Capítulo 35

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Nota da autora:
Prestem atenção nessa parte da música:
"Você tem sido minha musa há muito tempo
Você me faz suportar cada noite escura
Estou sempre fora, em movimento
Estou em fuga e você está sozinha em casa
Estou consumido demais com a minha própria vida

Somos jovens demais para isso?
Sinto que não posso me mover

Compartilhando meu coração
Isso está acabando comigo
Mas sei que sentiria sua falta, amor, se eu partisse agora mesmo
Fazendo o que posso, tentando ser um homem
E toda vez que te beijo, amor
Posso ouvir o som de algo se quebrando"

Ps: Valorizem a autora de vcs pq o wattpad está uma porra pra editar os capítulos e to de tpm.
Bjinhos e boa leitura.

POV ELIJAH

Acordo me sentindo a porra do homem mais sortudo do mundo.
Chary está deitada ao meu lado esquerdo em um sono leve e confortável, analiso cada parte dela, memorizando essa noite em cada canto da minha mente.
Preciso dela.
Preciso estar dentro dela toda hora.
Quero estar com ela como quero viver.
Os cabelos longos e escuros caem em cascata em seu rosto e cobrem boa parte dos seios nus, o lençol cobre a outra metade de seu corpo.
Solto um sorrisinho idiota mais uma vez.
Que porra. Ela é tão linda. E é
minha.
Chary se remexe na cama e o lençol desliza até seu quadril, meu sorriso some ao ver o curativo em seu abdômen.

Me contive tanto por causa desse ferimento.
Me contive a noite toda para não machucá-la, mas...
Mas não adiantou, porque eu já havia machucado ela antes de ontem.

Sinto um nó formar em minha garganta e mal consigo respirar quando a culpa atinge meu peito.

Ela está ferida por minha causa.
Eu a machuquei.

Toda vez que tenho uma crise, sinto o pânico se instalar em meu corpo como algo físico, acho que deve ser igual a sensação de passar por um furação completamente indefeso.
Me sento na cama e tento respirar.
Tento me concentrar em qualquer coisa que não seja a mulher ferida ao meu lado, mas não consigo.
Volto no momento em que ela desmaiou em meus braços, lembro de seu sangue encharcando meu terno, lembro de cada grito de dor dela ao ser costurada por Talita.
A sensação piora tanto que não consigo nem mais lidar com minha própria respiração, que se torna algo completamente bagunçado e irregular.
Ela teve medo por minha culpa.
Ela sentiu dor por minha culpa.

Fecho os olhos e respiro fundo, tentando me controlar.
Ela perdeu tanto sangue.

Elijah? – Ouço-a sussurrar para mim, abro os olhos e vejo sua expressão de preocupação comigo.
Merda, Charlotte.
Não fique preocupada comigo, não sei lidar com isso.
Prefiro que ela me odeie.

– O que aconteceu? – Ela também se senta, fazendo contato visual.
Fecho os olhos e respiro mais uma vez.
Preciso socar alguma coisa, preciso de uma luta... Qualquer coisa.

– Está em uma crise? – Pergunta calmamente, confirmo com a cabeça apenas uma vez, sem olhar para ela.
Sinto as mãos dela em meu rosto, abro os olhos e esqueço por um segundo da sensação avassaladora em meu peito, ela pega meus pulsos e posiciona minhas mãos em sua cintura.
Não consigo me controlar, sei que deveria me afastar, mas em vez disso, puxo-a para mim e envolvo meus braços ao redor de seu corpo completamente nu, aperto-a contra mim até que a culpa suma, mas ela só fica cada vez mais evidente.
Chary enfia o rosto em meu pescoço, nos afasto o suficiente para encostar minha testa na dela.

– Merda, Chary... Não quero que você vá embora. – Sussurro para ela. Eu preciso afastá-la, preciso que ela fique longe de mim.
Pensei que a única forma de mantê-la segura seria ao meu lado, mas não consegui protegê-la, e tudo o que posso fazer é me afastar.
Tenho que manter tudo como era antes. Tenho que ignorar todos os sentimentos que agora ela demonstra por mim... Preciso só da raiva dela, a raiva nos mantém alertas.

