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O padre Antônio, um sujeito de sessenta e poucos anos e uma vasta cabeleira grisalha, saiu de uma porta na lateral do altar e atravessou a nave da igreja com uma agilidade impressionante para alguém da sua idade. Seu olhar severo esteve preso em meu rosto durante todo o trajeto. Ao nos alcançar, porém, ele se voltou para Adrien e sorriu.

— Meu caro senhor Agreste, que bom vê-lo! — exclamou o sacerdote.

— Padre Antônio — Adrien fez uma mesura elegante. — Como tem passado?

— Muito bem, com a graça de Nosso Senhor. Espero que todos em sua casa estejam gozando de boa saúde. — Então, ele me encarou com aqueles acusadores olhos enrugados e apenas disse: — Senhorita Marinette.

— E aí, padre Antônio? — Meio sem jeito, tentei fazer uma reverência, mas era difícil conseguir tal proeza usando aquele vestido bufante (ainda que eu não usasse a crinolina), e os sapatos estúpidos e desconfortáveis me faziam oscilar. Acabei apenas inclinando levemente a cabeça, para evitar constrangimentos.

— Não tive a oportunidade de revê-la quando visitei a propriedade do senhor Agreste ontem. A senhorita Tikki havia levado a noiva à modista. Uma pena. Gostaria de ter conversado em particular com a senhorita. Parece que terei uma nova chance — ele sorriu com malícia. — Soube de seu acidente ontem. Espero que não tenha se ferido gravemente.

— Só um pouco, no braço — mostrei a atadura a ele.

— Padre — chamou Adrien com sua voz grave —, o senhor tem tempo para mim agora?

Isso fez o rosto do sacerdote se iluminar.

— Certamente, meu caro. Apenas me dê um minuto para me preparar.

— Claro.

Ele fez um aceno de cabeça para Adrien e se dirigiu para os fundos da igrejinha, nos deixando a sós.

Fiquei na ponta dos pés para alcançar a orelha do meu noivo e sussurrei:

— Por que você precisa se confessar?

— Vamos nos casar amanhã, Marinette.

— E...?

Ele suspirou, mas sorriu.

— Não vou me sentir digno de recebê-la, senhorita, se não fizer isso. — Ele deve ter percebido o pânico que crescia descontrolado em meu corpo, pois emendou: — Não precisa fazer nada que não queira ou que a deixe desconfortável. Nada, compreende? — Eu só balancei a cabeça, concordando como de costume. — Mas quero que entenda que para mim é importante ter essa conversa com o padre Antônio. Preciso me sentir digno de você.

— Mas você já é!

Ele sorriu de leve, acariciando minha bochecha com as costas da mão.

— Aos seus olhos, meu amor — Adrien murmurou. — Como eu disse, não precisa fazer nada que não queira.

Uma pena que o padre não concorde com Adrien, pensei.

— Sabe, eu preferia me casar no quintal da sua casa. — E nem precisa de um padre, eu quis acrescentar.

— Nossa casa — ele corrigiu. — Foi aqui que meus pais se casaram, Marinette. Gosto da ideia de unirmos nossa vida na mesma capela onde eles fizeram os votos deles.

Sem dizer nada, nem ao menos nos dirigir um olhar, o padre voltou com uma daquelas estolas no pescoço, concentrado, as mãos cruzadas sobre a pança. Então ele entrou na casinha. Adrien beijou minha mão, fez uma mesura — e meu coração reagiu de imediato. Adrien me fazia sentir tão especial quando se curvava daquela maneira, me olhando nos olhos! Ele teria se dirigido ao confessionário se eu não o tivesse impedido.

Encontrada (versão Miraculous)Hikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin