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TOM's POV

À medida que caminho até o quarto "1092", o corredor parece se esticar ainda mais conforme meus pés tocam o chão. Uma sensação assustadora está revirando meu estômago, quero virar os calcanhares e fugir para o lado oposto ao que estou indo de encontro. A preocupação, a angústia, e principalmente o medo de que algo aconteça, me fazem querer me esconder debaixo da terra. Mas a saudade, a vontade de vê-la novamente e a sensação de saber que ela estará segura em meus braços outra vez, me carregam até esse quarto.

Paro em frente à porta e enrijeço os ombros quando ouço o som das máquinas apitando. Respiro fundo e engulo a bile que me subiu a garganta. Preciso encarar isso.

Bato duas vezes antes de entrar, esperando que os pais de Matilda precisem de um aviso antes de darem de cara com o namorado da filha deles que não teve capacidade de protegê-la de um acidente.

—Oi... — Digo assim que passo pela porta.

Não obtenho respostas, porque não tem ninguém aqui. Não vejo os pais de Matilda, e me repreendo mentalmente por sentir alívio por conta disso. Olho para os lados e vejo alguns itens pessoais jogados encima de uma mesa. Eles provavelmente acabaram de sair.

Ergo a cabeça e vejo uma cortina grande e branca, do outro lado do tecido é de onde vem os sons de máquinas, e isso me assusta.

Ela está logo ali.

Dou um passo à frente e seguro uma parte da cortina. Fecho os olhos e suspiro.

Ela está logo ali.

Puxo o tecido com força e abro os olhos na mesma intensidade.

Ela está aqui.

Deixo escapar uma respiração entrecortada e sinto meu coração bater mais rápido do que jamais bateu. Ela está deitada na cama, com os olhos fechados, um tubo de respiração nasal, as mãos postas de cada lado do corpo com fios e agulhas para todo o lado e uma faixa envolta de sua cabeça.

Caminho lentamente até estar ao seu lado. Meu coração se aperta ainda mais conforme percebo como sua pele está pálida. Há olheiras envolta dos olhos e a boca está ressecada, baixo os olhos para os braços e vejo que as veias parecem muito mais escuras, como se sua pele tivesse virado uma seda fina, deixando a mostra todo o seu interior.

Quero gritar. Quero gritar e chorar e dizer que sinto muito. Quero ela bem outra vez.

Sem tirar os olhos dela, me sento em uma cadeira que estava posicionada ao lado da maca. Mordo o lábio inferior e, com muito cuidado, posiciono sua mão fria por cima da minha, ignoro o aparelho pregado em seu dedo indicador e permaneço com os olhos fixos em seu rosto.

Mat... — Começo a dizer e já consigo sentir minha voz se embargar. — Não sei nem por onde começar. — Acaricio a pele de sua mão distraidamente. — Foi tudo tão rápido. Estávamos juntos em um momento e no outro... n-nós... hm... — Suspiro. — Me perdoa, Mat. Você não tem ideia do que eu faria para que nossos papéis fossem trocados. Eu juro que tudo o que eu queria era estar no seu lugar, porque te ver sofrer está me matando. — Comprimo os lábios ao sentir uma lágrima surgir. — Matilda, por que não tentamos tudo isso antes? Ah, meu Deus, você não tem ideia do quanto eu te amo. Eu te amo, pirralha, muito mesmo. E queria que você estivesse aqui comigo. — Olho para os tubos. — Saudável, sem essas merdas todas...

Solto um soluço doloroso e não me envergonho em deixar as lágrimas rolarem.

—Eu devia ter dito que te amava antes, devia ter percebido antes. Eu acho que sempre tive sentimentos por você, Mat, porque... o que eu sinto é tão forte. Eu amo você, amo tudo que você faz, até quando me chama de estúpido por todas as burrices que eu faço. — Sorrio fraco. — Quando te vi pela primeira vez, naquele dia quando você defendeu o Bill daqueles idiotas... você ainda tinha o cabelo comprido, ele era castanho escuro e era impressionante como balançava com o vento. — Solto um riso nasalado. — Você estava usando um vestido florido e sandálias prateadas, e eu olhei para seu corpo com fascínio, Matilda, você não tem ideia de como é gostosa. — Analiso o corpo da garota por baixo da coberta do hospital. — Mas o seu rosto... porra, o seu rosto é lindo de morrer. Como alguém pode ter uma boca tão rosada e um nariz tão estupidamente empinado? Um dia você precisa me responder isso. Mas o que me chamou atenção foram seus olhos. São as coisas mais lindas que já vi. São desenhados e brilhantes, e juro por Deus que parecem ter todas as cores. Olhando rapidamente são castanhos, mas quando bate a luz mudam para âmbar, se olharmos bem de perto ao redor da íris é cor de mel, mas quando você olha para o sol, ficam quase verdes. É o meu preferido. — Subo o olhar novamente para seu rosto e me desmancho ao ver seus lindos olhos fechados. — Eu só quero que você volte para mim. Por favor. Eu preciso de você aqui comigo. — Eu me levanto e me aproximo até estar com minha boca encostada em seu ouvido. — Não sei se isso vai chegar até seu cérebro, mas eu preciso que você fique. Apenas fique.

Paro de falar e presto atenção no som contínuo do monitor.

Beep, beep, beep...

Ela não pode me responder. Não sei nem se escutou tudo isso. Mas torço para que tenha me ouvido, e que em seu subconsciente ela esteja dizendo que também me ama.

Suspiro e estico o pescoço para beijar a testa dela.

Quando me viro para ir embora tenho a visão dos pais da minha namorada, parados e me encarando.

Arregalo os olhos.

—O que você está fazendo aqui, garoto? — O Sr. Müller parece assustado com a minha presença.

E mal consigo olhar para trás do ombro do rapaz, porque o olhar apático da mãe de Matilda me assusta.

—Hm... me desculpem por entrar assim, eu bati na porta e não tinha ninguém... eu... precisava falar com ela. — Olho rapidamente por cima do ombro. — Eu já estou saindo, não se...

Eles me interrompem. Com um abraço.

Os dois me abraçam com força.

E logo ambos estão em prantos.

—Estávamos esperando você aparecer, Tom. — A Sra. Müller diz e vejo que ela está sendo mais que sincera com essas palavras.

Ela olha para a filha e engasga com o choro.

—Eu não devia ter saído, devia ter conversado direito com vocês. — Ela diz em um sussurro. — Ela deve pensar que a odeio, ou que não a apoio. Pensar nisso está acabando comigo.

Ela tampa a boca com a mão e deita a cabeça no ombro do marido.

Ele acaricia o cabelo da mulher e apenas observo enquanto tento imaginar o quanto eles devem estar sofrendo. Sei bem como eu estou me sentindo, mas deve ser imensurável a dor com que eles estão tendo que lidar.

—Eu amo a Matilda. — Digo de repente. — Quero que vocês saibam disso.

Eles me olham com os olhos avermelhados.

A mãe da garota abre um sorriso fraco e estica a mão para acariciar meu rosto.

—Nós sabemos, querido. Sempre soubemos. — Ela olha para a menina e volta a olhar para mim. — Assim como eu sempre soube que ela te amava. Sempre amou.

Retribuo o sorriso com toda a energia que posso oferecer.

Isso era tudo o que eu precisava ouvir.

Ter a certeza de que ela me ama é o suficiente para meu coração amolecer.

Ela. Me. Ama.

training wheels - Tom KaulitzWhere stories live. Discover now