Céu vermelho e preto

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De olhos fechados, sentada na sala gélida, ela tentava acalmar seus sentidos, a sensação estranha que percorria seus pulsos, canalizando todo aquele amontoado de dúvidas para o resto do corpo. Seu trabalho necessitava de total e completa atenção, não poderia e não haveria brechas para pensar demais, devagar sobre provocações ou mesmo questionar o inquestionável. Verônica precisava se centrar, mas era notável a quantidade de distrações que haveriam em um lugar tão pequeno em questão de segundos. As mãos tremulavam a medida que ela organizava o documento no programa de computador, tendo que olhar mais de uma vez para saber se estava tudo certo mesmo.

Poderia gritar se tivesse a oportunidade de enfiar a cabeça dentro da água, só para que ninguém a ouvisse, para que não houvesse nenhum mínimo questionamento. Não estava com cabeça para organizar seus pensamentos, nem mesmo sentimentos, como responderia qualquer mísera pergunta sobre seus motivos para estar a beira de um precipício muito alto?

O abrir da porta a fizera sair de suas divagações, organizando bem sua postura a medida que sentia o perfume inebriante que Nyx possuía. A mulher era uma sombra, sempre desaparecendo furtivamente, algo relativamente fácil se você só existe na internet. Ela era bem apessoada, se não a conhecessem bem poderiam dizer que era quase inofensiva, aquele tipo de mulher que talvez tenha uma única multa por excesso de velocidade. Era nisso que Nyx se confiara a vida inteira, sua aparência que não levantava dúvidas, algo extraordinário que ela havia desenvolvido tão bem. Talvez ela tivesse se metido com pessoas erradas na hora errada, ou talvez só havia cometido um erro catastrófico.

Ela caminhava a passos lentos, de maneira quase sinuosa, era misteriosa por si só, nem mesmo precisava se dar ao trabalho de parecer alguma coisa. Guiada pelo policial, Nyx se sentara, cruzando suas pernas como uma rainha faria em seu trono, ela apenas não possuía suditos para lhe apreciarem. Verônica ouvira uma risada baixa, levemente rouca que fizera um frio esquisito correr rápido por sua espinha.

────Não costumo fazer isso... Mas simpatizo com seu amor! Seria péssimo se tudo desse errado não é? Logo agora que você colocou tudo no lugar... Sistema escroto esse, não? ────A mulher suspirara sem direcionar seu olhar nenhuma única vez para trás.

────Por isso saiu do sistema tão cedo, Alessandra? O orfanato deve ter te feito ficar durona ainda adolescente... Mas por algum motivo você decidiu usar o cérebro e não a força, inteligente! ────Pela primeira a mulher que estava ali com as mãos atadas engolira seco, ninguém sabia seu nome verdeiro, tanto não sabiam que ela nem mesmo poderia se lembrar da última vez que alguém lhe chamou daquela forma. ────Nossa casa também tem um hacker... Um muito bom, por sinal. ────Nyx sorrira.

────Nelson é mediano, Verônica e você sabe, do contrário conseguiria proteger melhor o sistema dessa delegacia... Vocês parecem patinhos! ────A porta se abrira por uma segunda vez, revelando a figura de Helena e posteriormente a de Anita, fazendo com que a mulher se tornasse visivelmente inqueita. ────Porque ela está aqui? Isso é um interrogatório de um caso seu, delegada Campos! ────Torres arqueara sua sobrancelha, olhando para trás sem entender absolutamente nada, o que lhe dava ainda mais calafrios.

────Você está presa e quer ter exigências ainda? Essa é nova! ────A voz de Anita ecoara a medida em que ela caminhava, arrastando a cadeira para se sentar. ────Minha presença incomoda, mas xeretar a minha vida pessoal não? Senso deturpado que você tem ein... ────Com uma das mãos ela tomara para si alguns papéis que Campos havia trago para a mesa, observando o nome. ────...Oh Alessandra de Moraes! ────A cadeira estava ao lado da mulher, perto demais até, e assim Berlinger fechara um tanto mais a distância, a fitando. ────O que foi? Não é mais tão corajosa para falar o que quer? Me ameaça também... Eu estou esperando! ────Nyx sorrira, de maneira larga e tranquila.