Capítulo 7

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 UM MÊS DEPOIS...


 _ Mãe eu tenho que desligar. Já vou voltar ao trabalho. 

_ Tudo bem, Alice. Não esqueça, amanhã a secretária do Governador te espera.

_ Mãe, eu já te pedi. Não quero me envolver nisso.

_ E eu preciso que você entenda. O quanto eu puder facilitar o seu caminho, eu farei, por que em meu percurso o que encontrei foram espinhos. - Ela deu uma respiração forte, e parou, sabia bem onde isso nos levaria. - Por mim filha, você sabe que estou me preparando para me candidatar a prefeitura e preciso de todo apoio possível inclusive o seu. 

Minha mãe é uma mulher espetacular e desde o meu nascimento ela se mostrou uma mulher guerreira e cheia de vontade de vencer. Isso fez com que obtivesse alguns admiradores, inclusive mulheres que admiravam sua luta e conquistas. Ela me teve aos 17 anos de um outro jovem irresponsável, mas ao contrario dele, ela não me abandonou. E não se abandonou também. Mesmo sendo expulsa de casa, trabalho em locais deploráveis para me dar um sustento e com isso conseguiu se formar em faculdade. Depois de tantos esforços chegou ao cargo de diretora de escola estadual e com seu envolvimento em causas sociais, se familiarizou com politica. Não é de hoje que ela me diz que a qualquer momento poderia ingressar nesse meio. 

Eu por outro lado a tenho como exemplo e no que posso a auxilio e tenho dito que ela é minha maior admiração. Porém desde que eu vim para a capital, faz um mês, depois de aceitar o trabalho de uma boa empresa, ela tem insistido para que eu vá ao escritório do Governador para assim aceitar o trabalho que ele está propondo, por se tratarem de aliados políticos. 

Eu queria muito traçar meu próprio caminho, mas não quero desapontá-la, ainda mais que mesmo hesitante, ela aceitou o final do meu relacionamento com Denis sem questionar os meus motivos. Agora ela se vê na obrigação de continuar cuidado de mim. 

_ Ok, eu vou amanhã no primeiro horário. Agora eu preciso ir.

Depois de deligar a chamada, voltei ao meu trabalho, que consistia em avaliar projetos dos engenheiros chefes. Não era nada grandioso e eu já sabia disso quando aceitei. Meus planos era crescer por mim mesma, e talvez eu tenha aceitado mais porque queria me sentir livre ao menos uma vez na vida. Ser eu a tomar minhas próprias decisões, porque por mais que elas não sejam visíveis e estejam em forma de proteção. Ainda sinto que minha mãe tem as rédeas sobre a minha vidas.

Eu entendo muito seu lado e sei que ela não quer que eu passe pelo que ela passou, mas ainda assim, eu já sou adulta e quero eu mesma tomar as minhas decisões. 

Não sei se por isso, mas tenho me alimentado mal nos últimos dias. Talvez seja a emoção de viver essa liberdade que um dia eu tanto sonhei. E a consequência são fortes dores de cabeça. Será que eu me acostumei tanto a ter alguém cuidado de mim que no meu primeiro mês de maneira independente esteja me afetando emocionalmente?

Quando deu o meu horário, sai do trabalho e caminhando pelas calçadas da cidade grande é possível ver de tudo. Inclusive quando estava próximo de embarcar na estação ouvi uma sirene e como resposta, meu corpo paralisou totalmente.

Eu literalmente me proibi de pensar em tudo que aconteceu naquela noite. Foi um momento e tudo o que mais quero é deixar de lembrar que tive envolvimento com qualquer um dessa família. Denis por questões obvias e Fabio por que ele não é o homem que eu idealizei e também porque sei que minha mãe jamais o aprovaria sabendo do seu histórico.  Mas por um breve momento lembrei da intensidade em seu olhar quando se aproximou de mim para me beijar.

Não me permitir se quer um momento direcionar meus pensamentos a ele, mas agora quando o grande caminhão vermelho passou com as sirenes ligadas, eu não pude evitar.

_ Alice, hey! - Ouvi alguém me chamar.

Sacudindo a minha cabeça para dissipar esses pensamentos olhei para a rua, era Milena, a minha colega de trabalho. 

_ Oi. - Lhe sorri e caminhei em sua direção, ela estava dentro do seu carro.

_ Vamos eu te dou uma carona. Esse horário de pico os metros ficam desagradáveis.

_ Ah, obrigada.

Eu não costumava vir de carro para o trabalho, porque nas duas vezes que tentei, me perdi e cheguei atrasada, algo intolerável para mim, por isso prefiro vir de metrô, já que não é tão longe ou as vezes de carona, quando é Milena que me oferece. 

_ E então, já terminou de organizar seu apartamento? - Ela era animada, bem gentil e uma possível candidata a uma amizade, ainda não sei dizer ao certo.

_ Quase. Estou na etapa final. A cozinha é a que está mais dando trabalho. Minha mãe está cuidando disso.

_ Nossa, eu te invejo por isso, sabia? Minha mãe levantou as mãos para o céus quando sai de casa, se bem que mesmo morando lá, nem sei se tive mãe presente em minha vida.

_ Oh, eu sinto muito.

_ Não sinta. Eu aprendi a me virar cedo. Isso foi bom para mim, mas não me isenta de sentir inveja de quem tem mãe e pai presente. 

Eu não soube o que responder, porque mãe eu tenho e sempre esteve comigo, mas pai? Nem ao menos sei quem é. 

_ Levei para um lado melancólico. Desculpa. Olha, no sábado o pessoal vão se encontrar num barzinho, vamos?

_ Acho que não vai ser possível, eu quero finalizar logo o apartamento. 

_ Você é muito responsável, não de um jeito mal, mas as vezes não faz mal pisar fora do quadrado. É bom se divertir as vezes pra não pirar. 

_ Eu não sou acostumada a isso.

_ Vai, vamos. Você fica algumas horas e se vê que realmente não é para você, é só ir embora, ninguém vai te for-

Antes mesmo que ela pudesse terminar uma senti um forte impacto em meu rosto, sem contar no barulho que parecia algo desabando.

_ Ai... Ah! Milena, tudo bem? Milena? - Eu chamava, mas não havia respostas. 

Tentei me manter acordada, mas de repente tudo começou a girar, como se um forte enjoo me tomasse, e logo depois apaguei.



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⏰ Última atualização: Apr 08 ⏰

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