Capítulo 49

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Amélia Ferrari

Renzo está estranho e muito quieto, mais do que o normal, enquanto dirige para casa. Não perguntei ainda porquê já imagino o que pode ser. Descobri pelo Vinicius, porque nos tornamos bons amigos. Enfim, ele me disse que hoje teve reunião do conselho de diretores e estão querendo tirá-lo do seu cargo, porque não acham mais que ele é capaz de assumir essa responsabilidade. Isso é péssimo. Renzo é o mais qualificado que qualquer um para esse cargo e é o direito dele, como filho do fundador da empresa, mas é difícil quando até o pai está contra o filho.

A Natalie também está estranha hoje. Quando saímos da empresa, eles mal se olharam, parecem que brigaram.
Recebo uma mensagem assim que entro em casa, é da Celeste, dizendo que quer me ver hoje e que está gripada, e minha mãe está obrigando-a a tomar remédios horríveis.

Fico preocupado, mas não deixo de abrir um sorriso pelo fato de que a nossa mãe está obrigando-a a tomar remédio, tão dramática.

— Tudo bem? — Renzo pergunta, observando-me.

Guardo o celular no bolso da minha calça.

— Só a Celeste que parece estar doente e quer que eu vá vê-la.

— Devia ir então.

Olho para ele preocupada.

— Eu soube do que aconteceu, sobre quererem te tirar do seu cargo. Você está bem?

Ele me encara surpreso e então suspira, parecendo tão cansado. Renzo está esgotado. Sua vida está uma bagunça e tudo isso está mexendo com ele e é visível. Posso perceber as olheiras ao redor dos olhos, pelas noites que ele passa sem dormir.

— Estou bem. Talvez isso seja bom — ele se aproxima e coloca uma mecha de cabelo atrás da minha orelha e me encara profundamente, tentando parecer que não se importa, mas eu sei que sim — A gente pode ir para outro lugar também, se você quiser. Qualquer país e sair daqui — completa.

— Está falando sério? Você quer sair daqui? — pergunto, achando estranho.

Ele desvia o olhar, dando de ombros.

— Recomeçar seria bom. Seria só você e eu. Deixaríamos tudo isso para trás.

— Até a sua irmã?

Ele respira fundo, parecendo chateado.

— Até ela.

Renzo nunca deixaria sua irmã para trás.

— O que aconteceu entre vocês?

Renzo se afasta.

— Nada — responde indiferente.

Arqueio uma sobrancelha.

— Eu percebi que vocês estão estranhos hoje. O que aconteceu? Não me diga que não é nada, que não vou acreditar.

Ele se senta no sofá, olhando para longe.

— Ok, a gente brigou.

Me aproximo com os braços cruzados.

— Por que?

Ele morde os lábios e então fixa os olhos em mim.

— Ela me contou que está mantendo contato com a nossa genitora e que quer levá-la para o casamento dela. Fiquei muito irritado com o fato de que ela está deixando essa mulher entrar em nossas vidas de novo — percebo a irritação em sua voz.

— Mas Renzo, você não deveria ser mais intransigente. Talvez sua mãe tenha mudado. Talvez ela queira uma aproximação real.

— Amélia, eu não acredito que ela tenha mudado. A mulher apareceu depois de anos. É muito tempo. Eu não vou ceder e se a Natalie quer isso, então problema dela. Se ela escolher essa mulher ao invés de mim, então que fique com ela e me esqueça de uma vez.

— Você está sendo muito radical. Você mesmo está mudando, e então sua mudança seria mentira?

Ele franze o rosto.

— Claro que não, é diferente.

— Diferente como?

Ele bufa irritado.

— Será que podemos deixar isso pra lá? Eu não quero falar sobre essa mulher, nada do que você me falar vai me fazer mudar minha opinião sobre ela.

Solto um suspiro, dando de ombros.

— Tá bom se é assim que você quer. Só não acho certo afastar sua irmã por causa disso. Ela te apoia sempre e está do seu lado... — sua mão me puxa para sentar em seu colo.

— Eu quero que você esteja do meu lado, Amélia, porque estou prestes a perder tudo. A empresa, minha irmã, e pouco de dignidade que tenho. A única coisa agora que tenho real é você, então fique do meu lado.

Noto o quanto ele está sofrendo com tudo isso. Seus olhos buscam os meus refletidos de magoar e dor. Não tem como eu me sentir bem sabendo o quanto ele está triste e vulnerável. Uma parte dele, que nunca deixou transparecer, está nítida como tudo o está afetado.

Seguro o seu rosto com as mãos carinhosamente.

— Eu sempre vou ficar do seu lado — suas mãos se apertam mais envolta de mim, trazendo meu corpo mais perto dele. Seus olhos estão mais suaves. Encosto nossos lábios um no outro em um beijo breve e gentil.

— Você devia ir ver a Celeste, mas tome cuidado. O segurança vai com você.

Assinto, saindo do seu colo.

................


Entro em casa e já acho um pouco estranho o carro do pai de Renzo está aqui. Mas ando pela casa em busca da minha mãe, até encontra-la conversando com o pai de Renzo. Os dois parecem estar em uma conversa séria, porque nem me notam chegar.

— Pois aconselhe a sua filha a engravidar logo — ouço dizer a ela. Mesmo sabendo que é errado, me escondo para escutar o resto da conversa.

— O que que devo fazer, Ivan? Que eu a obrigue? — minha mãe diz.

— Dá o seu jeito. Quando você me implorou para salvar a sua empresa falida, me lembro bem que concordou. Ana, agora sua filha tem que fazer o que eu mando. Foi para isso que dei a honra de se casar com o meu filho, não para ser uma inútil!

— Cale essa boca, Ivan!

Parece que minha mãe tem muita intimidade com esse homem, pois jamais a vi falar assim com ninguém. É estranho, porque antes do casamento nunca vi o pai de Renzo em nosso meio.

— Olha, eu posso muito bem ter sido apaixonado por você na juventude e aceitar que você se casou com esse pobre miserável que te deixou na ruína. Mas posso muito bem rescindir esse contrato e, pela pena que tive por você, por termos sido namorados por tanto tempo aceitei, mas agora não irei ter piedade. Eu não vou ter pena de arruinar você e sua família patética. Se arruinar os meus planos, isso eu juro. Então, coloque sua filha na linha se não quiser que ela acabe igual a você, que escolheu o cara errado e agora depende do cara que você rejeitou. Como são as coisas, não é? Me deixou para ficar com esse bastardo que te trai para todos verem. Vocês se merecem.

Estou em choque, minha mãe e Ivan já foram namorados? Agora entendo o porquê dele ajudar a nossa família. Renzo disse uma vez que achou estranho esse casamento, porque nossa família não é nada comparada com o status social da família dele, que é muito mais rica que a nossa família, que estava na falência. A arquitetura Santoro tem a melhor arquitetura do país, então como o pai de Renzo, sendo tão exigente do jeito que é, escolheria logo eu como esposa para ele? Está tudo explicado, mas tão confuso.

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