Borborinhos

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Os ventos rodopiantes suscetíveis a provocações


     Esta descrição é baseada na narrativa #2919 do Arquivo Português de Lendas (APL 2919).


     Se andarem no campo, a probabilidade de sofrerem percalços danosos é maior no Verão do que nas outras estações, com muitos exemplos disso. É no Verão que é preciso se protegerem melhor dos escaldões. É no Verão que há um risco mais acentuado de fogos bravos. É no Verão que há mais abundância e atividade de insetos picadores (abelhas, melgas, moscardos, etc). E é no Verão que é mais provável se depararem com Borborinhos em recantos de vilas e cidades e planícies abertas de Portugal Continental, principalmente em encruzilhadas, lugares onde não devem ser inesperados os encontros com seres fantásticos (ver descrições das Laranjeiras e das Almas em Procissão). Sim, os Borborinhos são um tipo de seres fantásticos. Mas estes seres só devem ser fantásticos de encontrar se forem inconscientes, corajosos... Ou as duas coisas ao mesmo tempo!

     Os Borborinhos, também chamados Balborinhos, Barborinhos, Belborinhos, Esponjinhos e Remoinhos – depende da parte do país onde aparecem –, parecem pequenos remoinhos de vento que arrastam folhas e poeiras por onde passam. Aparecem principalmente nas horas abertas ou do entreaberto (horas em que o Sol nasce e se põe, meio-dia e meia-noite, alturas em que as portas do mundo do sobrenatural se abrem).

     Os Borborinhos podem vir com seres fantásticos de outros tipos no seu interior: Demónios (entre eles o próprio Diabo!), Bruxas e Almas Penadas, pelo menos as de camponeses que cometeram delitos agrários quando eram vivos e têm de restituir aos vivos o que lhe roubaram para entrarem no Céu (ver descrições das Costureirinhas, das Almas em Volta da Fogueira e das Almas em Procissão). Tudo isto indica que os Borborinhos são controlados por dentro – o que os torna mais perigosos do que são à primeira vista!

     Se quiserem ver-se livres de um Balborinho, há duas maneiras de o fazer. Uma delas é dizer umas certas invocações em voz alta. Essas invocações são geralmente de cunho religioso, e variam consoante a parte do país onde os Borborinhos aparecem. Há o exemplo da invocação desse género usada na freguesia do Paul, no concelho da Covilhã: «Jesus, Credo, Santíssimo Sacramento.» A outra maneira de evitar um Borborinho é atirar uma tesoura aberta, uma navalha ou uma faca – também varia consoante a parte do país – para o seu interior, o que faz com que os seres fantásticos que estão dentro dele saiam. Isto tem lógica, pois os referidos objetos são parcial ou totalmente de ferro, um elemento que repele tipos de seres fantásticos nocivos (ver descrição do Homem Encantado de Sabroso de Aguiar).

     Mas, aconteça o que acontecer, jamais provoquem um Borborinho de maneira nenhuma... O que inclui chamá-lo chinelo velho por algum motivo que desconheço! Se o fizerem, ele dirigir-se-á a vocês para estragar o que vos pertence (principalmente espalhar colheitas agrícolas ou sujar a comida), esbofetear-vos ou levar-vos a uma grande altura, o que pode ser fatal! Pergunto se quem se ofende (e retalia) realmente neste caso são os próprios Borborinhos ou os seres fantásticos que estão dentro deles... Ou melhor, pergunto se um Borborinho tem vontade própria!



Fonte da imagem: Portal dos Mitos (blogue)

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⏰ Last updated: Apr 08 ⏰

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