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Querida Alya,

Preciso dormir. Eu amo a minha filha, a Emma é tudo para mim, não me entenda mal. Eu só gostaria que ela dormisse de vez em quando. Ela é meio boêmia, segundo o dr. Kutzberg. Adrien adora brincar com ela de madrugada, mas até ele está exausto. Emma já tem quatro meses, não devia adormecer um pouquinho vez ou outra?

Ah, e a Bic que dei a Adrien acabou. Escrevi tantas cartas para você que a tinta já era. Ele está tentando encher o refil, mas até agora só fez sujeira.

Eu contei que Emma vai ganhar um priminho? Kagami descobriu que está grávida. Amélie não cabe em si de tanta felicidade. Ela se mudou para a casa nova de Félix e Kagami, que fica só a vinte quilômetros daqui. A mulher ainda é desagradável às vezes, mas parece que a felicidade do filho (e, segundo Madalena, as visitas frequentes de um certo viúvo da região) tem feito maravilhas por ela. Adrien ainda não a perdoou, porém tem se esforçado para ser cortês. Então, quem sabe?

E, por falar em Madalena, ela e Gomes andam se acertando. Adrien acha que eles finalmente vão ficar juntos, porque a tal mulher por quem o mordomo está apaixonado é a Madalena. Ela ainda não sabe disso. Vive reclamando que Gomes só atrapalha seu serviço e diz que ele está ficando gagá. Mas dia desses eu os flagrei na cozinha ralando coco, e o homem “sem querer” deixou a mão tocar a dela. Madalena deu um gritinho, mas deixou sua mão sob a dele. Ao menos até Emma começar a berrar e denunciar a nossa presença.

Aos poucos, fui entrando na pele da senhora Agreste, e, quando decidi esquecer de vez aquelas regras malucas, tudo ficou muito mais fácil. Gomes e Madalena parecem satisfeitos com meu jeito de governar a casa, não tão perfeito como na época da senhora Agreste mãe ou na de Tikki, mas funciona, e é isso o que importa. Até o padre Antônio me elogiou durante um almoço, e isso é muito raro. Ele fazer elogios, quero dizer. Todo domingo, depois da missa, ele vem filar a boia aqui em casa.

Tikki está mais feliz do que nunca. Plagg e ela se corresponderam nos últimos meses, sem Adrien saber de nada, claro. Desde que o garoto voltou, tem visitado minha cunhada todos os dias. Adrien não gosta muito disso, mas deixou Madalena encarregada do assunto, então, quando o rapaz aparece aqui...

— Marinette! — Tikki entrou no meu novo escritório. Emma berrava em seus braços. — Ajude-me, não sei o que ela quer.

Eu me levantei, e, assim que me viu, Emma gritou ainda mais, tremendo o lábio inferior e fazendo um furinho adorável aparecer em seu queixo.

— Ei, mocinha, o que foi? Está com fome de novo? — perguntei, pegando-a no colo. Ela estava mais pesada agora, e muito, muito parecida com o pai. Os cabelos tinham a mesma cor, mas aqueles cachos indomados, infelizmente, eram meus.

— Não creio que seja fome — contou Tikki, aflita. — Ela mamou não tem nem meia hora! Já troquei as fraldas, tentei fazê-la dormir, mas nada adiantou. Será que está doente?

Comprimi os lábios na testa macia de Emma.

— Não, acho que ela quer outra coisa.

— E o que é?

Estava pronta para lhe dar a resposta quando a coisa apareceu. Adrien atravessou a sala, a preocupação marcando seu belo rosto. Seus olhos pousaram em mim, depois em Emma.

— Eu a ouvi chorar. — E era sempre assim. Ele parava o que quer que estivesse fazendo para acudir a nossa filha.

— Adivinha o que ela quer? — zombei.

— Humm... — Ele se inclinou para pegá-la e aproveitou para sapecar um beijo não tão rápido em meus lábios. — O que quer, meu amorzinho? Conte para o papai.

Encontrada (versão Miraculous)Onde histórias criam vida. Descubra agora