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SE VOCÊ ATRAVESSA por toda a extensão uma das ruas compridas que cruzam San Francisco no sentido norte-sul, certamente vai passar por quase todos os tipos de bairros, o espectro completo, desde super-ricos aos pobres mais miseráveis. Em nenhum outro lugar isso se tornava mais evidente do que na Divisadero. Em uma outra extremidade, à beira d'água, eram encontrados os vagabundos, bêbados e viciados. Lá em cima, nas Heights, a partir do número 2200, viviam os cidadãos mais ricos de San Francisco. A Divisadero, 2235 ajustava-se com extrema perfeição ao resto da área, parecendo mais uma mansão do que uma casa comum, com o mesmo cheiro de dinheiro que era tão óbvio na residência do falecido Johnny Boz. Não foi surpresa para nenhum das duas detetives o fato de serem atendidos na porta por uma criada, e também não ficariam surpresas se ela os encaminhasse para a entrada dos fundos, a que era usada por entregadores e serviçais. A criada era uma chicana, mais do que provavelmente uma imigrante ilegal, e sabia reconhecer a face da autoridade quando a encontrava. Não parecia feliz. Eles mostraram seus emblemas.

-Sou a detetive Manobal e esta é Detetive Kim Jisoo, do Departamento de Polícia de San Francisco.

Um medo fugaz passou pelo rosto da criada.

- Da polícia - acrescentou Jisoo.

A criada, em momento algum, parecia absolutamente tranquilizada.

-Entrem - murmurou ela.

Conduziu-as pela casa, deixando-os numa sala de estar. Era elegante e imponente, com janelas altas, formando arcos, viradas para leste, na direção da curva azul da baía de San Francisco. Lalisa e Jisoo ficaram impressionadas, de um modo geral, homicídios não levavam os tiras a lugares tão elegantes. Havia um quadro pendurado na parede da direita e Kim Jisoo examinou-o atentamente, como se fosse um connoisseur.

-Isso é ótimo - disse ela

- Boz possui um Picasso e a tal de Jennie Kim também tem um.

-Ambos são Picassos.

-Não imaginava que você soubesse quem foi Picasso, Jisoo, muito menos que fosse capaz de identificar um dos seus quadros.

-É extremamente fácil.

Jisoo sorriu.

- Basta saber o que tem de procurar, na verdade. Por exemplo, uma assinatura grande. Está vendo ali embaixo, no canto? Está escrito "Picasso", tão claro quanto o dia.

-É uma pista infalível. O Picasso dela é maior do que o Picasso dele - comentou Lalisa.

-Dizem que o tamanho não faz diferença - declarou uma voz de mulher.

Kim Jisoo e Manobal se viraram.

Havia uma linda morena parada ao pé da escada, os olhos puxados. Os malares poderiam ser a inveja de qualquer modelo de moda. Usava um colete preto e dourado todo bordado, um jeans preto bem justo e botas pretas de vaqueiro. Parecia o tipo de mulher que um astro do rock gostaria de ter em seus braços.

-Lamentamos incomodá-la - disse Lalisa - Mas gostaríamos de fazer algumas...

-Vocês são da Entorpecentes? - perguntou a mulher, friamente.

Se estava assustada com a presença da polícia, não demonstrava: ela fazia um excelente trabalho em disfarçar o medo.

-Homicídios - respondeu Lalisa.

A mulher acenou com a cabeça para si mesma, como se Manobal confirmasse algo que já imaginava.

-O que vocês querem?

-Quando foi a última vez que viu Johnny Boz? - indagou Jisoo.

-Ele está morto?

- Por que acha isso? - Perguntou Lisa

Atração Fatal | JENLISA G!POnde histórias criam vida. Descubra agora