Realidade notória

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— Como isso está bagunçado...

Adentro no quarto pequeno e abafado, as primeiras luzes da manhã se infiltram pelas frestas da janela, revelando o caos de um espaço há muito negligenciado. No centro do cômodo há a cama toda bagunçada com os lençóis emaranhados. O cheiro do local estava me dando enjoo, já que odor era de sexo da noite passada. Eu já deveria estar acostumada com esse caos, mas acho que nunca vou me adaptar a essa vida medíocre que levo há mais de seis anos. Começo recolhendo as roupas pelo chão, onde estão amassadas e que parecem lutar para escapar das minhas mãos. Com movimentos metódicos, pego cada peça sem imaginar se está suja. Não quero pensar que toquei em algo gosmento. A seguir, pego os lençóis machados de sangue misturados com sêmen, dava para se notar a bagunça pelo tecido ser branco.

— Foi uma das meninas novatas ou aconteceu que um daqueles miseráveis exageraram de novo...

Resmungo alto em pensar no motivo do sangue, já que cobria boa parte do tecido. Essa semana chegou outra remessa de novas escravas, então muitos clientes vem aqui ver, comprar ou "provar" delas. E que acaba dando nisso, lençóis machados, não só pelo sangue, mas também pela dor e nojo que com certeza deve está corroendo o corpo da pobre coitada que foi escolhida para estar aqui na noite passada. Nunca pegaram levem... Acho que nunca vão pagar, já que a maioria tem prazer em ver que nós agoniando de dor, pedindo mais do que tudo para morrer naquele momento. Outro motivo para a possível explicação desse tanto de sangue, é que pode ser que um dos nossos clientes "passou dos limites" na bebida e descontou nela... Agressão física já virou rotina neste estabelecimento, no dia em que não tem uma garota saindo do quarto sangrando pelo corpo desesperada é porque o cara se apaixonou por ela ou ele está doente.

Troco os lençóis e termino de pegar todos os panos impuros do quarto. A superfície da mesa, antes invisível por garrafas de bebidas, agora ressurge, limpa e pronta para novas ou mesmas situações. Por fim, com um borrifador de uma loção, lanço pelo quarto domesticado, percorre cada canto, exorcizando as lembranças de uma noite agonizante e monstruosa. O quarto, agora impecável, reflete de certa forma minha satisfação. Planto minhas mãos na cintura, observando o resultado, vendo o resultado da minha rotina mais leve, porém, a que me faz pensar todos os dias o que tinha acontecido se eu não tivesse ido parar aqui.

Com passos pesados, atravesso o quarto até a porta. Giro a maçaneta com força e saio para o corredor. As paredes eram frias, o carpete áspero sob meus pés.

No final do corredor, parei diante da porta da cozinha. Onde vi as garotas consolando a pobre menina que creio que seja da noite passada. A jovem já estava com falta de ar de tanto chorar, com certeza ela perdeu o fôlego pelo o que aconteceu antes, não tem muito que fazer, e as meninas veteranas sabem disso. Ela soluçava, o peito apertado pela tristeza. As lágrimas se misturavam com seu suor escorrendo pelo seu rosto. Seus olhos estavam vermelhos e inchados, mas ela não conseguia parar. Cada lágrima era uma expressão de sua dor, as mãos tremiam enquanto ela segurava um copo de água dado para ela, em busca de amenizar seu escândalo. Mas então, lembranças de anos há atrás surgiram em minha memória. O jeito como essa garota está reagindo foram as minhas reações que tive. Estava com medo, nojo, raiva... Queria morrer ou esquecer que aconteceu. Me sentia péssima, passei dias tendo nojo do meu corpo por ter deixado ele ser tocado de uma forma tão grotesca. Não sei como, mas sobrevivi após aquele fatídico dia, assim como as meninas estão ajudando ela fizeram o mesmo comigo, fui relutante com elas em como aceitaram essas situações deploráveis, porém, com o tempo entendi porque não tinha e não tem saída para esse mundo, principalmente se for comandado por homens que apoiam e praticam exploração sexual. Independente da idade, eles só querem satisfazer seus desejos mundanos. Me recordo como se fosse ontem... Não aguentei três minutos com aquele cara no quarto, além de ser o dobro da minha altura o brutamontes tinha um tanto de uma peculiaridade anormal para o meu ver, a porra dele era muito grande... E quando falo grande é porque é grande mesmo. Não sei como ele enfiou aquilo em mim, me recordo de dar um grito que fez o som ecoar pelo cômodo, surtei na hora, só queria sair dali, mas ele não parou, continuo seu ritmo rápido e bruto até eu desmaiar de dor.

Sem escolhas, mas com consequências - Jujutsu KaisenWhere stories live. Discover now