𝙰𝙻𝙸𝙽𝙷𝙰𝙼𝙴𝙽𝚃𝙾 |17

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  É uma segunda-feira quente e ensolarada. Isso deveria me animar?

  Eu tomei o último comprimido que eu tinha guardado, junto com um suspiro de decepção. Já era para minha tia estar aqui para me trazer a receita nova, mas eu acho que a que eu tenho ainda vale mais um mês.

  Pego minha mochila preta, que estava jogada em minha cama, e saio de casa com passos largos, temendo me atrasar ou simplesmente perder a coragem de sair de casa.

  Sempre morei sozinha desde os meus quinze anos. Todos acham que minha tia mora comigo, mas que trabalha demais, quando na verdade ela está fazendo a vida dela em outro país, e automaticamente, me fazendo um favor por não estar me torturando com seus costumes entediantes. E mesmo que sempre houvesse só eu nessa casa antes do meu gato, a casa nunca pareceu tão vazia...

  Tranquei a porta e respirei fundo antes de olhar para a moradia da minha vizinha. Eu já não me sentia tão péssima, acho que o passar dos dias fará com que eu me acostume com os pesadelos e as lembranças.
Quanto tempo vai demorar para que sintam a sua falta?

— Tchau, amor. – Falo para o "túmulo" onde estava o meu gato.

  Quando acabo de trancar o portão, sinto uma presença atrás de mim e me viro no mesmo instante.

— Olá, Lana. – Ayla fala com um sorrisinho entre os lábios.

  Ela era uma mulher de vinte e oito anos, com cabelos cacheados e compridos na cor castanho claro. Tinha lindos olhos verdes que combinavam com a sua pele parda e suas sardas. Estava recém-casada com o cara com quem ela brigava de forma barulhenta todas as semanas.

— Ayla? – Tento parecer o mais normal possível, o que normalmente é um desafio para mim.

— Eu estou me mudando para outro estado e não vou ter tempo de conversar com a Lurci. Você pode avisar a ela pra arrumar outra pessoa que a leve nas consultas, por favor?

Arqueio as sobrancelhas diante das suas palavras, sentindo como se um peso a menos fosse retirado das minhas costas. Ayla seria uma das primeiras pessoas a dar falta de Lurci Bueno, já que elas estão sempre fofocando uma com as outras e indo para as tais consultas uma vez por mês, porém agora, eu não precisarei me preocupar com isso.

— Eu aviso sim. – Sorri sem mostrar os dentes.

  Ela acenou a cabeça de forma animada antes de voltar para a casa ao lado.

  Neste final de semana, não ouvi nenhuma briga entre ela e o marido, algo que costuma ser frequente. Agora que eles estão se mudando, será que finalmente poderei me acostumar com essa paz?

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  Chegando lá, já pude ver Ammy vindo correndo na minha direção, com seus lindos cabelos loiros balançando ao vento, e me abraçando, quase me derrubando.

— Você está melhor! – Ela agarrou minhas bochechas com suas mãos macias que tinham cheiro de morango.

  Eu não esperava vê-la falar comigo tão rapidamente hoje.

— Oi, Ammy. – Forço um sorriso e ela percebe, ela sempre percebe.

— Oh... Você está bem? – Seu sorriso desaparece aos poucos.

  O que eu menos quero é que as pessoas me cerquem com suas expressões lamentosas agora, isso não me ajuda em nada.

— Só estou um pouco cansada. – Digo, desviando o olhar e andando pela grama bem aparada que tem em frente à nossa escola.

"Querido Diário" de Lana Berger - As verdades Where stories live. Discover now