Capítulo 8

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Benício

A prova de que o Bruno é um moleque foi a atitude dessa noite.

A ligação em que eu estava perdeu todo o sentindo quando vi o Bruno e a Jessica se esgueirando para subir as escadas, eu presumi que eles fossem ter um momento privado em algum lugar do andar de cima, sabendo que minutos antes a Barbara havia tomado o mesmo caminho, eu apenas esperei para ver o que iria acontecer.

Eu poderia ter impedido o flagrante, eu já estava com material suficiente para que a Barbara descobrisse a traição dos dois, no entanto se ela descobrisse naquela noite, se visse com os próprios olhos seria muito mais fácil para que eu conseguisse fechar um acordo com ela.

Esperei pacientemente atrás da escada, quando o casal desceu, saí das sombras para esperar por ela, uma centelha de culpa passou por mim quando a vi destruída, empurrei esse sentimento para o fundo e fiz o que tinha que fazer.

No banco de trás, no reflexo do retrovisor, seus olhos eram como janelas para uma alma que havia perdido parte de sua luz, seus olhos fitavam o nada, enquanto minha irmã a mantinha em seu abraço com a cabeça dela encostada em seu ombro. O brilho que antes dançava em seu olhar agora cedia espaço a uma melancolia profunda, uma tristeza que se refletia nas linhas de seu rosto. A descoberta da traição do namorado com a melhor amiga tinha deixado marcas profundas em sua essência, transformando a luz vibrante que uma vez irradiava dela em uma sombra silenciosa de tristeza.

A culpa, como um intruso indesejado, vagava em meu interior, tentando abrir espaço entre os recantos da minha consciência. Seus passos pesados ecoavam pelos corredores da minha mente, deixando um rastro de insegurança e remorso. Saber que eu tive a chance de evitar que ela descobrisse tudo de forma tão trágica e traumática me enche com um remorso que eu preciso ignorar.

Convenço a minha mente que independente da forma que ela descobriu a traição, o resultado não teria sido diferente, encaro a realidade focando no próximo passo que devo assumir para conseguir o que quero.

— Acha que eles virão atrás de você quando perceberem que sumiu? — Lara quebra o silêncio que nos esmagava dentro do carro.

— Eles devem estar ocupados demais para notar. — Barbara fala com um fio de voz, enviando uma descarga estranha em meu peito.

— Você pode passar uns dias na minha casa, — Lara me olha pelo retrovisor e concordo com um aceno, — o vovô não vai se importar, caso eles entrem em contato você diz que precisamos ensaiar para o balé. O que acha disso?

— Por hora vai servir.

— Você não tem que decidir nada agora, pense um pouco por alguns dias e o que você resolver iremos apoiar. — Falo para que ela sinta que tem apoio e que venha até mim quando estiver pronta. Mesmo que as chances sejam mínimas, eu preciso garantir que ela não vai se fechar ou decidir tudo sozinha.

Estou em um momento crítico, onde as emoções dela estão descontroladas, uma palavra e todo o meu plano vai ruir. Posso estar sendo o maior filho da puta por me aproveitar do seu momento de fraqueza, mas é nesse momento que ambos vamos conseguir o que queremos.

Estaciono na entrada da casa, Lara sai do carro e eu também, no entanto a Barbara parece paralisada.

— Eu não consigo sair. — Ela diz sem força na voz.

— Se você permitir posso te levar para o quarto. — Espero pelo seu consentimento e a tiro do carro, carregando seu corpo frágil em meus braços.

A proximidade de nossos corpos envia descargas elétricas pela minha pele, quase não estamos nos tocando fora dos tecidos que nos cobrem, ainda sim minha pele queima com a sua proximidade.

Lara sai na frente com passos apresados, ao chegar no primeiro andar vai direto para o seu quarto, deposito o corpo frágil da Barbara na colcha branca e ela se aninha com um travesseiro.

Lara me acompanha até a aporta do quarto.

— Você pode pedir para fazerem uma sopa para nós, vou tentar fazê-la comer algo. — Lara fala baixo.

— Vou providenciar, — seguro no braço dela antes que ela volte para junto da Barbara, — me mantenha informado sobre qualquer decisão que ela tomar, — ela me olha intrigada, mas concorda.

Fecho a porta ao sair e desço as escadas com uma sensação de que em breve muita coisa irá mudar.

****

Estou dando uma volta no jardim com o vovô, meus pensamentos sempre voltam para a imagem dela desolada e seu olhar sem brilho, por um momento sinto vontade de voltar para aquela festa e socar a cara do Bruno, deixá-lo desfigurado e ver de perto os seus olhos perderem a cor, assim como ele fez com ela.

— Não perca tempo Benício, ache um jeito de fazê-la aceitar o acordo, — meu avô fala e volto para o foco da nossa conversa — ela descobriu antes que pudéssemos avisá-la, então não podemos perder tempo.

— Dessa vez teremos sucesso, ela vai se tornar minha esposa e assim teremos a fusão das empresas.

— Estou pensando em ir passar uns dias em Petrópolis, ela pode ficar mais confortável sem a minha presença nesse momento.

— O senhor pode ter razão.

— Se possível você deveria vir passar uns dias aqui, se aproxime dela, mostre que ela pode confiar em você.

Paramos nossa caminhada, e enquanto permaneço na penumbra, observando a janela do quarto de Lara, um aperto no peito se instala, mas reprimo a sensação. A conquista da confiança da Barbara é vital para o sucesso do meu plano. Não será pior do que o que Bruno fez, afinal, minhas intenções são claras, definir as expectativas para retomar o casamento que deveria ter acontecido antes da intromissão do Bruno.

Não posso deixar que as emoções me desviem do caminho traçado meticulosamente. Bruno pode ter cometido erros, mas eu sou diferente. Minhas ações são justificadas, meu propósito é claro. Não posso esquecer que assim cumprirei o desejo do senhor Duarte, cuidar e proteger a sua neta, dando continuidade à empresa que foi sua vida por tantos anos.

— Talvez seja bom ficar aqui por uns dias. — Concordo com o vovô.

— O contrato já está feito? — retomamos a caminhada.

— Estarei com ele pronto amanhã.

— Ótimo.

Abro a porta para que ele entre na casa, o guiando até a escada que o levará ao seu quarto, observo ele subir os degraus e relembro que horas atrás estava fazendo o mesmo percurso com a Barbara em meus braços.   

Um Acordo de Vingança com o CEOWhere stories live. Discover now