Criando Vínculo

48 6 2
                                    

Alfonso: Any, sério, tem certeza? - pergunto mesmo que curioso, tento ser cuidadoso

Anahí: Tenho! E não me pergunte denovo - respiro fundo e o encaro - Eu tinha 6 anos, minha vida era perfeita, apesar dos meus pais brigarem as vezes, éramos felizes. - sorrio ao lembrar de como era antes do que ele fez - as vezes ele chegava bebado, minha mãe pedia para eu ficar no quarto, eu apenas obedecia, mas teve um dia que ele entrou atrás de mim, pensei que ele fosse me bater - Alfonso me encara apreensivo - mas eu preferia ter apanhado até morrer - as lágrimas escorrem no meu rosto sem que eu pudesse controlar

Alfonso: Não chora assim Any! - me odeio por não poder abraça-la agora

Respiro fundo, enxugo as lágrimas e continuo - minha mãe não estava, quando eu o vi chegar eu fui para o quarto e ele começou a fazer carinho em mim, eu era só uma criança Alfonso, achei que ele estava realmente fazendo carinho na filha dele, as mãos dele subiram para - apontei a região e abaixei a cabeça, novamente precisei tomar fôlego - quando minha mãe chega, ele se afasta de mim e me diz "se livrou hoje hein" e sai do quarto, eu não entendia do que ele estava falando, eu juro que não! - digo em meio as lágrimas e soluços

Alfonso: Any, você era só uma criança, não tem porque se justificar

Anahí: Não para por aí, passaram alguns dias e ele recebeu férias do trabalho, e eu passei a ficar sozinha com ele porque minha mãe trabalhava, eu percebia olhares, os carinhos continuavam, que nojo de lembrar disso - falo me repelindo esfregando meus braços - um dia eu cheguei da escola e ele estava no sofá, sem roupa, me disse que eu nunca ia esquecer desse dia "ele tem razão, eu nunca esqueci", pedia para eu tocá-lo e eu estranhei e neguei, ele disse que se eu não tocasse iria apanhar, ele estava gritando bravo e eu fiz, toquei ele Alfonso - essa dor que consome a minha alma, está sendo colocada para fora agora, sequei as lágrimas, Alfonso só me olhava e eu não decifrava suas expressões - ele então pediu para eu tirar minha roupa, na hora eu me afastei dele, e neguei, minha mãe sempre me ensinou a nunca ficar nua perto de  homens, quando falei isso ele disse que minha mãe não ia ficar sabendo, na hora eu saí correndo e me escondi na  vizinha, ele não sabia onde eu estava, então não me procurou, eu contei para ela e ela me deixou lá até minha mãe chegar, o que me salvou foi elas terem acreditado em mim - tentei forçar um sorriso - no mesmo dia minha mãe pois ele para fora e ameaçou chamar a polícia, ele nunca mais voltou! - abaixo a cabeça, e Controlar as lágrimas é algo impossível

Alfonso: Any, eu sinto muito! Não acredito que ele fez isso com a própria filha , olha para mim - ele estava de cabeça baixa, e eu em choque com o que ela me revelou, ela tentou me olhar - você não tem culpa Any, era apenas uma criança, a vítima é você.

Anahí: Ainda não acabou! - agora que eu comecei vou contar tudo - Eu nunca esqueci essa cena, vivia tendo pesadelos, minha mãe passou a trabalhar mais ainda, quando eu tinha 12 anos ela conheceu o pai do meu irmão, em pouco tempo engravidou e ele foi morar com a gente, no começo foi tranquilo, quando eu completei 14 anos ele disse que tinha um presente especial.

Alfonso: Cretino! Não me diga que ...

Anahí: Ele disse que ia me levar para passear - falei o interrompendo - minha mãe não quis ir junto, então me arrumei e fomos, tentei perguntar e ele fez suspense, até parar em frente a um motel, eu me assustei e ele falou que minha mãe não podia saber, a mesma fala,  o mesmo medo e a mesma cena se repetindo, comecei a chorar e ele falava que eu não precisava ter medo que ele não ia me machucar que eu ia acabar pedindo mais enquanto passava as mãos pela minhas pernas - chorava e me sentia vomitando toda aquela história - eu só comecei a chorar e a gritar, quando ele parou na recepção entregou uma identidade falsa, a moça me viu chorar e eu comecei a gritar pedindo ajuda, ele me empurrou do carro e me deixou lá, eu tive que encarar minha mãe sozinha - sequei as lágrimas - entende agora porque eu não quis te contar antes - Alfonso me encarava perplexo

Alfonso: Any, eu não podia imaginar

Anahí: Minha mãe deu queixa, ele nunca mais voltou, e além de perder os dois maridos por minha causa, meu irmão também perdeu o pai- as lágrimas voltaram a escorrer

Alfonso: Anahí, isso não é sua culpa, nem da sua mãe, eles que não prestam! Você não pode viver a vida pagando por algo que não foi sua culpa.

Anahí: não adianta Alfonso, eu não me livro desse sentimento que me sufoca! É por isso que eu sou fechada!
Jurei a mim mesma que não ia deixar isso afetar minha vida, que daria a minha mãe uma vida confortável.

Alfonso: Anahí, você já fez terapia?

Anahí: Várias vezes, melhora mas não cura, não apaga - coloco as duas mãos na cabeça em desespero - essa culpa não me deixa em paz.

Alfonso: Any, é por isso que nunca namorou né? - ela tira as mãos da cabeça e me encara, está tão frágil, tão vulnerável, tudo que eu queria era pegá-la no colo e proteger ela, arrancar esse sentimento dela.

Any: Acha que algum homem vai querer ter algo sério com alguém como uma história dessas? - Sorrio sarcástica - acha que eu tenho coragem de ficar nua perto de um homem e não me lembrar de tudo?

Alfonso: Any, não me diga que você é...

Any: virgem? - o interrompo - sim, por incrível que pareça eu sou. Eu não consigo me entregar e confiar em homem nenhum Alfonso! - respiro fundo

Alfonso: Meu Deus Any, você não pode continuar pagando por isso! Eu te levaria a sério, me casaria com você!

Any: Está falando isso pelo que eu te contei, não precisa ter pena Alfonso!

Alfonso: Anahí, você é uma mulher incrível, qualquer homem que tivesse alguém como você do lado ganharia na loteria!

Any: Não precisa disso Alfonso! Não precisa me dizer mentiras para me consolar! Entende agora porque não quero que você se aproxime?

Alfonso: Anahí - respiro - não vou ter essa conversa com você nessa situação - aponto meu corpo - mas assim que eu tiver recuperado vamos voltar a conversar, mesmo que você não queira, e eu quero que você fique com essa fala na sua cabeça " Qualquer homem que tivesse com você, seria o homem mais sortudo do mundo! " Você é incrível Any, e eu queria poder te abraçar agora, mas esse maldito estado não me permite.

Tropeçando No AmorWhere stories live. Discover now