Enquanto Verônica se dedicava a examinar cada detalhe do apartamento da vítima com a ajuda de uma perita, Anita revia as informações já coletadas, buscando conexões que pudessem ter sido negligenciadas anteriormente. A sinergia entre o trabalho de campo e a análise de informações estava começando a mostrar seu valor.

Após a perita concluir sua inspeção e se retirar, Verônica se juntou novamente a Anita, ambas concentradas em suas respectivas tarefas. Foi nesse momento de concentração que um barulho sutil, mas distinto, veio da entrada do apartamento. O som de passos hesitantes, quase como se alguém estivesse tentando se mover silenciosamente, capturou a atenção das duas instantaneamente.

Movidas por um impulso comum, Anita e Verônica se dirigiram à origem do som. No entanto, a urgência e a falta de coordenação entre elas resultou em um desastre cômico e perigoso: enquanto ambas tentavam passar pela mesma porta estreita, se atrapalharam e, num tropeço desajeitado, Verônica acabou caindo em cima de Anita.

Por um momento, o mundo pareceu congelar. Verônica, ainda sobre Anita, não conseguia desviar o olhar da boca da delegada, um detalhe íntimo e inesperado que a fez hesitar. A situação era tão absurda quanto tensa.

Sombra da Verdade - VeronitaWhere stories live. Discover now