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DULCE


O aroma dos lírios é sufocante. Christian está segurando o buquê ao meu lado enquanto nos abraçamos ali, no escuro, as flores pressionadas contra meu vestido, sujando o tecido de pólen. Quando olho para as marcas na seda, noto que estou tremendo tanto que a saia do vestido balança. Não me lembro exatamente do que Justin disse quando foi embora.

Na verdade, já sinto que não lembro muito bem da conversa que acabou de acontecer.

Talvez tenha sido apenas um sonho, e eu ainda esteja de pé no meio da multidão, perguntando-me se Katherin vai mencionar meu nome no discurso de agradecimento e se os enroladinhos na bandeja de canapé são de pato ou frango.

— E se... E se ele ainda estiver ali? — sussurro para Anahí, apontando para as cortinas pretas por onde Justin saiu.

— Chirstian, segura aqui — pede Anahi.

Acho que ela está falando de mim.

Anahi desaparece nos bastidores, enquanto, no palco, Katherin se despede da plateia com aplausos ensurdecedores. Christian segura meu cotovelo, obediente.

— Está tudo bem — sussurra.

Ele não diz mais nada, só começa um dos silêncios parecidos com abraços que eu tanto adoro.

No mundo do outro lado das cortinas escuras, a multidão ainda aplaude.

Aqui, o som abafado se parece com chuva pesada caindo no asfalto.

— Vocês não podem mesmo ficar aqui — insiste o técnico de som, exasperado, quando Anahi volta.

Ele dá um passo para trás quando ela se vira e olha para ele.

Não o culpo.

Anahi está preparada para guerra e parece muito assustadora.

Ela passa por ele sem responder, erguendo a saia para pular os cabos.

— Não tem nenhum ex maluco aqui — diz, voltando para o meu lado.

Katherin entra de repente, vinda do palco.

Quase bate em Christian.

— Nossa! — exclama.

— Isso tudo foi muito dramático, não foi? — Ela me dá uma série de tapinhas, de um jeito maternal.

— Você está bem?

Imagino que aquele cara seja...

— O ex-namorado stalker da Dulce — sugere Anahi.

— E, falando em stalkers, acho que a gente precisa ter uma conversinha com o Martin...

— Agora não — imploro, agarrando o braço dela.

— Só fique comigo um pouquinho, está bem? A expressão dela se suaviza.

— Tudo bem.

Posso arrancar os testículos dele outra hora.

— Combinado.

Que nojo... — Não consigo acreditar que ele ficava contando para aquele filho da mãe onde você estava o tempo todo.

Você deveria prestar queixa, Dulce.

— Com certeza tem que pedir uma ordem de restrição — diz Christian, baixinho.

— Para o Martin? Não vai ser estranho por causa do trabalho? — respondo, sem ânimo. Christian apenas me encara.

— Você sabe de quem estou falando.

PÓS-IT | Vondy - AdaptaçãoWhere stories live. Discover now