VIAJANTES

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Derek se percebeu acordando em uma cama confortável, com um lençol com cheiro de rosas lhe cobrindo até os ombros. Estava sem camisa, mas viu que suas calças continuavam no mesmo lugar ao levantar o cobertor. Sentou-se na cama e observou o armário no canto superior, acima da pia ao lado do fogão, tudo iluminado pelas janelas atrás dele.

Ainda que o lugar fosse apertado e desconhecido, nem de longe era como acordar enjaulado no fundo de uma gruta; por isso, não saiu correndo pela porta aberta imediatamente. Calçou os sapatos aos pés da cama com calma, levantou-se e desceu os degraus para fora, vendo que estava saindo de um motorhome acoplado em uma Kombi, o veículo inteiro transformado em uma casa sobre rodas.

Deu a volta pela parte frontal e encontrou um toldo partindo da lateral fazendo sombra sobre uma mesa de madeira com cadeiras. Além, havia um homem de costas, virando fatias de carne em uma churrasqueira e assobiando uma melodia qualquer.

Derek se concentrou, talvez com esperança de que seu senso musical encontrasse na canção uma pista de onde estava, mas percebeu que se quisesse saber de algo teria de perguntar. Abriu a boca e ouviu uma voz feminina soar antes que emitisse a primeira palavra.

– Que bom que acordou, meu amor. – Eveline o abraçou pelas costas. – Estava preocupada.

Ele se virou e a encontrou com um sorriso forçado, a expressão exata de quem dizia "cala a boca e me segue".

– Onde estamos?

– Em um lugar seguro. – Uma senhora de tiara na cabeça e com uma saia de cores vivas arrastando pela relva se aproximou.

– Derek, eu quero que conheça Sra. Kimberly e Sr. Edmund Blank. Eles nos abrigaram ontem à noite, depois do que aconteceu. Não lembra?

– Ah, o que aconteceu. – Ele observou as árvores no final do campo em que a Kombi estava estacionada, perto de uma estrada, bem como a cadeia de montanhas delimitando o horizonte mais ao longe, e podia se lembrar dos eventos que encerraram o dia anterior: o voo alucinado, a perseguição de Atlas pela floresta, a queda pela encosta. No entanto, o envolvimento daquelas pessoas nisso tudo permanecia nebuloso, como uma ilusão onírica.

– Horrível. – Sr. Blank deixou a churrasqueira e se juntou ao pequeno grupo. – Sua noiva contou o que aconteceu.

– Contou? – Derek olhou para Eveline. O coque estava desfeito e os cabelos dela caíam sobre as alças e costas do vestido amarelo.

– Sim – ela falou. – Você estava praticamente desmaiado e não deve lembrar. Contei como fugimos pela floresta de um sequestro relâmpago que sofremos durante nossa viagem de carro e sobre sua queda em um desfiladeiro.

– Verdade. – O rapaz acompanhou a colega. – Foi horrível mesmo.

– Deve querer ir para um hospital. Pode ter batido a cabeça – disse Edmund.

– Não, não. Estou ótimo. Eu só... – Derek foi interrompido pelo ronco de seu estômago.

– Está faminto, não é? Para sua sorte, estamos terminando de preparar o almoço – falou Sra. Blank.

– Sente-se – emendou o marido, adiantado-se para puxar uma cadeira da mesa.

– Não estou em trajes adequados. – O rapaz cruzou os braços e encolheu os ombros, como se assim ficasse menos nu na frente dos outros. – Onde está minha camisa?

– Joguei fora – disse Eveline. – Estava imunda. Suas calças também não estão lá essas coisas, mas por motivos óbvios preferi que ficasse com elas.

Derek Campbell contra a EfígieDonde viven las historias. Descúbrelo ahora