Ali e Ferman: Uma Jornada Inesperada (ferAli)

Capítulo 4

LÁGRIMAS BROTARAM NOS OLHOS DE FERMAN, TURVANDO SUA VISÃO. AS PALAVRAS EMOCIONADAS DE FATOS AINDA ECOAVAM EM SEUS OUVIDOS:

— Eu sei, irmão — disse ela, a voz trêmula. — Mas sinto tanto a sua falta.

Ferman se aproximou da irmã e beijou sua testa. Uma das cuidadoras logo a levou para o quarto, pois já estava na hora de dormir.

Ferman olhava o horizonte pela janela, a dor da perda pesando em seu coração. Sua irmã havia ido dormir e a saudade era profunda. Mas ele sabia que precisava ser forte por Fatos.

— Eu também sinto sua falta, minha irmã — murmurou ele, as palavras carregadas de angústia.

Ali se aproximou, seus dedos se torcendo em um movimento repetitivo. Ele não sabia que Ferman tinha uma irmã.

— Doutor Ferman, eu não sabia que você tinha uma irmã — disse ele, timidamente.

— Ninguém sabe — respondeu Ferman, a voz ainda carregada de tristeza.

Ali arregalou os olhos, surpreso.

— Nem mesmo a senhora Beliz? Ela é sua namorada, não é?

Ferman hesitou. Deveria revelar seu segredo? Mas algo no olhar de Ali, uma mistura de compreensão e inocência, o incentivou a falar.

— Não, nem mesmo ela. É uma história longa e complicada.

Ali, com seus dedos entrelaçados em um movimento constante, observava Ferman contando a história de sua irmã Fatos. A voz de Ferman estava carregada de emoção enquanto ele descrevia o dia que mudou sua vida para sempre.

— Estávamos voltando da escola — começou Ferman, a voz embargada pela lembrança. — Eu estava distraído, pensando em coisas que nem me lembro mais, e Fatos me perguntou se poderíamos comprar balões de um vendedor que estava na rua.

Ferman parou por um momento, engolindo em seco. A dor da lembrança ainda era vívida, mesmo depois de tantos anos.

— Eu pedi para ela esperar um pouco, mas ela não quis. Correu em direção ao homem sem olhar para os lados e... foi atropelada.

As lágrimas surgiram nos olhos de Ferman enquanto ele descrevia a cena do acidente. O som da colisão, o grito de Fatos, a correria das pessoas, tudo se misturava em um turbilhão de dor e desespero.

— Ela teve que ser levada para o hospital, e os médicos a diagnosticaram com paralisia cerebral por ficar muito tempo sem oxigênio. A vida dela mudou completamente e a minha também.

Ferman olhou para Ali, seus olhos carregados de tristeza. As palavras sobre sua irmã Fatos ainda ecoavam em sua mente, pesando em seu coração como um fardo. A lembrança da tragédia que os atingiu era vívida, e as lágrimas insistiam em cair.

— É por isso que eu disse que você e ela são parecidos — disse ele. — Ambos enfrentam desafios que a maioria das pessoas não tem. Ambos são fortes e resilientes. — Ferman enxugou as lágrimas com a manga da camisa. — Por isso que no começo não queria que você fosse médico no hospital. Não porque não te achava competente, mas porque eu via minha irmã em você, mesmo que ela não fosse autista.

Ali ficou em silêncio, absorvendo as palavras de Ferman. Ele nunca havia visto seu mentor tão vulnerável antes.

— Agora faz sentido a maneira como você me tratou mais cedo — disse ele.

— Sim, por isso tenho que te pedir desculpas novamente por dizer aquelas coisas e afirmar que você será um cirurgião. Você pertence a este lugar — disse Ferman, com os olhos cheios de lágrimas, sentindo-se mal por se lembrar de tudo.

Ali torcia os dedos, nervoso. As palavras de Ferman ainda ecoavam em seus ouvidos, revelando um lado do mentor que ele nunca havia visto antes: humano. Ele tomou uma decisão inesperada, impulsionado pelo desejo de superar suas próprias limitações.

Aproximando-se de Ferman, ele o envolveu em um abraço apertado. Surpreso, Ferman retribuiu o abraço caloroso, seus braços se enlaçando em um gesto de profunda conexão. As lágrimas que antes insistiam em cair agora brotavam livremente pelo seu rosto, sem conseguir controlar.

Ali, por sua vez, nunca havia abraçado ninguém com tanta força desde a morte do seu irmão, nem mesmo Adil e Nazli. Ele estava fazendo algo que Ferman nunca pensou que o jovem conseguiria fazer.

Os olhos do jovem autista estavam fixos em um ponto no chão, balançando levemente o corpo de um lado para o outro, ele murmurava palavras inaudíveis em voz baixa. Naquele momento, ele sentia que era a única maneira de transmitir a Ferman o conforto e a compaixão que transbordavam de seu coração, um mar de ternura que o inundava.

Nesse abraço, duas almas se conectaram em um nível mais profundo, transcendendo palavras e barreiras. A partir daquele momento, algo entre eles mudou para sempre, o abraço selou um novo capítulo em sua relação, marcado pela compreensão e pela empatia.

Enquanto observava a cena de longe, um sorriso se formou no rosto de Beliz. Ela compreendia finalmente o segredo de Ferman. Uma onda de culpa a dominou por desconfiar dele sem motivos. Apesar da incerteza sobre seus sentimentos por Ferman, ela tinha certeza de que não o amava mais como antes. O que restava era apenas uma amizade.

Seu coração agora pertencia a Tanju, o médico com quem trabalhava. Mas o dilema era como terminar com Ferman sem ferir seus sentimentos. Beliz, porém, estava aliviada por finalmente conhecer a verdade, mesmo que não tivesse vindo diretamente do seu namorado. A presença de Ali com Ferman naquele momento a confortava.

Logo após refletir sobre isso, ela foi embora.

[...]

O abraço durou por minutos, um calor aconchegante que transmitia a compaixão de Ali. Ao se separarem, os olhos de ambos brilhavam com um brilho úmido.

— Obrigado, Ali — disse Ferman, a voz embargada. — Você me fez sentir melhor.

Um sorriso tímido surgiu no rosto de Ali, um sorriso que Ferman nunca havia visto antes. Era um sorriso que mostrava que, apesar de suas diferenças, o menino conseguia compreender a dor e a tristeza do outro.

Naquele momento, Ferman e Ali se conectaram de uma forma profunda e jamais sentida antes. O segredo de Ferman, que por tanto tempo o atormentou, agora era compartilhado com alguém que o compreendia. E Ali, por sua vez, havia aprendido que podia demonstrar afeto e compaixão, mesmo sendo autista.