The Theory

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Não disse nada, fiquei paralisado, tanto pelo susto de ter alguém lá quanto pela beleza do sujeito. Ele tinha a pele meio bronzeada, meio latina, os olhos eram escuros e o cabelo castanho, mas o que mais chamava atenção era o maxilar forte e acentuado.

- Cara, você está se sentido bem?- Ele estava se aproximando. – Harry, não é?- Ele perguntou. Como ele sabia? – Zayn me disse. – Calma... eu perguntei em voz alta?

- E-então você sabe que eu...

- Que você morde pescocinhos inocentes por aí? Sei. – Ele falou dando de ombros.

- Você também...- Ele assentiu antes de eu terminar a pergunta. Eu tinha acabado de conhecer ele e já havia me estressado. Eu só estava querendo acabar com aquilo logo e voltar para casa.

- Por aqui. – Ele disse e saiu andando. Eu o segui. Chegamos em uma sala onde havia estantes e mais estantes com bolsas de sangue e algo dentro de mim parecia revirar só com o cheiro da sala. – Pegue qualquer bolsa, mas só é permitido até duas bolsas por visita, dependendo da sede. – Ele saiu e fechou a porta atrás de si e então fiquei sozinho naquela sala. Eu não queria ser um monstro, então resolvi fazer do jeito mais desleixado possível. Coloquei a mão em qualquer bolsa e saí da sala. Eu me recusava a ficar escolhendo sangue igual aqueles especialistas em vinho ficam cheirando até achar um agradável.

Grayson estava sentado em uma escrivaninha mexendo em um computador e me apontou a cadeira em sua frente. Sentei e encarei a bolsa. Nela havia uma etiqueta escrito o nome do doador. Margareth Taylor. Pobre Margareth, deve estar pensando que o sangue está sendo usado para curar um ferido ou ajudar em alguma outra situação, quando na verdade só está matando a sede de um marmanjo. Olho para Grayson e ele estava segurando uma risada enquanto continuava mexendo no computador. Continuei encarando a bolsa e pensando em como seria sem graça eu morder aquela bolsa na frente de um desconhecido. O que eu não daria por um copo nesse momento? E então a coisa mais impressionante da noite aconteceu, Grayson, sem desviar o olhar da tela, abriu uma gaveta da escrivaninha e tirou um copo descartável. Fiquei em estado catatônico, mas ainda assim perguntei.

- Sério cara, como você faz isso? Primeiro, eu mal conseguia terminar uma pergunta que você já respondia e agora isso? Você é algum tipo de super-herói vampiro ou algo assim?

- Desculpa ter feito isso, é que eu não vejo tanta gente assim, só de vez em quando Zayn ou algum amigo dele. E sobre como eu faço isso eu também não sei, eu só ouço uma voz na minha cabeça, tipo quando você fica com uma impressão de alguém ter falado algo, mas na verdade não disse nada.

- Como você conseguiu isso? Bebeu sangue radioativo?- Ele riu, então pegou a bolsa de sangue, rasgou a válvula e despejou o líquido no copo, arrastando este para mim em seguida.

- Na verdade, eu não tenho um explicação muito concreta para isso, mas tenho uma teoria. Quando eu era...vivo, eu tinha um problema muito grave na cabeça por causa de um acidente e então a enfermeira que trabalhava lá em casa me ajudando a fazer algumas coisas não aguentava ver meu sofrimento e me transformou, então meio que minha maior fraqueza virou minha melhor qualidade. Mas é só uma teoria.

- Nossa cara, que história foda. O que aconteceu com a sua enfermeira?- Perguntei finalizando meu copo e o enchendo de novo.

- Bom, depois que ela me transformou nós fugimos e meio que nos casamos –Gray deu ênfase na palavra fazendo aspas no ar. – Vivemos felizes por um bom tempo, até que um dia ela saiu para caçar e eu nunca mais a vi.

- Nossa, Gray, eu sinto muito. – E sentia mesmo.

- Pois é, mas vamos mudar de assunto... Pobre Margareth?- ele disse já começando a rir, então sim, ele ouviu o que eu disse. Conversamos por um bom tempo, ele me contou como conheceu Zayn, suas muitas histórias de amor que renderiam muitos best-sellers. Gray realmente era um cara legal, trocamos celulares para manter contato.

Olhei para o relógio que já marcava 01:15. Levantei apressando, limpei a mesa, joguei o copo no lixo e me despedi de Grayson.

- Bom, como dizia minha avó: barriga cheia, pé na areia. Até mais, Gray. – E sai, deixando ele rindo sozinho em sua sala.




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