Capítulo 3

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Aron

Os portões do castelo se estilhaçam sob minha força, fragmentos de madeira e ferro se espalham como folhas ao vento. O rei, em sua arrogância, acreditou que palavras em um pergaminho poderiam aplacar minha fúria, dizendo que ele estava devolvendo as terras que usará durante mais de 10 anos. Sua tentativa patética não fez nada além de atiçar as chamas da minha ira, ele pensou que esse ato me impediria de vir buscar o que é meu essa noite, mas só impulsionou-me a reivindicar o que me foi prometido. Aurora, a princesa que, por capricho do destino, tornar-se-á minha rainha nesta noite fatídica.

Lhe enviei até um presente especial, e eu sei que assim que o rei o viu, soube que seu grande plano havia dado errado.

Caminho devagar, sendo guiado pelo odor  do rei, paro diante das portas maciças do salão principal, dois soldados se posicionam em minha frente, suas mãos trêmulas nas espadas, como se o aço frio pudesse protegê-los. Um sorriso cruel desenha-se em meus lábios, e meus olhos, espelhos da tempestade que ruge dentro de mim, da mesma forma que os ventos sopram o ar e os trovões e raios cortam o céu, cintilam com um brilho feroz.

— Saiam da frente. — Ordeno e minha voz ressoa um eco de raiva.

— O...o senhor não pode entrar. — A voz de um deles é um sussurro, traída pelo medo que o consome. Enquanto aperta o cabo da espada.

— Que pena. — A ironia em minha resposta é tão cortante quanto a lâmina que ele segura.

Um sopro basta. O fogo, servo da minha vontade, irrompe de minha garganta e envolve os soldados em um abraço mortal. Os gritos soam altos, perfurando o silencio, em uma sinfonia grotesca que se eleva junto ao odor pungente da carne consumida pelas chama.

Empurro as portas que cedem, e os corpos caem, reduzidos a cinzas, enquanto adentro o salão sob o olhar aterrorizado do rei.

Caminho em sua direção, um passo por vez, o som das minhas unhas contra o mármore polido do castelo reverbera como um prenúncio de ruína. Os convidados recuam, um mar de rostos pálidos e olhos arregalados, abrindo caminho conforme me aproximo.

O rei se levanta do trono de madeira, mantendo a cabeça erguida. Paro diante da sua presença e como um bom convidado, me inclino levemente, ser tirar meus olhos dos dele.

— Dragão. — Ele pronuncia ainda relutante.

— Eu, vim reivindicar seu tesouro mais precioso, rei de Parteam. — Digo com prazer na voz, enquanto vejo a feição do rei de pavor.

— O pergaminho... — Ele ameaça falar, porém eu levanto meu dedo pedindo silêncio.

— Você pensa mesmo, que devolvendo as terras que você é seu povo usaram, feito formigas. Cavando e remexendo, por mais de 10 anos, me faria desistir do que foi me dado em troca? — Pergunto agora com raiva.

— Não posso entregar minha filha, para um destino tão cruel. — Fala em mágoa e eu sorrio.

— O mundo é feito de escolhas rei. E você já escolheu. Não tem como voltar nas decisões tomadas, apenas aceitar e seguir em frente. — Digo repuxando o lábio.

— MEU REI. — Um soldado chama, e nos viramos em direção ao chamado, vendo o soldado carregando o corpo de uma mulher desfalecida e eu abro os lábios, sorrindo mostrando os dentes. — Eu não sei o que aconteceu, ela desmaiou e não acorda.

O rei corre até a filha, enquanto eu caminho em passos lentos, arrastando as pontas das minhas asas no mármore. O cordão de dragão está em seu pescoço, e seu dedo sangra visivelmente. Escuto sua respiração baixa, quase nula, enquanto seus lábios se tornam roxos e sua pele pálida.

— O que você fez? — O rei pergunta em desespero, ao ver o colar. — Você a matou? — Se vira para mim e eu nego devagar com a cabeça.

— A morte rápida, não paga suas dividas rei.

— Então o que fez a ela?

— Eu a enfeiticei. Ela está em um sono profundo, e apenas eu posso acorda-la. Ela vai dormir, até definhar, dia após dias, ano após anos, séculos após séculos. Pois sim, ela vai durar séculos nesse estado, e vai morrer devagar. você vai ver sua filha virar apenas uma poeira de ossos na cama, enquanto seu corpo ainda vive e ela sofre. — Digo com prazer.

O rei segura a mão da filha, nesse momento vejo a lágrima escorrer de seu rosto, porem não sinto pena, na verdade, sinto satisfação.

— Pode a levar Dragão. Não posso viver sabendo que minha filha vai sofrer por séculos. Apenas peço que seja gentil, Aurora é uma boa menina e... — o corto.

— A partir de agora você não tem mais nenhuma ligação com ela. Nem você, nem seu reino, nada. Se colocarem os pés na minha caverna em busca de a tirar de mim, não negarei meu fogo de queimar cada um de vocês.

Digo e a pego dos braços do soldado, olhando pela primeira vez seu rosto que transmite paz e delicadeza.

— Podem usar as terras rei, afinal esse foi o acordo. — Falo me virando.

Caminho em direção a saída, e quando atravesso os portões despedaçados, deixo a fera que mora em meu corpo, tomar o controle, me tornando o tão imponente e poderoso dragão. Segurando a princesa que agora será a minha rainha, melhor a minha escrava em minhas garras, bato minhas asas de volta para a caverna.
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Não demoro muito no trajeto pelo ar, e logo chego em casa, destranformo em meio a um véu de fumaça e com a ajuda de minhas asas visto novamente minha calça, de forma tão rápida, que o simples olhar humano não consegue ver. Levo-a em meus braços, até minha cama, um pedaço de pedra fria, esculpida direto do chão, feito por minhas garras e meu fogo, a colocando no centro.

Passo minha cauda com cuidado sobre o seu corpo, explorando o que será meu. Eu havia prometido a mim mesmo que não tomaria uma mulher como esposa, que a minha linhagem tinha de acabar em mim, porém quando o rei de Parteam me fez aquele pedido, uma parte minha, queria que ele soubesse que sua filha estaria me servindo, que seu sangue e sua linhagem deveria a mim como nos antepassados, e vivesse com esse sentimento, sabendo que o Dragão desposaria a sua filha.

Passo o dedo na boca de Aurora, desenhando os contorno, me abaixo seguro em seu dedo machucado pelo medalhão, logo passando minha língua e sugando o sangue de gosto metálico, deixando a minha saliva entrar em contato com a sua pele. Subo para as paredes e me escondo nas sombras, esperando pelo momento que meu que ela acorde do mundo de vazio e escuridão que ela está.

Enfeitiçada pelo DragãoWhere stories live. Discover now