Preciso que ela me odeie novamente, só assim conseguirei protegê-la.

– Eu estou aqui, seu idiota. Eu disse para você que estaria. – Responde contra minha boca.

Presto atenção na respiração dela e tomo coragem para começar tudo o que preciso dizer.

– Isso foi um erro. – Digo com muita dificuldade, mas tento parecer firme.
O silêncio dela é longo e doloroso.

– Do que está falando? – Seu tom não é mais tão gentil, isso é bom.
Preciso da raiva.
Aproveito os últimos segundos de toque no corpo nu dela.
Não vai acontecer nunca mais.
Meu peito dói mais um pouco.

Não se repetirá, nunca mais encosto um dedo em você novamente, Chary. – As palavras saem com muita dificuldade e me arrependo no mesmo segundo, mas não posso fazer mais isso, não posso continuar sendo um babaca egoísta, tenho que mantê-la protegida.
E não posso fazer isso se ela se importar comigo, por isso, vou quebrar o coração dela.
O engraçado é que desde que a conheci eu queria que ela se importasse tanto comigo ao ponto de eu conseguir machucá-la, e agora só quero o oposto.
Queria que ela nunca tivesse se importado comigo, queria que ela nunca tivesse me abraçado e me acalmado, queria que ela continuasse me odiando para que eu não tivesse que partir seu coração ao meio como vou fazer agora.

Me xingo tanto por dentro que acabo com os adjetivos nessa língua, então passo a me xingar em Italiano.
Ela se afasta de mim como se minha pele queimasse, Chary me encara, seus olhos acenderam em fúria, pura raiva de mim.

Sim, é disso que preciso.
Raiva.
Me xinga, Chary. Bate na minha cara e diz que me odeia, preciso desse ódio.

– E qual a diferença entre o que fizemos hoje e o que fizemos antes? – A raiva eminente é óbvia, mas percebo algo além disso, insegurança.
Ela quer saber se eu gostei.

– A diferença é que você se importa comigo! – Explodo a verdade na cara dela, tenho que mentir para ela e é quase impossível. Quase. – Não quero você desse jeito.

Pronto.
Está dito.
Chary se afasta mais, sua expressão vai se surpresa para uma raiva magoada, e alguns segundos depois, fica sem reação alguma.
Merda.

Mentiroso. – A palavra é usada como acusação, engulo o seco e fecho os olhos por alguns segundos, cogitando me desculpar por tudo o que disse e beijá-la aqui e agora.
Mas não posso.

– Vê se entende uma coisa: nada proveitoso vai sair de uma relação nossa. – Minha boca está amarga e seca.
Só quero que isso acabe.

– Mentira. – Ela repete, com mais confiança dessa vez.
Fecho os olhos mais uma vez, vou ter que ir mais fundo para que ela entenda.
Merda.
Porra.

– Eu só queria sexo, e você já me deu isso.

Nunca me odiei tanto como me odeio nesse momento.
O silêncio é cortante.
Em vez da raiva, algo muito mais doloroso nasce no rosto dela, lágrimas.

Meu peito dói ao ver as lágrimas nos olhos dela, minha garganta fecha e tenho que me conter muito para não puxá-la para um abraço.

Porra. Porra. Porra. Porra. Porra.

Eu poderia dilacerar o mundo todo por causa dessa expressão no rosto dela.
Eu espancaria e mataria qualquer um que a fizesse chorar, e realmente estava pronto para isso, mas...
Fui eu quem a fiz chorar, eu a machuquei.
Tudo o que consigo fazer é ferir mesmo quando tento proteger.

O pânico volta com tudo, mas dessa vez, não deixo transparecer.
Não mereço a preocupação dela. Não mereço que ela demonstre qualquer emoção por mim além de raiva.
Não mereço que ela me abrace até meu peito parar de doer.

Vejo nos olhos dela seu coração se partir em milhões de pedaços e tenho certeza absoluta que eu não conseguirei juntá-los nunca.

Nunca vou conseguir fazê-la esquecer a porra que eu disse, mesmo que seja a mentira mais lavada que já contei, mesmo que seja só para protegê-la, ela se lembrará.

...

Intocável - Dark Romance Where stories live. Discover now