EUFORIA

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euforia
substantivo feminino
1.
PSICOPATOLOGIA
estado caracterizado por alegria, despreocupação, otimismo e bem-estar físico.

Alane Dias

Já sentiu a sensação de seus pés não tocarem o chão mesmo estando em terra firme? Como se seu estado de excitação te fizesse, mesmo que por um momento, perder a noção da realidade, de repente nada ao redor merece tanta atenção ou tem tanta importância. Mas depois como uma avalanche, sua razão recupera o controle e você se repreende por tal ato, se culpa e seus pensamentos travam uma batalha entre certo e errado.

Estava no meu quarto recapitulando os últimos acontecimentos, me repreendendo por não ter resistido, fugido. Imaginando como vou encará-la depois de tudo, como vou dividir o mesmo espaço com alguém pelo qual meu corpo chama daquela forma.  Sou capaz de sentir o calor das mãos dela pelo meu corpo, a visão dos seus olhos me encarando como duas tochas, mas logo trato de espantar tais pensamentos.

- Isso não poderia ter acontecido - falo sozinha no meu eterno monólogo. Decidi não contar nada pra Beatriz ainda, ela surtaria, fora que foi um evento isolado, não aconteceria novamente. O lado ruim é ter que lidar com essas emoções sozinha, daqui a pouco quem vai surtar sou eu. Respiro fundo verificando as horas no meu celular, hora de encarar a realidade.

No caminho para o trabalho, minha cabeça pensava em todas as possibilidades possíveis, se eu seria mal falada, julgada, viraria o assunto da semana ou pior, demitida, não posso perder meu emprego, eu preciso desse trabalho.

Após algum tempo finalmente chego em frente ao prédio da empresa, respiro fundo e entro, vai ser um dia longo.

Ao contrário do que imaginei, o clima estava completamente normal, as mesmas pessoas fazendo as mesmas coisas de sempre, respiro um pouco mais aliviada por em partes, ter surtado atoa, mas o pior ainda estava por vir. Teria que encarar minha chefe, depois de termos nos pegado como duas adolescentes na puberdade.

- Precisamos conversar - ouço aquela voz tão conhecida, agora carregada de seriedade, me abordar assim que saio do elevador no andar da presidência.

Fernanda está parada próximo a porta de sua sala, sua postura parece ansiosa e tensa, ela logo solicita que eu entre e assim faço.

- Dona Fernanda eu - tento começar mas sou interrompida por ela.

- Me desculpa - ela não me olha, apenas encara a vista de suas janelas perfeitamente limpas.

- Eu me excedi ontem, não vai acontecer de novo - sua voz tem um tom dificultoso, como se estivesse se esforçando pra falar aquilo.

- Dona Fernanda, a culpa também é minha, eu confundi as coisas, me perdoe - me limito a responder completamente sem jeito. Que situação constrangedora.

- Espero que isso não interfira em nossa relação profissional - seu olhar se volta para mim pela primeira vez no dia, sinto uma pequena movimentação no estômago.

- C-claro - digo quase que patética tentando manter o contato visual enquanto ela se aproxima de mim.

Nossa distância ainda é segura, mas minha sanidade já dá sinais de que será abalada. A essa altura, já consigo sentir o cheiro do seu maldito perfume, me fazendo perder os sentidos por breves segundos.

Agora ela está perigosamente próxima, nenhuma palavra sai de nenhuma de nós, apenas nossos olhares se sustentam como ontem, logo os flashes voltam a minha mente me fazendo querer novamente perder o controle para a emoção. Torço internamente pra ela não tomar nenhuma atitude, eu não seria capaz de resistir, eu não queria resistir.

- Por quê você mexe com a minha cabeça desse jeito? - sua voz sai quase inadiável, como um pensamento alto.

- Q-que jeito? - me limito a questionar sentindo minhas pernas levemente trêmulas. Nossos olhares ainda não perderam a batalha.

- Como se eu não conseguisse resistir a você - novamente sua voz soa mais como um pensamento alto demais, como se ela também estivesse lidando com as próprias questões.

- Dona Fernanda....- quase desfaleco quando ela me prende entre a mesa e seu corpo, me encarando daquele jeito que outrora me fez fazer besteira.

Ela parece estar em uma batalha ainda maior consigo mesma, sua postura ainda é tensa, agora seus olhos transparecem dúvida, como se estivesse tentando se policiar.

Nota mental: tê-la tão perto é uma péssima ideia, uma ideia horrível.

- Não podemos deixar isso acontecer de novo - ela fala agora de olhos fechados como se estivesse tentando trazer a razão à tona mas falhando no processo.

- Não - sussurro - seus olhos encontram os meus novamente, cheio de desejo e luxúria.

- Por favor, diga que não quer - pede quase suplicando.

- Tenho medo de dizer que eu quero -
Isso parece ser gatilho suficiente pra ela me puxar pela nuca e me beijar novamente com vontade, dessa vez seu beijo não é tímido ou temeroso, suas mãos agora adentram meus cabelos enquanto sua língua está em perfeita sincronia com a minha, o beijo dela é incrível.

Me entrego novamente ao momento, minha intenção não era resistir afinal.

Sem quebrar o contato ela me coloca sentada em cima de sua mesa, uma de suas mãos dessem para minha cintura enquanto a outra continua em meus cabelos, puxando levemente me causando uma sensação gostosa.

Envolvo seu corpo com as minhas pernas e ela parece gostar disso, não sei em que momento aquilo virou uma briga de quem está mais excitada, nossos corpos parecem necessitar um do outro, quase que magnéticos.

Sua boca agora está em meu pescoço, seu perfume inebria meus sentidos, minhas mãos desfazem seu perfeito rabo de cavalo com um puxão sem cuidado nenhum. Acabamos de concordar que isso não iria mais acontecer, mas agora estamos envolvidas demais para pensar no acordo.

Sinto um calor quase insuportável no meio das minhas pernas enquanto Fernanda me beija sem pudor algum agora.

Mas algumas batidas na porta nos trazem de volta a realidade, como um susto, rapidamente nos separamos e logo ficamos distantes.

Meu estado está deplorável, minha respiração está descompassada, posso jurar que sinto meu coração batendo na garganta.

Fernanda não está muito diferente, tenta arrumar os cabelos rapidamente enquanto balbucia um audível "pode entrar." Trocamos breves olhares cúmplices e culpados.

- Bom dia, flor do dia - Pitel entra na sala ainda alheia - advinha quem é muitcho eficiente e conseguiu os documentos que tu pediu - estende os papéis para uma Fernanda completamente sem graça. Chega a ser cômico sua cara de quem acabou de ter sido flagrada.

- Obrigada, Pitel - pigarreia recobrando novamente sua pose séria.

Pitel nos observa por alguns segundos com um sorriso lascivo e um olhar sugestivo.

- Tá tudo bem com vocês? Parece que saíram no tapa - seu tom é carregado de ironia. Ela não era inocente, fazia de propósito e se divertia com isso.

Fernanda e eu trocamos olhares novamente, tento segurar o riso culposo que quase sai.

- Dona Fernanda, a senhora tem uma reunião em quarentena minutos, com licença - me retiro rapidamente logo depois, passando por Pitel que tem uma expressão desconfiada.

Não acredito que aconteceu de novo, Fernanda Bande vai me deixar louca.


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;)

Prometo não sumir, me aguardem que logo eu volto. Bjs








O Diabo veste Preto (Ferlane)Onde histórias criam vida. Descubra agora