𝔐á 𝔡𝔢 𝔐𝔞𝔡𝔯𝔞𝔰𝔱𝔞

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     Desfaço minhas malas no quarto que costumava dormir quando era criança,  meus pais e eu, vínhamos aqui sempre que papai queria um momento longe da nossa família venenosa em Thevile Castle.
      O chalé me faz ter algumas lembranças dessa infância perdida, me recordo vagamente da voz da mamãe me dizendo coisas carinhosas, das canções que ela cantava para me acalmar. Eu fui uma criança muito agitada, as vezes violenta até demais e ela era a única que conseguia com muito esforço me acalmar.
      As memórias são poucas, mas o suficiente para me sentir bem. É por isso que nunca mais voltei pra cá. Ter lembranças da mamãe era pior do que não ter nenhuma, porque eu odeio a mamãe por ter ido embora e me deixado para trás com ele.
         No entanto não é a minha mãe que me preocupa agora. Meredith foi mesmo morta por um urso? Ou é apenas uma invenção dela para me deixar com medo? Dispensou os empregados para que ficássemos sozinhas no meio do nada? Se for isso eu vou descobrir em breve. Há um vizinho há 10km do chalé que divide o rio com a nossa propriedade, seu nome é Marshall,  tem uma esposa e uma filha da minha idade e que já deve ter se formado. Se eu pegar o barco amanhã irei até a propriedade dele para tirar a prova sobre Meredith e o urso.
        O galho de um carvalho bate no vidro da janela do meu quarto, olho para ela e vejo o céu acender em explosões constantes acima das árvores da floresta.
           — Droga! — resmungo, indo fechá-la e ao me abeirar da janela, entre a luminosidade dos trovões vejo do lado de fora Hermyone saindo do chalé e indo até seu luxuoso carro, folhas secas do carvalho são varrido com o vento ameaçador.
        — O que você está aprontando, querida, madrasta? — pergunto observando sua movimentação.
          Hermyone tira do porta-malas do carro, uma maleta pequena e então olha para  mim antes de fechar. Será que está preparando o cenário para me matar, sorrio com a possibilidade tola. É claro que não, ela viu o que eu fiz com meus primos, para o bem dela que seja uma maleta de maquiagem, mas se não for. Ah se não for, nós vamos nos divertir muito.
      Termino de arrumar minhas coisas no closet, tomo um banho quente, me troco e desço para ver o que tem na cozinha. Sem empregados teremos de preparar nossa própria comida, desejando não encontrar Hermyone eu entro na cozinha de pressa na esperança de pegar algo na geladeira, mas é só eu chegar a porta que eu sinto o cheiro aprazível que vem de lá. Hermyone está com os cabelos presos num coque alto mexendo alguma coisa numa panela diante do fogão. Não importa o quanto se esforce para ser normal, ela jamais consegue porque até assim ela é incrivelmente linda. Paro instantaneamente quando ela me nota.
          — Está com fome, — ela pergunta — estou preparando um Goulash se quiser-
         — Eu me sirvo. — a interrompo.
         — Ok! — Hermyone desliga o fogo do fogão com a panela fumegante em cima. — pode me ajudar a por a mesa?
        Relutante e irritada, pego os pratos no armário e os coloco em cima da mesa, talheres e taças, embora eu me recuse a beber qualquer coisa ao lado de Hermyone. Não confio em mim mesma com álcool no sangue com certeza a primeira coisa que farei é me jogar na cama dela e eu não posso fazer isso. Não posso a menos que queira ficar pobre para sempre e tenha que trabalhar.  Não, meu Deus, não de jeito nenhum. Eu não nasci pra trabalhar, Deus me livre e Deus livre a pessoa que depender de mim para alguma coisa. Eu me formei em Medicina para agradar papai e para ficar longe daquele castelo, não  porque eu queria seguir os passos dele. Eu não  vou precisar seguir os passos dele, sou herdeira de bilhões de dólares, é claro, se eu não pisar na bola. Olho para Hermyone me fazendo essa promessa. Eu não vou dar pra você. Eu não vou dar pra você. Eu não vou dar pra você.
      Hermyone coloca as panelas e uma travessa no centro da mesa, logo após uma garrafa de bordô, abre e se serve do líquido roxo.
       — Uma condessa que sabe cozinhar?
      Hermyone me fita como se não a tivesse visto até então.
       — É, alguém muito especial me ensinou.
      — Você não faz o tipo que cozinha. — Observo.
      — Como eu já lhe disse, você não me conhece mais do que eu permito que conheça.
      — Ótimo porque eu não quero mesmo. — Me sirvo da comida e me levanto da mesa decidindo que eu não quero bater papo, pego um refrigerante diet na geladeira e me preparo para dar o fora. — quer saber eu vou comer no quarto!
      Hermyone não esboça sinais de que se importa.
       — Ok!
       Viro as costas, me corroendo por dentro. O que estou fazendo? Desejo muito conhecer Hermyone melhor, mas a ideia de vê-la no papel de mãe me deixa enojada.
       — Você não precisa bancar a mãezona fazendo comida pra mim, ok? Não seremos amigas e essas semanas que passarmos aqui, não significarão nada pra mim.
