Infernos Particulares - Hyunjin e Jisung

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    Tudo desabou.

    O cenário da sala do colégio não estava mais ali e o clima hediondo e aterrorizante, sumiu. Foi como se tudo isso virasse ao contrário. Ou se esvaísse completamente.

    Sentiu uma energia, uma sensação vinda desse novo lugar que a carta o trouxe, que nunca havia sentido antes. Algo estranhamente solaz, agradável. Se tratava de uma casa, sabia apenas disso. Nunca havia estado ali, mas de alguma forma que era incapaz de explicar, sentia que pertencia àquele lugar. Como se fosse a peça faltando de um quebra cabeça.

    Ouviu um barulho, um choro de voz feminina. Vinha de uma mulher desabada na frente de uma cama, pequena demais para pertencer à ela. Seu tremor frenético combinava com sua feição amedrontada e se não estivesse se mexendo, poderia facilmente ser confundida como uma boneca de porcelana. Mesmo chorando, era linda.

    Tinha longo cabelo castanho claro, por pouco não atingindo o loiro e caíam em cascatas sobre seus ombros, harmonioso com seu tom de pele. Sua boca era bem preenchida e desenhada, e os olhos levemente amarelados remetiam às folhas de outono. Suas feições eram delicadas e encantadoras, capazes de chamar atenção de qualquer um.

    "Mas o que está acontecendo?" — Questionou. Tentou buscar em sua mente o momento que viveu aquele cenário, mas falhou miseravelmente.

    Outra presença se manifestou ali, um homem. Tinha o mesmo nível de beleza que o da mulher, mesmo seus traços sendo diferenciados dos dela. Sua pele era bronzeada, seu cabelo também de tonalidade marrom, porém mais escuro. A semelhança mais próxima que tinha da garota era seus olhos, também castanhos amarelados, como mel. Parecia preocupado, triste tanto quanto a moça.

    Ele foi até ela, cuja o abraçou fortemente. A mesma murmurava coisas, mas não conseguia entender o quê. Ainda mais por suas palavras saírem atropeladas pela falta de fôlego e o abafamento, já que estava com o rosto enterrado no peitoral do mais alto que afagou seus cabelos, tentando tranquilizá-la. Algo inútil, já que nem ele se encontrava calmo.

— Por que? Por que ele? Por que ela o tirou de nós? — Conseguiu ouvi-la pronunciar, horrorizada. Ele levantou a sobrancelha confuso, ainda não tinha compreendido nada daquela situação. Até ela prosseguir. — Ela levou o nosso bebê… o meu… o meu Hyun!

    Agora tudo fez sentido. Aquela cama era pequena demais porque era a sua cama. Aquele era o seu quarto. Seu lar.

    Aqueles dois sujeitos eram ninguém menos que seus pais. Sua família.

    Pais completamente desesperados por terem perdido seu amado filho.

    Deveria sentir vontade de correr dali, ir em disparada na direção do casal. Abraça-los. Dizer que não está morto. Que estava bem, ou o mais perto disso. Mas não sentiu nada.

    Mas por mais que quisesse, não conseguia mover um músculo. Foi como se plantas surgissem do chão e agarrassem seus tornozelos, o mantendo ali. Mas uma percepção esmagante caiu em queda livre sobre sua psique.

    Eles o amavam. O amavam incondicionalmente e isso estava nítido nos olhos do casal, Hyunjin significava absolutamente tudo para eles e estavam mais do que prontos para dar todo o amor que podiam para ele. Estavam só no início dessa jornada, mas não puderam continuar. Jamais teve a chance de receber  esse amor ilimitado. Chegou a receber uma parcela dele no seu primeiro ano de vida, mas nem possuía lembranças dessa época. Ele podia apenas imaginar como teria sido continuar sendo apenas um simples humano.

    O cenário mudou novamente. Agora, estava em uma floresta.

    O silêncio extremo só não dominava completamente ali graças ao som de passos, esmagando a grama e as folhas. Vinha de outra mulher, com os dedos da mão direita entrelaçados firmemente em uma cesta grande o suficiente para abrigar tranquilamente um bebê.

Rosa Azul - HyunSungWhere stories live. Discover now