eight

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05/12/2023
꒰⁠⑅⁠ᵕ⁠༚⁠ᵕ⁠꒱⁠˖⁠♡

— Oi, filha! — meu pai me olhou de cima a baixo. — Cê sumiu, onde cê tava?

— É, a gente tava tirando fotos e olhou pra trás e você já não tava mais com a gente. — Dora, que estava com a boca cheia de pedaços de pão, jogou um olhar confuso a mim assim que eu entrei no refeitório e fui em direção a ela e meu pai, que dividiam uma mesa com alguns outros torcedores.

— Eu... Fui ao banheiro. — foi a primeira mentira que bolei e, pensando bem, era melhor eu ter gastado mais alguns segundos para criar alguma coisa mais convincente.

— O banheiro não é pra lá? — meu pai apontou na direção oposta da qual eu tinha vindo.

— É... Aham! Sim, foi de lá que eu vim. — sorri forçadamente e evitei ao máximo coçar as minhas mãos, algo que eu fazia sempre que estava nervosa. Em seguida, tentando parecer natural, sentei-me no lado oposto ao meu pai e ao lado de Dora.

Meu pai deu de ombros e continuou conversando animadamente com um torcedor com quem havia feito amizade e estava sentado do lado dele. Admirava a facilidade que meu pai tinha em conhecer pessoas novas em todos os contextos sociais.

Isadora, no entanto, continuou prestando atenção em mim. Claramente ela não comprou muito a minha mentira. 

Assim que o Calleri entrou no refeitório logo em seguida, todos ali pareceram parar de fazer o que estavam fazendo e voltaram as atenções para ele, e um coro de "toca no Calleri que é gol" se iniciou, causando um alvoroço. Bom, dava para entender por que todo mundo estava tão animado com a presença dele.

De qualquer forma, quando ele entrou, tive certeza que Isadora concluiu alguma coisa, já que seu olhar confuso se tornou um olhar acusatório, acompanhado de um sorrisinho de canto bem pretencioso.

— Que foi? — questionei à Isadora ao roubar um pãozinho do seu prato. 

— Você tava com ele, não tava? — ela comentou em um volume baixo. Senti meu estômago virar de ponta cabeça dando algumas piruetas.

— Ele quem? — fingi dar de ombros.

— Heloísa, você não é burra e nem eu. — ela riu. — Ele não estava aqui e nem você. E de repente os dois estão.

— Se você quer saber — virei para ela, falando no mesmo tom quase silencioso no qual ela havia iniciado aquela conversa. — ele me chamou pra conversar, foi só isso. 

— Se você diz. — ela sorriu de canto novamente, se afastando de mim. 

— Por que de repente a fanfiqueira virou você e não eu? — eu ri, balançando a cabeça e franzindo o cenho.

— Eu só tô pensando no que parece que aconteceu.

— Nada demais aconteceu, se é isso que você tá pensando nessa sua mente suja.

Na verdade, aconteceu. Aconteceu? Eu não sabia dizer se sim, mas parecia mentira dizer que nada demais tinha acontecido. 

Quando eu olhava para o Calleri em uma das mesas um pouco distantes, ele desviava o rosto e fingia estar conversando com outra pessoa. Quando fomos tirar uma foto com todo mundo no campo, ele ficou perto de mim novamente e eu pude sentir sua respiração na minha nuca. Quando as camisas autografadas foram entregues, a minha tinha a assinatura dele escrito "para a garota da redação". 

ESSAY GIRL • Jonathan CalleriOnde histórias criam vida. Descubra agora