Jun Wu - A Terceira Face do Príncipe • Livro 3

Chapter 532 O desespero, a loucura, a tentativa afã de reverter o destino 1

Capítulo 532 O desespero, a loucura, a tentativa afã de reverter o destino 1

Estava acima das nuvens.

Não sabia o quão alto estava, mas não importava.

Não fazia diferença.

O céu acima das nuvens estava coberto de um tom laranja iridescente, um horizonte infinito.

Seu olhar capturou algo branco no céu, era como uma mancha branca vindo de longe e quanto mais se aproximava, suas formas ganhavam uma nova definição.

Asas brancas cortavam a coloração laranja ardente, o ar tornando-se ventania contava-lhe que aquelas asas eram estupendas.

Um Grou¹ gigante e majestoso vinha em sua direção.

O vento soprando seus cabelos, fazendo suas roupas esvoaçarem com certa delicadeza etérea.

Apesar de se dar conta disso, sentia-se estranhamente calmo.

Observando que aquela ave mitológica estava sendo conduzida por uma figura misteriosa, a silhueta era feminina, mas seu rosto e corpo estava coberto por um manto cor de areia, neutro e simplório.

Era como se a condutora do Grou fosse uma figura insignificante, meramente cumprindo uma função.

A ave branca, com detalhes negros no pescoço e na cauda, uma mancha vermelha tal como um pingo de tinta no topo de sua cabeça planou ao seu lado.

Estando ali acima das nuvens, sabia que precisava se juntar à silhueta feminina, estava claro que ela estava ali por sua causa.

Sem hesitar, subiu no torso da grande ave e juntou-se suavemente à condutora, que apenas virou ligeiramente a cabeça sobre o ombro para confirmar que havia embarcado.

Estando curioso, com tanto em mente, não poderia ficar calado.

Era verdade que já tinha passado por muita coisa, visto o inimaginável, transcendido o tempo.

Mas, Jun Wu nunca tinha passado por isso.

O Grou foi dando meia volta na imensidão do céu que aos poucos pareceu anoitecer, as asas majestosas batendo num ritmo elegante e preciso.

— A morte é assim para todos? — Jun Wu perguntou gentilmente, desviando o olhar do céu e mirando-se por cima do ombro da condutora.

— Creio que não... — Ela respondeu de modo inesperado, prontamente, sua voz era juvenil. — Quando a morte o toca, sua essência molda uma situação confortável para que possa partir para o Submundo... Você imaginou assim.

De repente, Jun Wu se perguntou como foi a partida de Huan Shui para o Submundo, ele queria tanto ter a chance de perguntar ao seu marido, ouvir a voz dele dissertar com doçura sobre a paisagem que o levou ao Reino dos Mortos.

Mas, esse não era o objetivo principal, sem chance de perder o foco.

— Estou um pouco surpreso, admito... — Jun Wu replicou após uma breve pausa entre suas vozes. — Mas, eu vou voltar a vida breve, estou aqui apenas para solicitar um momento de conversa com o Ceifador, o Deus da Morte.

A condutora não expressou surpresa, no entanto, não respondeu tão prontamente.

Sem dúvida era algo estranho de se ouvir, essa alma ainda poderia estar em período de confusão? Não sabia dizer com certeza, tão pouco importava.

— Os mortos, normalmente... — Ela comentou num tom de voz neutro. — Não se encontram com a figura do Ceifador pessoalmente. Temo que se desiluda.

— A senhorita já esteve pessoalmente com o Ceifador?

Jun Wu ficou em dúvida, porque teve a forte sensação de ouvi-la sufocando uma risada.

— Como poderia? Eu sou fruto do desejo da sua essência, uma guardiã que escolta almas para o Submundo... Apenas isso, nada mais.

Sua voz passava claramente a ideia que era impossível interferir na ordem natural do Submundo, a condutora era como uma figura alegórica, um subterfúgio para atenuar a passagem de quem havia falecido.

Sem conseguir medir o tempo transcorrido, Jun Wu viu tudo atrás de si desaparecer assim que pisou no Reino dos Mortos.

Sem céu, sem mais Grou ou condutora de voz juvenil.

Apenas imensos portões à sua frente.

Nitidamente fechados, uma aura de sofrimento estridente pairava por trás dele.

Mas... Por que?

Atrás deles estaria o Submundo?

Jun Wu se aproximou e tocou na solidez dos portões que eram mais altos do que ele, espalmando a mão.

Sua mente tratando de maquinar alguma solução, sabendo o pouco tempo que tinha, quando uma voz o interpelou.

Porém, ele estava cercado por duas figuras que vinham de lados opostos.

Alternando seu olhar entre os dois, analisou rapidamente a estranho trajando veste negras profundas, seu rosto metade encoberto por uma máscara brilhante como obsidiana com detalhes em prata, enquanto o que vinha pela direita tinha o tronco nu coberto por tatuagens em azul e vermelho que lembravam os padrões das ondas do mar, o cabelo selvagem solto e apenas uma bandana de tecido orlava sua testa.

Como os olhares não eram nada amistosos, Jun Wu levou num gesto mecânico a mão à cintura, mas Fang Xin que era um bem material do Reino Mortal não poderia estar com ele naquele lugar.

— Você não é bem vindo aqui! — O homem usando a máscara, ou o quer que fosse anunciou apontando em sua direção.

— Neste instante estou apenas de passagem, senhores. — O deus maior tentou soar educado e cordial. — Gostaria de ter apenas uma breve conversa com o Ceifador, mestre desse reino.

O estranho de tronco tatuado, de modo que os desenhos na pele se assemelhavam a uma vestimenta, sorriu de lado obtuso, o olhar sardônico:

— Niu Tou, já que ele tanto insiste, por que não abre os portões do Inferno? Não o deixaremos sair depois!

Jun Wu meramente franziu as sobrancelhas: "Portões do Inferno? Será que fiz a proeza de vir ao lugar errado?"

O cenário era desfavorável ao extremo, os dois estranhos avançando em sua direção e no momento Jun Wu sabia que estava invadindo um território que se quer conhecia, menos ainda suas diretrizes!

Seu espírito desarmado tinha um tempo limitado de retorno ao Reino Mortal, mas o que aconteceria se o prendessem no inferno?

Um tremor violento se apossou de seu íntimo e seu coração caiu.

Ainda que ele não demonstrasse nada ao encarar os dois estranhos que o cercavam como leões famintos, alternando um olhar frio e sistemático entre eles.

Em meio a tensão extrema, uma voz marcante pairou por trás de Jun Wu.

A voz trazia a sensação que apenas seu timbre poderia derrubar cidades inteiras.

— Niu Tou, Ma Mian... Deixem o intruso comigo.

Foi a última coisa que Jun Wu ouviu antes de subitamente se ver em outro cenário, nem mesmo houve tempo de olhar para trás.