Capítulo 2

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Embora fosse muito pequeno, tinha memórias vivas daquela época.

a própria prateleira na biblioteca da mãe, contendo os livros infantis que aprendeu a amar desde que se entendia por gente.

a bíblia sendo lida ao início de cada dia pelos três, sentados à volta da mesa do café da manhã, alimentando o espírito antes da primeira refeição.

seu passatempo favorito era observar a mãe de longe, compenetrada na escrita.

passava boa parte do tempo olhando através da fresta da porta da biblioteca aguardando o momento certo para entrar e se esconder entre duas estantes repletas de livros.

celeste ficava entre a bíblia e o computador, em uma concentração que na opinião do filho deveria ser inquebrável. ou seja, ninguém poderia interromper.

Na opinião de celeste, aquele era o melhor lugar da casa.
ao terminar o capítulo, olhou em volta, deparando-se com a miniatura de gente escondidinha.

aproximou-se vagarosamente do filho, o tomando nos braços.

—menino curioso hein?. — a voz melodiosa de celeste era o que deixava mais saudades no filho.

os olhos azuis como o céu, carregavam um brilho sublime Na visão  de diego.

o menininho sorriu, mostrando a janelinha de um dos dentinhos ausentes do lado esquerdo, na parte superior da boquinha.

—a mamãe vai morder essa bochecha!. — ameaçou celeste.

o pequeno diego de 5 anos, cobriu o rostinho, tornando evidentes apenas as covinhas do queixo.

era semelhante a mãe da cabeça aos pés.

as covinhas, o sorriso, as iris azuladas e o emaranhado de cachos negros.

—acho que se um dia o mundo acabasse, vocês dois se esconderiam aqui dentro. — adentrando o recinto, pietro aproximou-se da esposa e do filho.

—é o primeiro filho que se parece com a mãe física e na personalidade, dá para ver a participação que você teve. — sorrindo,, celeste brincou.

—a, mas eu não acho ruim não, é bom que ele pareça com você.

...

era difícil para diego lembrar do pai antes da decadência, da auto-destruição.

celeste não tinha abandonado a família por vontade própria, embora fosse muito pequeno na época, tinha consciência disso.

a medida que o tempo passava, lutava para compreender o pai, ciente de que a morte não era uma escolha, e sim uma consequência da vida.

para pietro até o último momento, não Existiam limites.

tudo era feito aos extremos.

a bebida, o cigarro, as mulheres, as dívidas de jogo.

muitos filhos aproveitariam o estado lastimável do pai para curtir a vida, viver intensamente, até acompanhá-los em alguns momentos.

assim que compreendeu o que se passava com o pai, diego decidiu tomar as rédeas da própria vida, amadurecendo cedo demais.

se não assumisse a editora construída pelos avós com tanto sacrifício ao completar a maioridade, se não continuasse o legado deixado pela mãe, perderiam não só o dinheiro, mas a única lembrança viva de celeste.

assumiu a parte patriarcal da família, cuidando até mesmo do pai quando necessário.

cresceu ouvindo que deus poderia ter evitado a morte de sua mãe, ou mesmo que era culpa de celeste.

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