Fucking Angel

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Já era segunda-feira e mais uma noite em claro se passara. Eu sei, eu sei que vampiros não precisam não dormir, mas o que me falta é sono. Aposto o que quiser que se você virasse um vampiro não iria parar de pensar em como ficaria sua família, o que seria de você depois de ver todos que ama morrendo, entre outras perguntas que não saem da minha cabeça.

Já passam das seis da manhã e eu estou deitado na grama do quintal dos fundos aproveitando enquanto o sol não está forte, sinto o cheiro de café e torradas. Gemma me traz algumas torradas com geleia e uma xícara de café, coloca a bandeja ao meu lado e se senta.

- Hazz?

- Diga.

- Um colega meu de faculdade vai vir aqui, tem algum problema?- Ela diz, arrancando algumas beiradinhas queimadas de uma das torradas.

- Não, e por que teria?- Digo me levantando, ficando sustentado em meus cotovelos e fitando seus olhos inchados.

- Não sei talvez você se sinta desconfortável ou algo assim. - Gemma está olhando para baixo.

- Problema algum.

Ela sorri mostrando aquelas covinhas que não via há uns dois dias. Gemma se levanta e deixa um beijo em minha testa e sai andando para fora de casa.

O café estava sem açúcar e as torradas passaram do ponto, mas não posso culpa-la. Minha irmã não dorme direito desde o acontecido, como sei? Ouço-a se culpando em seu quarto dizendo que se ela não tivesse concordado com a festa isso não teria acontecido, mas a culpa não é dela. Na verdade a culpa não é de ninguém, era do instinto de Niall e dos outros dois, não posso culpa-lo só por que ele estava com sede bem na hora da festa. Termino de comer e coloco tudo na lava-louças e vou para o meu quarto. Lá eu coloco a TV em algum canal de compras, desses chatos, e deito na cama. Em poucos segundos eu adormeço.

O sonho era o mesmo. Os gritos apavorados, idênticos, não tinha um a mais e nem um a menos. O anjo gemeu novamente e escorregou dos meus braços caindo de bruços no chão. Percebo que com o meu abraço quebrei a asa que ele usava. O sangue de seu pescoço vazava muito, logo tinha uma poça de sangue no chão e todos me olhavam horrorizados, principalmente Gemma. Olho de novo para a pessoa jogada no chão e percebo que é um garoto pelo topete desarrumado agora encharcado de sangue, coloquei minhas mãos em seu ombro e fui virá-lo, ver se o reconhecia ou algo assim e... QUE CHEIRO É ESSE?

Abri os olhos rapidamente, chegou a me dar um pouco de tontura. Sentei na cama e fiquei sentindo aquele cheiro. Era doce, mas não se comparava a nada que eu tenha visto ou algo assim, mas parecia apetitoso.

- Harry, cheguei!!- Gemma berrou do andar de baixo e eu olhei para o celular e eram três da tarde já. Resolvi tomar um banho rápido e comer algo, afinal vampiros precisam comer comida também. A água morna me parecia quente demais então coloquei na água fria, entrei debaixo do chuveiro e fechei os olhos e a primeira coisa que me veio à mente foi o anjo e o gemido dele e me bateu uma dúvida: Vampiros têm ereções? Acho que não, depois ligo para Zayn.

Saí do banho, vesti uma cueca e uma calça jeans e desci. O cheiro ficava mais forte, Gemma devia estar fazendo alguma coisa na cozinha. Parei no topo da escada e vi minha irmã sentada na frente da mesinha de centro e alguém com ela, essa pessoa usava uma toca verde com o cabelo todo para dentro e uma camisa larga mostrando uma tatuagem no peito. A pessoa levantou os olhos para me olhar e sorriu como cumprimento. Era Louis, colega da minha irmã.

- Por que está sorrindo?- Gemma perguntou prendendo os cabelos rosas em um coque desarrumado.

- Seu irmão está ali. - Ele apontou e ela olhou também sorrindo. A voz de Louis era a mesma de uns dois anos atrás quando ele ainda vinha aqui em casa, mas ele arranjou um estágio no hemocentro e não veio mais aqui. Ele ainda sorria e senti meu rosto queimar de vergonha, mesmo meu sangue não circulando. Desci ainda olhando Louis, que agora olhava para seus cadernos. Ele é um cara bonito, mas não um bonito convencional, é um bonito pra caralho, tem olhos bem azuis e o cabelo sempre bem arrumado.

Fui para a cozinha e peguei uma maçã, sentei-me à mesa de jantar e eu ouvia algumas coisas que ele falava: "como seu irmão cresceu", "como ele mudou, né?", "o cabelo longo ficou bom nele". Confesso, me senti feliz com as coisas que ele dizia ao meu respeito. Com tudo o que aconteceu me esqueci do cheiro, mas ele ainda estava presente e mais forte ainda.

Levantei-me, seguro de que não morderia pescoço algum, e fui me sentar na sala. Deitei no sofá que ficava um metro, mais ou menos, atrás de Louis. Percebi que o cheiro ficara mais forte chegando a ser sufocante, mas ainda assim gostoso. Sentei-me no sofá e senti os corações pulsando a todo o momento e o cheiro me deixava tonto, senti os caninos se alongarem e rasparem no meu lábio inferior o fazendo sangrar. Olhei no celular e, por sorte, meus olhos não estavam pretos, mas percebi quem minhas mãos tremiam derrubando o celular, centímetros do quadril de Louis (e que belo quadril). Abaixei-me para alcança-lo, com a cabeça próxima às costelas de Louis e eu percebi algo. O cheiro era de Louis.

Achando que não resistiria, agarrei o celular e me levantei o mais rápido que conseguia, mas Louis me pegou pelo pulso e me fez sentar de novo. Gemma estava perplexa, parecia com medo. Claro Harry, seu idiota, ela não quer que o irmão imbecil e vampiro dela mate seu colega de faculdade. Olhava para baixo enquanto Louis colocava as duas mãos em meus joelhos e me encarava.

- Harry, você está bem?- Não respondi, soa ridículo, mas eu estava fazendo respiração de quatro tempos. – Harry, olhe pra mim. -

Levantei a cabeça devagar e o encarei. Seus olhos azuis me fizeram lembrar aquele sonho da festa de halloween. O anjo caído, eu o virando e surpresa. O maldito anjo era o Louis.




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