Apatia

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Barry enruga o cenho em completo estranhamento e imediato mal humor no instante em que as cortinas são arreganhadas, fazendo com que a luz forte do sol iluminasse todo o quarto. Sentia ter sido tirado abruptamente de um sono muito profundo, enquanto o corpo pesado se revirava na cama e seus olhos lutavam para encarar a mulher, que andava de um lado a outro recolhendo peças de roupas, copos e pratos deixados displicentemente por todos os lados.

- Iris. – Resmungou, colocando o travesseiro sobre a cabeça. – Me deixe dormir.

- Acho que já dormiu o suficiente.

Ela declarou de maneira firme, puxando o travesseiro sem qualquer delicadeza, indignando-o.

- O que está fazendo?!

- Cisco me contou o que aconteceu. – Barry paralisou e a jornalista levantou uma sobrancelha ferina. – Tudo o que aconteceu.

Suspirou de maneira farta, apertando as mãos contra os olhos. Não sabia como Iris poderia reagir ao que acontecera nos últimos tempos, afinal consequentemente os levara ao divórcio, e sequer tinha planos de contar a ela tão cedo, mas só poderia imaginar o que usara para fazer Cisco falar, enquanto ela continuava a encará-lo inquisitiva, felizmente bloqueando com o corpo a luz irritante que invadia o quarto pela janela.

Não tinha qualquer intenção de sair dali tão logo. Após a conversa com Caitlin no Cofre do Tempo, a única coisa que se lembrava era de ter voltado para a casa e se jogado na cama, repassando tudo o que a doutora dissera e todas as informações da Força de Aceleração como em um eco. Ao mesmo tempo em que era como se sentir mais leve, por finalmente conseguir dormir profundamente, sem sonhar, sem contato com a Força de Aceleração, descansando, também soava como um eterno vazio de sua própria mente.

Constatar isso o fizera querer se encolher, pois literalmente só se via conectado ao que fazia parte dos lapsos e ao olhar magoado de Caitlin lhe dando às costas por não conseguir fazer seu próprio corpo se mover em certeza por ela, o que o apertava descomunalmente por dentro. Tudo isso o colocava na inércia daquele quarto, ignorando o mundo e até as ligações, as quais em algum momento simplesmente pararam de insistir naquela vibração irritante.

- Está brava? – Notou sua garganta seca pela falta de uso mesmo no tom baixo enquanto a via expirar e deixar cair os ombros, abaixando um pouco a guarda.

- Um pouco... Sim. Queria que tivesse confiado em mim, para se abrir sobre tudo o que estava acontecendo com você.

Ela foi cruelmente direta, como sempre costumava ser e, por um momento, imaginou como processara tudo inicialmente. Iris não deveria ter reagido nada bem à possibilidade de... Outra mulher em sua cabeça, ainda que ela não fosse exatamente real até certa altura. Exceto que, em certo momento, passara a ser e estivesse próxima o bastante para realmente mexer com ele.

- Eu sinto muito, Iris. – Se forçou a se sentar, apoiando a testa em uma das mãos. – Queria ter conseguido dizer antes. Não só quanto a Caitlin, mas... Sobre tudo. Eu não deveria ter sido tão... Omisso e covarde com o que tínhamos.

Apesar de tudo o que sentia por Caitlin, ainda se sentia totalmente desonesto com Iris e com a promessa do que poderiam ser, já que, no fim das contas, eram exatamente isso - uma promessa. De certa forma, não hesitara em deixar de lado em nome de algo mais abstrato que concreto, que o preenchia por dentro de maneira inigualável.

- Sei que sente muito. Sei como essa cabeça funciona em uma lógica muito peculiar e... – Ela pensou por um instante, meneando a cabeça. – Quando comecei a pensar sobre o que Cisco me contou e o modo como nosso casamento terminou, consegui compreender suas atitudes e foi... Bastante aliviador.

Dark End Of The StreetWhere stories live. Discover now