4.

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Eu realmente estou tentando. Estou tentando me concentrar nas teclas a minha frente e nas notas que estou emitindo, mas está impossível.

Tom está se gabando tanto com a guitarra que o som está sobressaindo mais que todos os outros instrumentos. Eu poderia chutar a canela dele ou simplesmente largar o teclado e voltar para a sala, mas quero saber no que isso vai dar.

Bill insistiu que sua garganta não estava aquecida e que poderia desafinar, Gustav disse que seus braços ainda estavam doendo desde o último show e Georg simplesmente não estava afim, assim como eu não estava. Mas Tom foi tão manipulador que acabou lavando nossos cérebros e nos trazendo para essa garagem quente e apertada.

—Preciso de água. — Bill sussurra tampando o microfone com as duas mãos.

—Porra, aguenta mais um pouco. — Tom sussurra em resposta.

—Deixa de ser babaca, você sabe que Bill precisa hidratar a garganta de vez em quando. — Digo me inclinando sobre o teclado e me aproximando do garoto.

Ele me lança um olhar irritado antes de se virar para o irmão novamente.

Emma está sentada em uma das poltronas da garagem, sua distração com nosso trabalho contrasta em como ela está concentrada em cada movimento que fazemos aqui.

—Só mais uma música. — Tom sugere. — Por favor.

Olho para os garotos e todos carregam uma feição de cansaço, e não é atoa, já tocamos mais de três músicas, se continuarmos nesse ritmo vamos acabar com o álbum todo em uma hora.

—Só mais uma. — Bill afirma levantando o dedo indicador.

Estou abismada.

Tento esconder de Emma a expressão de raiva que lanço para Tom, mas ele não percebe, continua tocando sua guitarra como se essa fosse a última vez que toca para uma plateia. Esse garoto é muito metido.

Olho para o chão e vejo um cabo ligado a caixa de som, é o mesmo cabo conectado a guitarra.

Sorrio fraco.

Disfarçadamente me endireito para o lado e cubro um pedaço do fio com o pé esquerdo. Assim que o solo de Tom estiver prestes a acontecer, basta eu arrastar o pé e o cabo será desconectado.

Talvez eu seja muito má em fazer isso, mas Tom está sem controle, preciso detê-lo, não é?

3... — Começo a contagem regressiva para o solo começar. — 2... — Firmo o calcanhar no chão. — 1. — Arrasto o pé e o fio se solta dando uma leve chicoteada na minha panturrilha, mas tudo bem, ao menos consegui fazer o que pretendia desde o início.

—Que porra... — Tom passa a mão confuso em sua guitarra e assim que sente a falta do cabo, ele se vira.

Ele olha da guitarra para a caixa de som, e da caixa de som para mim.

Ops... — Sorrio sarcástica.

Ele respira fundo e posso ver daqui sua vontade de me esganar.

Bom, acho que funcionou.

•••

—Foi culpa dela. — Tom esperneia apontando para mim. — Ela estragou tudo, cacete!

Emma acabou de ir embora e mesmo a garota insistindo que amou a apresentação, Tom insiste em dizer que eu estraguei tudo.

—Tom, não exagera. — Bill tenta acalmar o irmão que está praticamente cuspindo fogo.

—Não é exagero e você sabe disso. — Ele suspira e caminha uns dois passos na minha direção. — Você fez de propósito.

—TOM! — Georg repreende o garoto parado a minha frente. — Não acusa ela desse jeito.

Mordo o interior da bochecha me sentindo genuinamente envergonhada. Talvez eu tenha mesmo exagerado um pouco... na verdade, exagerei para caralho.

—Eu realmente fiz isso, Georg. — Comprimo os lábios formando uma linha fina. — Me desculpe, Tom.

Ele não me responde, morde os nós dos dedos e respira fundo.

—Qual é a sua afinal? — Ele franze as sobrancelhas.

Minha vez de franzir minhas sobrancelhas.

—Do que está falando?

—Precisava mesmo fazer aquilo lá embaixo? Não podia simplesmente esperar a música acabar? — Ele deixa os braços caírem nas laterais do corpo.

—Espera aí, eu tinha um trabalho muito importante para fazer, e você me atrapalhou desde o começo. — Passo a palma da mão sobre a testa frustrada.

—Agora a culpa é minha? — Tom cruza os braços e sua expressão é tão severa que por um segundo me sinto intimidada.

—Eu não disse isso.

—Quer saber? — Ele se aproxima até estar tão próximo de mim que nossos peitos se encostam. — Você é uma criança. Você é infantil. Você precisa desesperadamente crescer, Matilda. Não me impressiona que seus pais te tratem como se ainda fosse um bebê, você age como um.

Ele praticamente cospe as palavras e sai da casa.

Eu permaneço no mesmo lugar, estática.

Acho que de tudo que Tom já me disse, isso foi o pior. Estou me sentindo envergonhada por ter causado essa situação, e estou tentando não me afetar tanto com o que ele acabou de dizer. Eu sou realmente tão tola?

Nunca me abalei quando as pessoas diziam que eu era muito nova para entender certas coisas, ou que ainda precisava amadurecer bastante. Mas isso? Tudo que Tom acabou de cuspir na minha cara? Eu estou me sentindo como se tivesse acabado de sair do berçário.

—Eu acho que... vou para o meu quarto. — Aviso para os meninos que ainda estavam parados e me olhando com pena.

—Mat... — Bill tenta me chamar mas já estou subindo as escadas.

Essa cama nunca pareceu mais atrativa do que está parecendo agora. Me jogo sobre ela e me aconchego abraçando um travesseiro com os braços. Encaro a janela e reflito durante horas sobre o que Tom me disse.

Talvez eu realmente precise crescer, precise mudar. Mas não faço ideia de como fazer isso. Eu costumava pensar que a maturidade vem conforme envelhecemos, e isso é parcialmente verdade, mas apenas parcialmente, porque não sinto que meu nível de maturidade aumente assim que sopro as velinhas no bolo de aniversário.

Bufo e viro de costas enquanto encaro o teto do meu quarto, ele é cheio de estrelas verdes fluorescentes que brilham no escuro. Me levanto ainda encima da cama nas pontas dos pés e braços esticados e começo a arrancar todos os enfeites. Arranco uma boa quantidade até que pelo menos metade do teto esteja vazio.

Preciso começar por algum lugar. E vai ser bem aqui. Nesse quarto.

training wheels - Tom KaulitzWhere stories live. Discover now