DÚVIDAS

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1 mês depois.

Fernanda Bande

- Tira os pés de cima da minha mesa, para de ser folgada - digo para Pitel que está em minha sala.

- Eu não, tô muitcho confortável - responde despreocupada - quando foi que dei essa liberdade?

Ela tem a própria sala, mas adora passar a maior parte do tempo aqui desde que a contratei definitivamente.

Ouço batidas na porta e Alane entra logo depois.

- Com licença, dona Fernanda, a reunião das cinco foi remarcada para amanhã.

- Ok, obrigada - respondo por fim.

- Alane - a chamo antes de se retirar - já tem companhia para o almoço?

Ela parece pensar por alguns segundos e responde em negativo.

- Na verdade não, eu ia almoçar sozinha mesmo - responde tímida.

Eu estava indo almoçar com a Pitel, você quer ir com a gente?

Pitel apenas observa tudo com uma expressão engraçada.

- Se não for incomodar, por mim tudo bem. Só vou pegar minha bolsa e espero lá embaixo - se retira logo depois.

- E essa cara de boba aí? - indaga Pitel com um sorriso.

- Que cara? Não tem cara coisa nenhuma. Eu hein - tento disfarçar mas é inútil.

- Pensa que eu nunca reparei não? Toda vez que a secretária aparece você fica aí com essa cara de cachorro olhando o frango assado na padaria e esse sorriso bobo. Chama pra almoçar, faz ela passar mais tempo do que o necessário na sua sala, aí tem hein - diz sarcástica.

- Iih, tá viajando, vendo coisa onde não tem - me apresso para pegar minhas coisas e sair, essa conversa já deu o que tinha que dar.

- Você que passa tempo demais na minha sala - devolvo a provocação.

- Pra mim você tá é apaixonada - continua claramente me provocando - mas se te consola, eu acho que ela também tá viu? Ela também fica com essa cara.

- Se você não calar a boca, vai pagar a conta do restaurante - digo abrindo a porta e fazendo sinal pra ela passar.

- Opa, não tá mais aqui quem falou - levanta os braços em rendimento e se retira rapidamente, a acompanho logo depois.

O almoço transcorria tranquilamente, conversávamos amenidades de vez em quando ou falávamos sobre a empresa. Às vezes, notava olhares sugestivos de Pitel para mim, mas sabia que ela estava me provocando pela "conversa" que tivemos alguns minutos atrás, ela simplesmente colocou na cabeça que eu sentia alguma coisa pela minha secretária. Que coisa mais sem cabimento.

Ultimamente estamos mais próximas, almoçamos juntas com frequência, as vezes conversarmos assuntos sobre vida pessoal, mas nunca passou disso. Alane jamais se interessaria por uma mulher quase dez anos mais velha, sem falar que não conheço sua preferência em questão de sexualidade.

- Não olhem agora, mas olha que espetáculo de homem que acabou de entrar no restaurante - Pitel indica com os olhos a direção que o tal homem está.

- Olho disfarçadamente alguns segundos depois, porém não acho nada demais. Era só um cara alto, loiro e forte.

- Não vi graça nenhuma - respondo sincera.

- Também não, muito padrão - Alane completa.

- Aff, vocês são péssimas. Qual seu tipo de homem, Alane? Ou de mulher - Pitel pergunta e bebe um pouco do suco que pedimos, prendendo um sorriso sacana.

Alane fica um pouco tímida, ela costuma ser bem reservada sobre sua vida pessoal.

- Na verdade eu não tenho um tipo, se eu gostar, eu fico - faz uma pausa - mas mulheres me atraem muito mais - completa.

Pitel lança um olhar pra mim de quem quer provar que está certa sobre sua teoria. Ela não vai parar por aí.

- Mulheres tipo a Fernanda? - lança um olhar sugestivo - me engasgo com o suco.

Alane fica vermelha com a pergunta e tenta me ajudar enquanto Pitel rir de mim como se eu fosse uma palhaça.

.

Após os almoço voltamos à empresa para finalizar as pendências da tarde. O restante do dia correu sem maiores eventos, como um dia qualquer.

De repente me lembro das palavras de Pitel. "Pra mim você tá é apaixonada", "mas se te consola ela também tá, viu?"

Por um momento me questiono se isso tem alguma veracidade. Eu não poderia estar criando sentimentos por uma funcionária, poderia?

Sou tirada de meus devaneios pela presença de Pitel na minha sala, de novo.

- Não sabe bater não? Aparecendo nada, parece um fantasma - tomo um leve susto.

- Eu bati, você que não ouviu - vim trazer os últimos documentos atualizados - coloca os papéis em cima da minha mesa e senta colocando os pés sobre a mesma logo depois. Que mania irritante ela adquiriu - tava pensando na amada? - rir sarcástica.

- Dou uma risada sem humor - engraçadinha.

- Por quê que tu não chama ela pra sair? Cadê a atitude? Tá esperando o quê? - pega meu pote de biscoito.

- Vai ficar nesse chove não molha é? Almocinho, reunião. "Você poderia me ajudar com isso, senhorita, Alane" - Me imita com uma voz ridícula.

Por um momento cogito a possibilidade.

- Isso é inadmissível, eu sou a chefe dela, nossa relação deve ser estritamente profissional - falo mais para me convencer.

- Isso é uma besteira, se você gosta dela então você tem que tentar. Que decepção, eu pensei que tu era mais corajosa - diz em negação.

Penso por um instante e decido por fim tomar uma atitude. Isso poderia colocar em risco nosso relacionamento no trabalho, deixar as coisas estranhas, mas por outro lado, podemos nos aproximar um pouco mais. Ainda não acredito que estou realmente considerando essa possibilidade.

Vamos lá, Fernanda - digo para mim mesma - máximo que pode acontecer é levar um não, certo?

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;)

Como estão?



























O Diabo veste Preto (Ferlane)Where stories live. Discover now