Chert

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Desde a noite do sumiço de Kenta, Charlie desconfia do pai. Ele tem ouvido algumas conversas estranhas entre as equipes de corrida.  Um dos corredores dos Giong tem deixado escapar uma história de que Tony está envolvido em uma transação  de contrabando e lavagem de dinheiro. Não é a primeira vez que conversas assim se tornam públicas,  mas elas geralmente nascem nos meios de imprensa e depois caem a boca do povo. 

Seu problema com isso é a total falta de interesse do pai enfrentar judicialmente os Giong na Justiça. Tony sempre diz que não há evidências válidas para justificar uma investigação internacional e que gente poderosa tem dado cobertura para os crimes dos rivais e isso inviabiliza uma investigação limpa e justa. Agora, com as novas suspeitas, Charlie teme descobrir  as verdadeiras razões do pai. 

Geralmente processos e provas concretas acabam com os rumores,  mas, nesse caso, não há como calar o povo. Qualquer inverdade na boca dessa gente vira fato e com testemunhas. Charlie não acredita nisso, mas sente que o pai está escondendo algo dele. Foi com uma desconfiança dessas que ele descobriu a verdade sobre si mesmo e por isso confia em sua mente, afinal, desconfiar tem sido a maneira de permanecer vivo. Desde cedo ele aprendeu que o excesso de confiança prepara o solo da imprudência e faz florescer a estupidez. 

A primeira vez que desconfiou do pai descobriu sua própria origem.

Diferente de Kenta, ele simplesmente esqueceu  o que viveu na fazenda. Sua única lembrança era o menino desconhecido que perturbava seu sonhos. Fora isso, tudo o que lembrava de sua infância era de viver feliz com o pai, o avô e o tio Allan.
Isso continuou por muito tempo. Mas um dia ele sentiu o pai estranho e começou segui-lo pela casa. A princípio sendo notado por Tony,  que, por brincadeira, passou a avisar que o via. Chert corria e se escondia, mas Allan o ajudou:
-    Sobrinho lindo, você precisa suavizar sua respiração e tornar seus passos surdos.

Dias e dias de treinamento não o separaram do pai. Ele o seguiu incansavelmente. Até que se tornou quase indetectável. A princípio Tony observava as tentativas do filho e ria feliz de suas conquistas, mas aos poucos o menino se especializou e a nova habilidade tornou-se parte dele fazendo com que Tony deixasse de observar sua proximidade.

Algum tempo depois,  Charlie descobriu que seu nome não era esse.
Sua revolta foi imediata. Para ele, um adolescente ainda, o pai tinha limpado sua memória de propósito.
Por meses ele manteve distância do homem que o criou. Até que em uma de suas brincadeiras com Kenta, em um momento de empatia os seus pensamentos foram cercados por algo opressor e ele soube, mesmo sem saber ler a mente do outro que aquela  dor era por ter lhe ferido. Ele absorveu toda  a culpa do irmão e sentiu um misto de cuidado e de amor. Soube que Kenta tinha feito aquilo para protegê-lo. Mas as perguntas que surgiram o consumia. Precisava da verdade e a exigiu. E, infelizmente, foi a verdade que recebeu do pai e do irmão. Uma verdade avassaladora. Uma verdade que o irmão tinha guardado dele no mais profundo de sua alma. 

 

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Inevitável #KentaKimWhere stories live. Discover now