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          PANDORA E EU NOS sentamos em uma das mesinhas que estavam pelo Grand Canyon na esperança de finalmente conseguirmos nos concentrar.

Infelizmente, ambas tínhamos TDAH.

— Vamos lá, Dora, a gente pode fazer isso! — Eu disse, dando um tapinha encorajador no ombro de Pandora.

Ela sorriu divertida, levantando o olhar para a amiga.

— Não saímos nem do exercício dois, Delphi.

Fiz uma leve careta e logo voltamos a nos cencentrar nos exercícios e compartilhar ideias enquanto preenchíamos as respostas. Estávamos totalmente focadas quando Leo se aproximou e se sentou conosco, chamando nossa atenção para algo do outro lado da passarela.

— Ei, olhem ali — ele apontou para Jason, que estava conversando seriamente com o treinador Hedge.

Pandora franziu a testa, seus cabelos ruivos caindo sobre os ombros.

— O que será que eles estão conversando tão seriamente? — ela perguntou, curiosa.

Leo olhou para mim com uma expressão perplexa.

— Você não acha estranho que Jason não se lembre de nada? — ele disse, sua voz carregada de preocupação.

Pandora arregalou os olhos.

— Como assim ele não se lembra de nada?

Leo e eu trocamos olhares, ponderando sobre o que o mesmo acabara de dizer. Era verdade que Jason parecia ter perdido a memória, ou ele realmente estava se esforçando na pegadinha, ainda não tínhamos descoberto.

— Jason cochilou no ônibus e quando acordou cismou que não nos conhecia. Nem a ninguém daqui. Nem a ele mesmo. — Expliquei resumidamente, olhando para a ruiva.

— Talvez seja algum tipo de amnésia temporária... — sugeriu Pandora, mordendo o lábio inferior. — Ou quem sabe algo mais misterioso esteja acontecendo.

Leo assentiu, parecendo intrigado.

— Precisamos descobrir o que está acontecendo. Vamos até lá.

Nos levantamos da mesa e seguimos até onde Jason estava conversando com o treinador. Ele nos viu se aproximando e sorriu, mas havia algo em seus olhos que denotava confusão e incerteza.

Antes que pudessemos falar algo um relâmpago tomou conta do céu. O vento começou a bater furioso. Folhas de exercício voaram para o Grand Canyon e a passarela sacudiu.

Os jovens gritaram, tropeçando e agarrando-se ao guarda-corpo. Por instinto agarrei as mãos de Leo e Pandora, arregalando os olhos.

— Eu devia falar alguma coisa — resmungou Hedge, então gritou ao megafone: — Todos para dentro! A vaca faz mu! Saiam da passarela!

— Acho que ouvi você dizer que essa coisa era segura! — gritou Jason, tentando falar mais alto que o vento.

— Isso não parece nada seguro! — Gritei, sendo ignorada por ambos.

— Em circunstâncias normais — ele afirmou. — E esse não é o caso. Venham!

Enquanto caminhávamos para um local seguro, a tempestade se transformou em um pequeno furacão. Nuvens em forma de funil se aproximavam da passarela como tentáculos de um polvo monstruoso. O vento carregava cadernos, casacos, bonés e mochilas.

Jason deslizava no chão escorregadio. Os demais alunos gritavam e corriam para o prédio, desesperados por proteção, e eu estava inclusa nisso.

Em menos de dois segundos Leo perdeu o equilíbrio e quase caiu por cima do guarda-corpo, me levando junto, mas Jason agarrou seu casaco e nos puxou de volta.

— Obrigado, cara! — gritou Leo.

— Valeu, Jay!

— Andem, andem, andem! — dizia o treinador.

Piper, Pandora — que eu não fazia ideia de como havia chegado lá tão rápido — e Dylan mantinham as portas abertas, chamando os outros alunos para
dentro. O casaco de Piper sacudia para todos os lados, os cabelos batendo no rosto.

Eu, Jason, Leo e o treinador Hedge corríamos na direção deles, mas era como andar em areia movediça. O vento parecia estar contra nós , nos puxando para trás.

Dylan e Piper conseguiram empurrar mais um aluno para dentro, depois as portas escaparam de suas mãos e bateram com força, fechando o caminho para a passarela.

— Puta merda! — Xinguei, observando Piper puxar as maçanetas.

Os meninos que estavam dentro empurravam o vidro, mas as portas pareciam presas.

— Dylan, ajude! — gritou Piper.

Dylan ficou parado, com um sorriso idiota, o agasalho dos Cowboys sacudindo ao vento, como se ele de repente estivesse gostando da tempestade.

— Sinto muito, Piper — ele respondeu. — Cansei de ajudar.

Ele girou o punho e Piper foi atirada para trás, bateu contra as portas e caiu na passarela de vidro.

— Treinador — disse Jason —, deixe-me ir!

— Jason, Leo, fiquem atrás de mim — ordenou Hedge. — Essa guerra é minha. Eu deveria saber que era ele o nosso monstro.

— Monstro? — Arregalei mais ainda meus olhos. — Que porra ta acontecendo?

— O quê? — perguntou Leo. Uma folha de exercícios atingiu seu rosto, mas ele a afastou. — Que monstro?

O boné do treinador voou, e no alto de seus cabelos cacheados havia dois montinhos que pareciam cachos mal feitos. Agarrei o braço de leu, sentindo meu coração acelerar ao quase cair. Ele ergueu o taco de beisebol... que não era mais um taco normal. De alguma forma, transformara-se em um cajado de galho de árvore, ainda com brotos e folhas.

Dylan abriu um sorriso psicótico.

— Ah, pare com isso, treinador. Deixe o menino me atacar! Afinal de contas, você está ficando muito velho para isso. Não foi por esse motivo que o aposentaram nessa escola estúpida? Estive em sua turma o semestre inteiro e você nem notou. Está perdendo o faro, vovô.

O treinador deixou escapar um som raivoso, como um animal balindo.

— Acabou, cupcake. Você já era.

— Esse apelido não é mais tão legal assim. — Murmurei para Leo ao meu lado.

— Acho que nunca mais vou comer cupcakes. — Ele retrucou.

— Acha que pode proteger três meios-sangues de uma vez, velhinho? — perguntou Dylan, zombando. — Boa sorte.

— Três o que? — Perguntei ao treinador, me sentindo muito confusa.

Jason agarrou meu braço e me puxou para longe de Leo no mesmo instante em que Dylan apontou para o latino e uma nuvem em forma de funil se materializou em volta do garoto, que voou da passarela como se tivesse sido empurrado.

De alguma forma, ele conseguiu girar no ar e se chocar contra a parede do canyon. Deslizou, procurando agarrar-se onde podia. Finalmente segurou-se em uma rocha estreita, uns quinze metros abaixo da passarela, e ficou pendurado ali, pelos dedos.

𝐓𝐇𝐄 𝐅𝐎𝐑𝐆𝐎𝐓𝐓𝐄𝐍 𝐃𝐀𝐔𝐆𝐇𝐓𝐄𝐑 - 𝐇𝐃𝐎Where stories live. Discover now