Fragmento

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Pelo comunicador, ouviu a autorização de Cisco e imediatamente começou a correr. Segundos depois, havia percorrido o mesmo caminho ao redor do Acelerador de Partículas várias vezes, com cuidado para que não ultrapassasse a barreira do tempo.

Agora, sua mente não era mais atormentada por outra realidade nem por sonhos e devaneios que tiravam seu sono e minavam seu controle e capacidade. Sentia a velocidade fluindo por seu corpo, como há semanas não acontecia, praticamente vibrando das pontas dos dedos até os fios de cabelo enquanto cortava o ar, quase se mesclando a ele.

Correr fazia com que tudo ao redor fosse silenciado, como se estivesse num vácuo de espaço-tempo pertencente apenas a ele. Uma forma individualista de encarar os próprios poderes e problemas, sabia, mas também mais... Tranquilizante. Sempre teria a velocidade quando as coisas ficassem rápidas demais ao seu redor.

Como havia acontecido há semanas, quando acharam melhor não se arriscar a correr estando tão instável mentalmente, Barry sentia que perdia sua identidade quando não podia fazê-lo. Sentia que estava o tempo todo procurando o que ser e o que fazer sem o Flash, tão dependente do manto se encontrava. Não sabia quão saudável isso poderia ser, mas era tudo o que possuía naquele momento.

Caitlin voltara para Princeton deixando-o aos cuidados de Carla, sem qualquer outra palavra. Ela já havia dito tudo o que achava necessário para colocá-lo no lugar e, com o passar dos dias, sob a perspectiva do que Iris o dissera, começara a compreendê-la e à sua decisão.

O tempo todo se via tentando não ser egoísta, não jogar com a vida das pessoas que amava em nome de caprichos supérfluos e dores que poderiam ser curadas, mas, enquanto desesperadamente evitava percorrer novamente esse caminho, não conseguira não recair na covardia de deixá-la ir. O que vinha sendo uma droga, como sabia que seria.

- Okay, já temos seus sinais vitais.

A voz de Cisco soou novamente e, num milésimo de segundo, Barry estacou ao lado deles no córtex fazendo com que os cabelos de Carla voassem em reflexo à chegada repentina. Ajeitando a franja, a senhora o olhou de maneira cortante quando deu de ombros e se voltou ao iPad.

- Seus números ainda não são satisfatórios. – Ela declarou enquanto Barry se dirigia à Nora, sentada no chão rodeada de diversos brinquedos coloridos com sons irritantes, vestindo um macacão branco com estampa em flores amarelas. – Mas, pelos meus cálculos, seu corpo e sua mente entrarão em sincronia na próxima semana e logo estará com seu desempenho exatamente como era antes de tudo o que aconteceu.

- Afinal, não há motivo para que a Força de Aceleração mine seus poderes em nome dessa queda de braços. – Cisco completou enquanto Barry pegava a filha, a qual estendia os bracinhos insistentes, completamente atraída pela cor vermelha de seu uniforme. – O futuro é incerto demais para que façam esse tipo de... Aposta, por falta de palavra melhor. Assim como o tecido do tempo delicado demais.

Essa era uma preocupação que Carla e Cisco tiveram logo após voltarem a terem contato com ele. A possibilidade de que a Força de Aceleração podia deixar de existir em Barry, se ele não fizesse sua vontade, fora posta à mesa no instante em que contara tudo a eles. Como bons cientistas que eram, levantaram a hipótese de que a instabilidade dele poderia ser um fator proposital, para que se visse coagido a agir como a Força de Aceleração – agora – abertamente desejava.

Contudo, com o passar dos dias, sentira toda aquela incerteza que os lapsos e sonhos lhe traziam simplesmente o deixando, pois, mais e mais, não se encontrava mais sob o efeito daquela influência. Ainda havia algum tipo de livre arbítrio naquela relação, no fim das contas, se lembrou da afirmação da mulher idêntica à sua mãe.

- A aposta já foi feita. E o Sr. Allen saiu vencedor.

Barry fitou a Doutora, impassível encarando-o sob os óculos, sabendo exatamente a que ela se referia. O preço para ganhar, para não ter a Força de Aceleração jogando com ele e seu destino, como se faz a uma marionete sem vida ou sem sentimentos, era não ter Caitlin. Então, sim, ele ganhara. Porém, as últimas semanas em nada se pareceram com uma vitória. A falta que ela fazia o preenchia por inteiro, assim como o eco dolorido, abarrotado pelo remorso alimentado por ele, mas deixado pelas palavras duras, pela exigência, que não fora capaz de cumprir no momento em que ela precisava.

Dark End Of The StreetWhere stories live. Discover now