Capítulo 1

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O sol da manhã banhava o hospital Berhayat. No centro cirúrgico, Ferman Eryiğit, renomado cirurgião pediátrico, preparava-se para mais uma complexa operação. Sua mente, afiada como um bisturi, estava focada na tarefa que tinha pela frente. A vida de uma criança dependia de sua experiência.

De repente, a porta se abre com estrondo. Ali Vefa, um jovem residente de cirurgia com autismo, irrompe na sala, seus olhos brilhando com entusiasmo.

— Doutor Ferman, doutor Ferman! Eu descobri uma nova técnica para a anastomose! É revolucionária, reduzirá o tempo de cirurgia pela metade!

Ferman franziu a testa. A interrupção o irritou.

— Ali, por que você está aqui? Não sabe que estou ocupado? E essa sua mania de falar alto, tenha mais compostura! — Ele repreendeu, com a voz gélida.

Ali, confuso e magoado, baixou a cabeça.

— Mas doutor Ferman, a técnica...

— Chega, Ali! Vá embora e me deixe trabalhar! — Ferman cortou, impaciente.

Ali se retirou da sala, cabisbaixo. As palavras de Ferman ecoavam em sua mente, ferindo-o profundamente. Ele tanto desejava ser reconhecido por sua inteligência e talento, mas Ferman o via apenas como um incômodo.

O jovem autista estava muito nervoso com o que havia acabado de acontecer, não entendia porque Doutor Ferman o tratava daquela maneira, mesmo que ele provasse ser um médico excelente.

[...]

Ali agora estava sentado no sofá da sala de descanso dos médicos quando a porta se abriu se supetão e por ela passou Doutor Fernan que com seus olhos azuis transmitiam raiva por aquele menino naquele momento. O jovem apenas olhou para e com a sua inocência não percebeu nada.

— Doutor Fernan... — Ali tentou falar, mas Fernan o cortou novamente naquele dia.

— Ali, cala a boca. Eu já cansei se dizer que não quero que faça mais aquilo. — Ele disse se aproximando ainda mais do jovem que continuava sentado no sofá, e dessa vez apertava as mãos em um sinal claro de nervosismo.

— Mas...

Ali é interrompido novamente quando o doutor bateu com as mãos em cima da mesa, sua pupila estava quase dilatada.

— Ali eu já cansei de ser babá de você. — Ele fala. — Eu já disse várias vezes e irei repetir novamente, você nunca será um médico... Coloque isso na sua cabeça e repita comigo agora... EU NUNCA SEREI UM CIRURGIÃO.... Vamos ALI, Repita.

As palavras de Ferman atingiram Ali como um soco no estômago. A dor era lancinante, um aperto em seu coração que o deixava sem ar. Lágrimas brotaram em seus olhos, mas ele as conteve com força. Não queria dar a Ferman a satisfação de vê-lo fraco.

— VAMOS ALI, repita agora o que acabei de falar... EU NUNCA SEREI UM CIRURGIÃO.

Foi nesse momento que a porta da sala de descanso abriu novamente e por ela passou Nazli, Beliz, Açelya, Demir e Doruk todos bem confusos com o que estava acontecendo ali.

— Ferman o que está acontecendo aqui? — Beliz questiona o motivo do namorado estar tão nervoso.

Nazli era uma das melhores amigas dele, então se aproximou de Ali e questiona.

— Ali, o que aconteceu? Por que Doutor Fernan está tão nervoso desse jeito?

Ali estava ficando cansado de todas aquelas vozes em sua cabeça perguntando as mesmas coisas e Fernan continuava gritando com o garoto.

— SAIAM TODOS AQUI. — Gritou Ferman novamente. — ALI, repita agora.... EU NUNCA SEREI UM CIRURGIÃO... EU NÃO PERTENÇO A ESSE LUGAR.

Aquela última frase trouxe lembranças que Ali tentava em vão esquecer, quando era um garoto inocente e nem todos compreendiam, não que hoje em dia fosse diferente.

— Diga agora ALI. — A voz de Ferman o tirou das lembranças ruins.

