| 2 - "Una scimmia danzante" |

35 6 6
                                    


Na primeira vez em que o vi, em 1764, Corvin não devia ter mais de seis anos. Um garotinho solene e sério, com penetrantes olhos azuis-esverdeados emoldurados por finos cachos acobreados. Estava praticamente agarrado ao pai, um homem esguio, elegante e de ar severo.

Ao ver o menino, pensei:

"É esse o prodígio!? Esse garotinho assustado!?"

Antes de dar continuidade a minha narrativa, creio que um pouco de contexto sobre minha pessoa seja necessário: em 1764 eu era um jovem promissor de 18 anos, sobrinho-neto do velho Kapellmeister. Meus pais haviam morrido em minha juventude e, sem qualquer outra família a não ser meu velho tio, aos 14 anos fui enviado de meu local de nascimento em Nápoles até o principado governado pelo jovem príncipe-eleitor de O*, o mecenas de meu tio.

Esse excelentíssimo governante, conhecedor das artes - especialmente música e literatura -, tinha por nome Friedrich Joseph.

Alguns meses antes, meu mecenas havia ouvido falar do jovem prodígio; sobre como o menino de seis ou sete anos demonstrava grandes habilidades no cravo e violino; sobre como, ao lado do pai, um reles cantor e professor de música, arrebatava corações por onde quer que passasse.

Naquele dia estávamos todos lá; o príncipe-eleitor em seu uniforme azul e branco, sua sobrinha e protegida, a jovem Kristina, meu velho tio e eu.

Assim que o mestre de cerimônias anunciou o prodígio e seu pai, meu tio murmurou o seguinte em meu ouvido, a voz um tanto desdenhosa:

- Onde já se viu...! Um garotinho ser apresentado à Sua Alteza Sereníssima!? Aposto que esse tal... Corbeau, ou o que quer que seja, não tem lá muito talento...! Escreva o que digo, Giovanni; tudo é um exagero do pai.

Um novo anúncio do já mencionado mestre de cerimônias e o barulho de seu bastão fora o suficientes para calar meu velho tio:

- Os senhores Johann Mathias Corvin e seu jovem filho, Johan Ruprecht Corvin!

Bateu novamente com o bastão no chão e o prodígio entrou, agarrado à perna do pai. Ao ver o príncipe-eleitor, Herr Corvin fez uma reverência exagerada e bruscamente se desvencilhou do filho.

- Vossa Alteza Sereníssima... meu filho e eu nos sentimos extremamente honrados de estarmos aqui.

Meu mecenas sorriu.

- A honra é minha, Herr Corvin. - respondeu. Seus olhos azuis foram de Johann Mathias para o jovem prodígio.

- O que irá nos tocar hoje, Junger Meister?

Antes que o menino pudesse abrir a boca, seu pai interferiu:

- Uma sonata, Alteza. E também...

- Herr Corvin, não estou falando com o senhor! - exclamou meu mecenas, batendo com os pés no chão de mármore, alarmando Johann Mathias. O pai do jovem prodígio ficou quieto como um rato. O eleitor repetiu a pergunta:

- O que irá nos tocar hoje, Junger Meister?

O pequeno encarou o pai. Quando a interrupção não veio, ele tomou coragem:

- Uma sonata e um minueto, Alteza.

- Excelente. Comece.

O menino aquiesceu, sentou-se ao cravo e começou a tocar. Primeiro o minueto, depois a sonata.

A primeira peça nada tinha de especial; extremamente simples, quase infantil e algo que qualquer criança, mesmo sem o mínimo de talento musical, tocaria ou comporia sem dificuldade. Obedecia a todas as convenções do gênero, claro, mas era obviamente escrita por um menino de seis anos ou até menos. Com correções paternas aqui e ali, mas indubitavelmente uma composição infantil.

Um Jovem Mestre e um Judas (ORIGINAL)Onde histórias criam vida. Descubra agora