     Vejo um meneio de cabeça com indiferença.
     — Ok!
      — Então eu gostaria que você não se dirigisse a mim de modo algum, finja que eu não estou aqui. Está claro que você forçou toda essa situação pra se aproximar de mim com más intenções, só que não vai rolar, eu não vou trair o meu pai. Não sei o que você fez para os meus primos ficarem tão loucos por você, mas não vai acontecer comigo, ouviu? Não vai!
      Hermyone se senta na cadeira no extremo da mesa e cruza os braços.
      — Já parou pra pensar que talvez seja só coisa da sua cabeça?
     Olho para o lado tentando encontrar o sentido.
     — Como é?
     — Que você é quem está criando essas ilusões nessa sua linda cabecinha, acha que eu te trouxe até aqui pra te agarrar quando na verdade eu não quero fazer isso.
     Sorrio, percebendo tudo.
     — Você é esperta, sabe manipular as coisas pra fazer parecer que não é intencional, mas é!
     — Não, não é.
      — É sim, porque você me provoca o tempo todo...
      — Porque você também me provoca! Tudo bem, estamos só nós duas aqui, me fala Ada, por que você está tão irritada comigo?
     Quer mesmo saber?
      — Você sumiu depois daquela noite.
       — Você não deixou seu telefone!
       — Você não pediu.
       — Por que eu pediria, foi só uma transa?
       — E agora você vai se casar com o meu pai.
      Hermyone pega o garfo e espeta um pedaço de linguiça.
       — Aí está! — leva a linguiça à boca e mastiga.
       — O que?
      Pausa para engolir.
      — Você não superou, a sua amiga estava dizendo a verdade, você nunca esqueceu a nossa noite e o fato de logo eu estar prestes a me casar com seu pai te deixa transtornada. Porque você acha que só porque fizemos sexo uma vez eu não tenho o direito de me casar com seu pai, porque ele é o seu pai e eu sou eu.
       — É verdade, eu quero você! Não posso querer você sendo mulher dele, mas eu quero. Quis desde que ficamos pela primeira vez, mas você desapareceu e você está certa, não estou conseguindo aceitar isso. Você e meu pai, é algo inconcebível para mim! — minha voz fraqueja, é isso que eu faço quando digo a verdade e eu não gosto de falar a verdade. As coisas vão mal quando você expressa o que sente, isso te torna fraco, e eu sou fraca diante do olhar voluptuoso da minha madrasta.
       —  Você não pode só esquecer o que rolou entre nós?
      Bato com o pé no chão.
      — Não!
     O interesse de Hermyone nisso é bárbaro, reconheço malícia quando vejo.
      — Por que não?  — ela pergunta.
      — Por que me trouxe aqui? Já que estamos sendo honestas, me diga e não venha me falar que é pra nos darmos bem e sermos amiguinhas, porque não é só isso, eu vejo o jeito que você me olha!
      Hermyone larga a taça de vinho.
       — Como é que eu te olho? — come mais uma porção de carne, mastigando sem olhar pra mim.
      — Como uma loba salivando, você me quer, Hermyone e quem não quer, eu sou deliciosa!
      — Mas não é a última bolacha do pacote. — dá mais um gole no vinho bebendo quase a metade.
       — Pode bancar a indiferente se quiser, mas se você me fodeu bem naquela noite foi porque eu também te dei gostoso e você também não me esqueceu. Pode até ser verdade a sua história com o papai, mas quando me viu, ficou morrendo de tesão, você fica tarada quando está comigo e mal se dá conta.
      A gargalhada de Hermyone me penetra, deixa o garfo e a faca descansarem no prato.
     — Sua imaginação me impressiona.
      — Imaginação? Você me quer, foi por isso que dispensou os empregados, pra ficar mais fácil de você me pegar.
      — Não acredita na história do urso?
      — Nem uma criança de quatro anos acreditaria.
      — Mas é a verdade. — diz Hermyone levando o garfo a boca.
      — Não é!
      Hermyone abocanha um pedaço de batata sem dizer uma palavra. Continua comendo me deixando parada olhando para ela.
     — Se você não comer logo, sua comida vai esfriar.
      Mordo as bochechas por dentro.
       — Quer saber? Eu perdi a fome. Pode enganar o papai por ele estar completamente apaixonado por você, mas você não me engana, Hermyone, não sou eu quem não consegue lidar com o fato de você se casar com ele, e sim você, quer mentir pra si mesma que não sente tesão sempre que está comigo e tenta jogar em cima de mim a responsabilidade e a culpa de não aceitar. Eu vou repetir, eu não sou as minhas primas! — largo o prato sobre a pia, devolvo o refrigerante na geladeira e saio da cozinha com raiva.
       Mas me escondo atrás da parede para ver a reação Hermyone. Ela olha para frente sem piscar e aperta com tanta força a taça de vinho que ela se despedaça na sua mão, mas não para seu jantar por causa disso, continua comendo e eu sinto no fundo do meu coração que essa mulher ainda vai acabar comigo. Mas o que a impede de falar a verdade?

Her-má-froditt (Thriller erótico)+18Where stories live. Discover now