Com a voz embargada, Ali repetiu as palavras cruéis:

— Eu... nunca serei um cirurgião... EU NÃO PERTENÇO A ESSE LUGAR. — Ele diz sem olhar em direção ao doutor com seus olhos arregalados sem desgrudar suas mãos, esfregando-as umas nas outras.

Ferman deu um sorriso cruel, seus olhos gélidos transmitindo desdém, mesmo que por dentro seu coração estivesse mil pedaços por tratar aquele menino daquela maneira, mas ele era assim... Um homem frio e sem coração... pelo menos era o que ele achava.

— Ótimo. Agora volte ao seu trabalho e me deixe em paz.

Ali se levantou, cambaleando. As palavras de Ferman ainda ecoavam em sua mente, martelando sua autoestima. Como ele poderia ser um médico se o próprio chefe não acreditava nele?

Ele abriu a porta da sala de descanso dos médicos, ele podia sentir as mãos de Nazli tentando o segurar, mas ele não aguentava aquilo, então apenas retirou as mãos dela de cima dele e disse.

— Me solta, Nazli.

Após isso, Ali saiu correndo e se trancou na primeira porta que havia visto.

Ele podia ouvir as pessoas batendo na porta, mas a única coisa que ele conseguia fazer era tapar os seus ouvidos, desejando que todas as vozes se calassem. Como não surte efeito, ele se senta no chão e começa a bater a cabeça na parede em uma crise, sem conseguir respirar direito, ele pega o bisturi de brinquedo que havia dentro do seu jaleco, um presente dado pelo seu irmão quando os dois eram crianças e Ali guardava até hoje.

— Irmão, porque ninguém acredita em mim. Como eu queria estar junto de você, tudo seria tão mais fácil. — Ali diz suspirando.

Até que de repente a porta de escancara violentamente,  revelando Nazli, Beliz, Demir, Açelya e Doruk, perplexos com a cena que se desenrola diante de seus olhos. Ali, encolhido no chão, chora copiosamente enquanto bate a cabeça na parede, havia sangue escorrendo de um ferimento. Seus soluços ecoam pelo cômodo, carregados de dor e frustração. Nazli, com o coração apertado, corre até ele e se ajoelha ao seu lado.

— Ali, por favor, pare! O que está acontecendo? — Ela implora, segurando suas mãos com ternura, dessa vez ele não retirou as mãos da moça da dele.

Ali, com a voz embargada e o rosto banhado em lágrimas, tenta explicar:

— Ele disse... ele disse que eu nunca serei um médico... que eu não pertenço aqui...

Nazli, com os olhos marejados, o abraça com força.

— Não escute o que ele disse, Ali. Você é um médico brilhante, e todos sabemos disso. Você tem um dom, Ali, e ninguém pode tirar isso de você.

As palavras de Nazli acalmam Ali, mas a dor ainda persiste em seu coração. Ele se afasta dela, limpando as lágrimas com as costas da mão.

— Nazli eu já me acostumei ao ouvir essas coisas. — Ele disse e continuou tentando bater com a cabeça na parede, mas sua amiga foi mais rápida e colocou as mãos sobre o ferimento.

— Claro que não, Ali. Você não deve se acostumar. — A moça fala. — Você é incrível, e é um dos melhores médicos que temos aqui. Não sei porque Fernan disse todas aquelas coisas para você, ele nunca te tratou dessa forma. Achei que vocês houvessem se tornado amigos.

Aquilo que Nazli havia dito era realmente verdade, Ali tinha em Fernan um irmão e estava sem entender o motivo da raiva dele, havia provavelmente acontecido algo muito sério e ele iria descobrir o que havia acontecido.

O coração de Ali apertou ainda mais ao ouvir as palavras de Nazli. A dor da rejeição de Ferman era profunda, mas a compaixão e o apoio de sua amiga lhe davam força. As lágrimas voltaram a escorrer pelo seu rosto, mas dessa vez, eram lágrimas de esperança.

Nazli o puxou para um abraço apertado, mesmo que para ele ainda fosse estranho abraçar alguém assim. As únicas pessoas que podiam encostar nele eram Nazli, Doutor Adil, mas ele não poderia pensar naquilo, teria que descobrir o que havia acontecido com doutor Ferman.

Ali e Ferman: Uma Jornada Inesperada (ferAli)Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz