Capítulo 01

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China, 15 de julho de 2023.
Distrito de Shandong, Jinan.

"É evidente que a população de Jinan está a crescer em um ritmo cada vez maior, o que o senhor acha sobre isso, Doutor Jing?".

"Acho que devemos ter muito cuidado, devemos nos preparar para uma nova pandemia".

"Por que diz isso Doutor Jing?".

"A mãe Natureza sabe se proteger muito bem, e o aumento da população a está prejudicando, acredito que as pandemias tenderão somente a piorar de agora em diante".

"Obrigado por comparecer hoje em nosso programa doutor Jing".

Jinan, 21:56.

"

Pai, a comida acabou, não temos nada para o jantar".

O som do vidro quebrando quase fez os meus ouvidos sangrarem.

"Você comeu tudo, seu desgraçado!? Eu sabia que você era um ladrão como a puta da sua mãe!!!"

Tive que ranger os dentes e controlar os impulsos de raiva ao ouvir os insultos direcionados a minha mãe.

"Pai..."

"Vá buscar mais uma garrafa para mim!"

Com um comando tão repetitivo, meu corpo apenas se mexeu automaticamente, pegando uma garrafa daquele líquido de odor ruim.

Quando aquele velho dormiu, pude finalmente assistir à TV mais calmamente, segurando algumas sobras podres da pia, e as comendo sentado em um pequeno sofá - Estavam realmente Deliciosas.


01:04

A noite é sempre escura, era uma afirmativa impossível de se argumentar contra, pois é um fato. Então, por que estava tão claro se ainda não havia amanhecido? A luz era tão forte que mesmo com todas as portas trancadas ainda era possível enxergar tudo tão claramente.

O velho não acordou com a luz, dopado com álcool, talvez nunca acordasse.

Era possível ouvir os carros descontrolados lá fora, provavelmente cegos com a luz forte. Decidi abrir a janela para entender melhor o que estava acontecendo, mas nunca imaginei ver algo tão assustador e belo ao mesmo tempo.

A forte luz tinha como origem um meteorito, sua cauda era azul e brilhante, ofuscava até mesmo o brilho da Lua. Muitas pessoas saíram de suas casas com o mesmo objetivo que o meu, acabando por também ficarem fascinadas, mas com o medo do velho acordar tive que me retirar para dentro.

No entanto, algo estava errado, minhas mãos estavam dormentes e minha cabeça doía tanto que achei que iria explodir. O que estava acontecendo? Minha mente se perguntava incansavelmente, mas a tontura e um sono estranho não me deixaram pensar muito, agora apenas as vozes ao longe dos vizinhos podiam ser ouvidas, distantes e inalcançáveis.

"Meu marido desmaiou!"

"Socorro, alguém me ajude!"

"M-Monstros, tem monstros a-aqui!!!"

"Alguém chame a polícia!!"

Jinan, 16 de julho de 2023, 08:45.

Acordei assustado, havia gritos por toda parte do lado de fora e o velho não estava no quarto.

Havia um barulho estranho no banheiro...parecia que alguém estava mastigando algo, com medo peguei uma faca na pia da cozinha a segurando em frente do meu corpo, andei lentamente até a porta do banheiro, abrindo apenas uma pequena brecha.

Havia sangue por toda parte. Pude ver vagamente a roupa azul do carteiro Shang, eu não conseguia entender. Por que meu pai estava em cima daquele homem, mastigando a carne dele? Ele parecia insaciável enquanto o carteiro no chão não se mexia mais.

O meu cérebro teve um pequeno vislumbre de uma cena de filme. Zumbis? Esses monstros realmente eram reais?

Antes que o meu pai - Talvez esse não fosse mais o meu pai - me percebesse, consegui fechar a porta, mas agora me dei conta...

o que devo fazer? Não há comida em casa e sair pode ser muito perigoso. No entanto, é a única opção.

Nunca fui de assistir muito esse tipo de filme, nem ao menos podia por não ter dinheiro. Então sei apenas o básico: não seja mordido, nem arranhado por aquelas coisas.

Ao começar a me preparar para sair, peguei uma mochila com álcool e água, as únicas coisas na casa que eram comestíveis e disponíveis no momento, os corpos ficam para os Zumbis.

"Espera? Por que sumiu? Onde está a água que eu estava segurando!? Juro que a peguei!!"

Sussurrando desesperado, comecei a contar as garrafas de água novamente, mas após não encontrar uma resposta acabei por deixar passar como apenas um estado de coque do meu cérebro.

Continuando a me arrumar, peguei a antiga jaqueta da minha mãe e uma calça e camisa simples, além de kit de higiene básico, e claro uma troca de roupa, pode ser o apocalipse, mas não vou ficar fedendo.

Andando uma última vez pela casa e verificando se havia pegado tudo, percebi o retrato em família perto da TV.

Existem momentos que nunca poderemos voltar para eles, e se devem aproveitar ao máximo.

Mas quando somos crianças não percebemos que uma foto pode ser tudo o que teremos no futuro.

Com esse pensamento peguei a foto e a guardei na mochila. Ciente que talvez esse tenha sido o meu último momento de felicidade.

"Mãe, estou saindo de casa"

Finalmente enfrentando o mundo lá fora, estava me perguntando para aonde ir.

Terra sem leiOnde histórias criam vida. Descubra agora