🩸: lágrimas de sangue não pagam perdões

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Semanas se passaram.

Gerard não foi embora como sempre fazia, tomou conta do quarto ao lado como se o mesmo o pertencesse há anos, e para Frank era como se uma pedra enorme estivesse sendo alojada em sua garganta todas as noites.

Por algum tempo, realmente usou o buraco em seu quarto para deixar a casa. Mas parou quando percebeu o quão ridículo aquilo era. Aquela era sua casa afinal de contas. Havia chegado ali primeiro que ele, não poderia deixá-lo se apoderar de seu único lugar seguro como se fosse o proprietário vigente.

Ele não poderia fazer isso. Não podia. Não iria.

Gerard era muito quieto e reservado com suas coisas. Frank pagou com a língua ao notar que sua TV fazia muito mais barulho do que quer que ele fizesse dentro daquele quarto. Nunca recebeu reclamações apesar disso. Way o evitava como a própria praga, e estava demasiadamente inserido em seu próprio mundo para notar sua diligente existência. Ele não o olhava quando se esgueirava pela cozinha de zíper e capuz no intuito de pegar um saco de sangue e voltar ao quarto, mas conversava rotineiramente com os outros residentes. Certa vez, notou que até mesmo Timmy estava mantendo uma postura amigável com relação à ele, ambos vasculhavam livros na estante extremamente organizada e papeavam distraidamente sobre algo.

Parecia que ele era o único lúcido por ali, o único que via o mal contido naquele vampiro; mas mais uma vez, como Mikey havia dito, tecnicamente ele era e seria o único a ver isso como verdadeiramente era, pois fora o único atingido pelo egoísmo diabólico de Gerard naquela noite de 2006.

A criatura que o havia seduzido com promessas de uma falsa eternidade em conjunto. A criatura que o deixou para queimar no sol matador. Que sumiu de sua vida como se nada tivesse a ver com a mesma. Era pessoal demais, reconheceu. Todos os seus problemas com ele não podiam envolver ninguém mais além dele mesmo. Essa era realmente a sua chance de tirar uma satisfação, e quem sabe uma escusa. Gerard lhe devia isso.

Três horas antes do anoitecer, engoliu as pedras e bateu na porta dele incessantes vezes.

Quando a porta se abriu, seu coração palpitou como se fosse abrir caminho através de suas veias, fraturando seu esterno e rasgando seus músculos e pele para se libertar da pressão glacial e subjugadora que o acometia. Frank mordeu a bochecha interna, tentando levar para longe o ardume que sentia.

"O que você quer?" Ele disse assim que se deu conta de quem era. Sua voz enfadonha era como uma ripada em cada parte de seu corpo. Notou que ele usava uma blusa preta e um roupão felpudo de mesma cor por cima, com pequenas florzinhas lilases em todo o tecido. Típico dele. Uma carabina com doses de glicose na ponta. Frank não ficou parado ali, encontrou coragem dentro de si e empurrou a porta grosseiramente, parando de braços cruzados no meio do quarto. Havia apenas uma cama desfeita com um livro por cima e um armário verde musgo no canto, na escrivaninha apenas um caderno marrom e uma caneta preta. Pensou que ele seria efetivamente assim, sem gostos ou personalidade definida; que inconsciente pessoal um indivíduo de quinhentos anos teria? "Por favor, saia do meu quarto agora."

"Eu não vou sair. Nós precisamos conversar. Não somos crianças. Você...você especialmente." Começou, afrouxando os braços ao lado do corpo. "Eu preciso disso. Você não pode me negar, não pode."

Gerard fechou a porta atrás de si lentamente então e o encarou com orbes felinas, curiosas, ameaçadoras, distantes e inconfiaveis. Parou há alguns metros de distância, irreverente.

"Nenhum dos outros acordou ainda." Frank continuou, desviando os olhos para os pés e então para ele novamente. Seu coração ressoava, tinha certeza de que ele podia ouvi-lo. Gerard nada expressou a respeito de seu êxtase interno, apenas arqueou uma sobrancelha.

my sweet vampire † frerardWhere stories live. Discover now