XXIX

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O acampamento estava erguido nas colinas que conectavam Nimb a Glaces. Não havia movimento ao redor, muito menos comércio. O pânico da guerra afastara a todos, deixando apenas as tendas nórdicas e olimpianas, iluminadas por fogueiras que lutavam contra o frio da noite. Havia dois dias sem neve, e o gelo derretido revelava uma vegetação morta e sem vida.

Lívia tinha passado parte da noite na tenda de Var Schar. Quando ele adormeceu, ela se retirou, vestindo um imenso casaco de pelagem branca por cima da camisola de linho. Ela caminhou entre as tropas, que se ajoelhavam em respeito. Apollo estava sozinho em uma tenda, sentado em uma almofada com um jarro de vinho em um pequeno banco de madeira. Ao avistar a silhueta da princesa passando, ele a convidou para entrar e beberem juntos, convite prontamente aceito por ela.

— Não tenho hidromel para lhe oferecer — disse ele, colocando o vinho em uma taça e entregando-a. Seu cabelo estava úmido, e seu corpo exalava um perfume suave, evidenciando um banho tomado horas antes. — Espero que goste do vinho de Olímpia. As uvas vieram da Varmênia, e a última safra foi abundante.

— Hidromel é a bebida nortenha — observou ela, estranhando o vinho num primeiro momento. — Então, independentemente de onde tenha sido feito, vinho sempre será uma bebida estranha — acrescentou, após o primeiro gole.

Apollo riu.

— De fato — concordou, olhando-a nos olhos. — A senhorita parece um pouco tensa.

— Mesmo com meus objetivos, não será fácil ver meu reino cair e pessoas com quem convivi a vida inteira morrerem, especialmente meu irmão — desabafou Lívia.

— Faça-o nosso aliado em troca de sua vida — sugeriu Apollo.

— Isso jamais acontecerá — rebateu ela amargamente. — O orgulho de um nórdico vale mais que a vida, e Levi tem isso em excesso.

— A vida é feita de escolhas, princesa — disse Apollo, bebendo o último gole da taça e a enchendo novamente. — Algumas sábias, outras nem tanto. — Ele colocou a taça perto da boca, encarando-a. — Quando sentar-se no trono de Glaces, deverá governar com sabedoria para não cair na mesma desgraça que seu pai caiu — ele a fatiou com um olhar perfurante. — Entretanto, lhe pergunto, se Var Schar governar ao seu lado, a sabedoria irá prevalecer?

— Var é um grande guerreiro — defendeu Lívia, virando o vinho de uma só vez e encarando o príncipe olimpiano.

— Ah, de fato! Um guerreiro extraordinário, um animal no campo de batalha — concordou Apollo, — mas um rei precisa ser sábio. Músculos e espadas não fazem um reino prosperar.

— Ele sabe governar, caso contrário não teria me aliado a ele — retrucou Lívia, encarando-o.

— Desculpe minha insolência, minha belíssima princesa — disse Apollo com um sorriso sereno. — Mas se aliou a ele pela causa e também porque ele deve ter um bom pau — provocou, rindo. — Mas sabe que ele não é o homem certo para ser o rei de todo o Norte.

— Onde quer chegar, Apollo? — indagou Lívia, largando a taça e encarando-o.

— Eu sou um Carter e, como pode ver, possuo um imenso exército, e também sou sábio. E sendo sábio, eu lhe diria que seria mais apropriado eu governar ao seu lado — ele bebeu e encheu pela terceira vez a taça, acabando com o vinho que tinha no jarro. — Eu não pretendo me opor às suas decisões e rumos que tomará para seu reino natal, mas também não serei um rei que será movido a espadas e músculos como Var.

— Está propondo uma traição? — ela largou a taça e o encarou. — E tudo que me disse quando nos encontramos? Você possui um acordo com Var...

— O acordo foi feito por Zeno, visto que ele me mandaria para tomar o norte com ou sem Var Schar, e que eu me lembre o acordo foi feito para uma aliança militar, a coroa será acordada depois. — ele levantou-se. — Sua posição, sem dúvida alguma, será mantida, entretanto eu acho muito difícil que Zeno concorde em deixar Var como rei. Acredito que lhe dará a posse do exército ou algo do tipo — foi até o canto da tenda onde abriu um barril que possuía mais vinho. — Acredito que ele me fará ficar no Norte — ele a olhou de relance — e lhe garanto que meu pau é muito melhor que o dele.

— Se você vir a reinar, seria mais sábio Zeno ordenar que sua esposa viesse de Olímpia — sugeriu Lívia, com um sorriso malicioso. — Sei bem que um olimpiano só toma mulheres olimpianas para manter a pureza da raça.

— Zeno não é um rei que liga para costumes antigos — explicou Apollo. — Além disso, um Carter pode ter quantas mulheres ele quiser — pontuou, bebendo novamente. — Sofia é uma grande mulher, de fato. Me deu dois ótimos filhos, é bela e sempre cumpriu com seus deveres. Não nego que às vezes sinto sua falta — confessou. — Entretanto, acho muito difícil que ela queira trocar as regalias da Montanha dos Deuses pelo frio de Glaces — ponderou. — E venho tendo desejo de possuí-la há alguns dias.

Lívia lançou um olhar desconfiado mergulhado em pensamentos; de fato, parte do que o olimpiano havia dito era verdade. Var era alguém com um ego imenso e facilmente explosivo. Foi ela que orquestrou a maioria dos planos de ataque, principalmente em Kyel, onde ele apenas os executou com os músculos. Será que ele realmente teria competência para governar? Visto que em Nix, tudo o que ele fez foi sentar-se no trono e iniciar uma guerra novamente. Olhou para Apollo, que ainda sorria, levantou o casaco e mostrou as pernas para ele.

— Vamos ver se de fato é tudo isso que diz ser na cama.

Olímpia - A Queda dos Reinos (Livro 1) FINALIZADOTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon