𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 28

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CAPÍTULO 28

17 anos antes

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Cinco não apareceu no dia seguinte. Esperei ele quando me levantei da cama, esperei ele no café, nas aulas de inglês e história, no treinamento, e por fim, na aula de matemática. Ele não apareceu. Mas isso estava dentro dos planos, eu pensei. Ele disse que poderia acontecer.

Então eu me acalmei.

Confiei que ele infelizmente fez parte da margem de erro de 0,12 e que voltaria até o fim de semana. E esperei novamente. Ignorando toda preocupação e me esforçando para não notar sua falta em cada atividade. Em cada cadeira vazia. Em cada contagem que pulava o seu número.

Hoje faz quinze dias que ele foi embora, o dobro que me pediu para esperá-lo, e eu nunca senti uma dor tão forte no peito. Cada novo dia é uma nova esperança, e à noite eu só percebo o quanto fui ingênua. O ciclo se repete dia após dia.

Ele não deveria ter ido. Eu podia ter impedido, Cinco ficaria bravo comigo e o papai nos daria uma advertência mas ele estaria comigo agora. Por que eu apoiei isso? Por que eu sempre quero agradá-lo mesmo que isso seja para a sua própria condenação?

Será que eu o assustei?

Eu disse que o amava e ele disse nada de volta. Será que ele não quer voltar para lidar com os nossos sentimentos? De todas as formas, está me machucando tanto… Não sei no que acreditar, tenho mergulhado tanto em meus pensamentos que não sei mais o que era real. Ele gostava mesmo de mim? Ele queria mesmo voltar? Por que de todas as opções ele escolheu as que mais me doem?

Meu coração está tão dolorido agora, fisicamente, que tenho a sensação de falta de ar. Meu rosto está quente, molhado por lágrimas e vermelho como se todo o meu sangue tivesse se acumulado nas bochechas. Preciso respirar.

Saio do meu quarto às pressas, passando pelo corredor e seguindo um caminho automático, onde minhas pernas sabem exatamente o percurso.

— Tá chorando por quê, bebezona? — Luther diz, quando me encontra na escada.

Eu fungo, passando a barra do meu blazer em meu nariz. Uso meus poderes para sumir da visão de Luther, nada do que ele disser hoje vai superar minha profunda solidão e luto.

Subo as escadas, todas elas. Vou até o topo da mansão. Encaro a porta do sótão, um leve sorriso no canto da minha boca por lembrar de tudo o que já aconteceu lá. Lá dentro líamos gibis, conversávamos sobre nossos poderes, comíamos todos os doces. Foi lá que ele me beijou pela primeira vez. E, teoricamente, lá também foi nosso primeiro encontro. Eu quero estar lá de novo. É o mais próximo que eu vou ter de estar perto de Cinco. Vou sentir como se estivesse ao meu lado.

Eu giro a maçaneta. Uma, duas, três vezes. Está trancada como sempre esteve. Onde está a porcaria dessa chave? Onde será que Reginald guarda? Eu juro que eu faço de tudo para conseguir essa chave de merda.

Eu quero entrar.

Eu preciso entrar.

Ou então a dor em meu peito não vai passar nunca mais.

Dou um chute na porta, com raiva. Dou socos e forço a fechadura tentando abrir de qualquer jeito. Eu grito, extremamente furiosa, porque o único lugar que me traria o mínimo de conforto está inacessível, mesmo tão perto. Eu quero quebrar essa porta, e não estou nem aí se vão me escutar andares abaixo.

Eu começo a ficar sem fôlego, enfim percebendo que sou pequena demais para conseguir derrubar essa porta. Me agacho e me sento ao lado, agarrando meus joelhos contra o peito, e sentindo as lágrimas voltarem. Também estou com raiva de Cinco. Ele sabia muito bem que a viagem era perigosa, e não custava esperar mais alguns anos de experiência.

Estou tão cansada.

Não aguento mais culpar tudo e todos.

Eu queria passar um dia sem lembrar dele, porque desde que foi embora, minha cabeça não para de pensar um minuto. Todos os meus sorrisos desde então são falsos. Planejo frases e entonações para usar quando perguntarem se eu estou bem, mas ninguém perguntou além de Allison.

Cinco se importaria, se estivesse aqui.

Ele arranjaria um jeito de me deixar bem. É a pessoa que mais se importou comigo, até quando fingia me odiar. Ele dizia que não gostava de me ver chorar. Agora é irônico porque eu nunca chorei tanto antes e é por causa dele.

Mesmo que ele tenha ido embora, e sem dizer o que sente por mim, me quebrando das duas formas, ainda quero ele de volta. Quero mais do que nunca. Eu faria qualquer coisa. Deixaria a Academia para ir a qualquer lugar com ele; Eu poderia me voluntariar a qualquer pessoa que pudesse trazê-lo de volta.

Tudo.

Absolutamente tudo.

Se fosse para tê-lo comigo, dando beijos na minha bochecha.

— Am… Amber? — uma voz surge acima de mim. Eu seco meus olhos rapidamente antes de olhar para cima. Ben está com sua feição preocupada, e se aproxima de mim agachando na minha frente. — O que aconteceu?

Eu olho ao redor, sem saber como dizer que esmurrei a porta porque necessitava ver o lugar onde conheci o amor pela primeira vez.

— Nada. Só tá trancada — dou de ombros, minha voz saiu falha por conta do choro. Ben se senta ao meu lado direito sem pensar duas vezes, imitando minha posição.

— E por quê você tá chorando? — Ele passa sua mão em minha bochecha delicadamente, secando minhas lágrimas.

— Estou com saudades dele.

Confessar em voz alta dói ainda mais.

— Todos estamos, maninha.

— Vocês conseguem lidar melhor. — Porque vocês nunca sentiram ele abraçando-os com toda força enquanto dava selinhos.

— Nós só… não éramos tão amigos dele quanto você. Acho que se fosse o Klaus, eu também estaria chorando até hoje — Ben diz, tentando me reconfortar. — Ele vai aparecer quando menos imaginar.

— Ele disse que voltaria em até sete dias, Ben. Já faz quinze. Parece pouco, mas os cálculos da viagem do tempo são minuciosos e… Ah, sei lá.

Ben aperta os lábios, compreendendo, e então segura meu pulso. Acho que está menor agora, folgado nas camisetas porque coincidentemente não como e não durmo direito há quinze dias.

— Sinto muito, Amber. Não sei como te ajudar.

Eu dou um longo suspiro, deitando minha cabeça no ombro dele. As lágrimas continuam descendo. Pelo menos eu tenho o Ben. Ele não é como os outros meninos chatos e tenho certeza que vai estar disposto a me ouvir se eu quiser desabafar.

— Papai já mandou espalhar cartazes de desaparecido, talvez ajude.

Me sinto um pouco mais desamparada quando penso que ninguém pode ajudar, Cinco sequer está no mesmo ano que nós.

Não sei quando vou aceitar que meus dias agora serão sem ele. Não faço ideia se semana que vem ele vai aparecer e tudo o que eu sofri ter sido apenas em vão. Ou se nunca mais verei ele de novo. A constante incerteza de um futuro sem Cinco está me matando.







⦿ 1.172 palavras

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acendam suas velas 🕯🕯

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bjs curupiras açucarados 💛

𝐒𝐞𝐠𝐫𝐞𝐝𝐨 𝐀𝐭𝐞𝐦𝐩𝐨𝐫𝐚𝐥 - The Umbrella AcademyOnde histórias criam vida. Descubra agora