Capítulo 5

1 0 0
                                    

 POV Michelle

Acordei cedo, fiz a minha higiene e desci. Sentei-me no sofá, viajei por alguns minutos nas redes sociais. E depois lembrei-me do que a Kira tinha dito e tive um espasmo, ia deixando cair tudo ao chão.
- Vero, vem aqui! Agora! - Gritei, ainda com o portátil em cima de mim.
A morena apareceu na sala, a correr e vinha com um ar assustado e estava um pouco pálida.
- O que foi, Casper? Quem morreu? - Perguntou-me.
Fiz-lhe um gesto para ela se aproximar e olhar para o monitor. Vi o seu queixo a cair, enquanto lia a informação repetidas vezes. Vero olhou para mim.
- Como assim?
Gargalhei.
- A Kira disse que nós íamos ser premiados.
- Caralho! Michelle, 50 mil?

Fomos no Volvo da Vero, e lá estava a começar mais uma semana de faculdade e dois trabalhos em simultâneo. Contudo, valia a pena. Conseguíamos viver confortavelmente, sem preocupações. Parte de mim sentia-se nervosa pelo convite do professor Gustav. Tentei não pensar nisso para a insegurança não crescer. Hoje mal vi a latina o que foi excelente, o meu sistema nervoso agradecia. Antes da última aula dirigi-me à sala dos professores e lá encontrei Gustav, ele já estava a falar com a minha professora para me dispensar e a mesma concordou.



POV Karla

Já estávamos na sala de canto e o professor Gustav não aparecia. Já passavam 10 minutos, será que tinha acontecido alguma coisa?
- Vai na volta, estamos aqui feitos parvos e nem vai haver aula. - Retorquiu o meu namorado, que estava sentado ao meu lado.
- Queres é ir passear com a Karla, Don Juan. - Gozou Dinah.
- Oh, e nem era má ideia!
Ri-me.
- Será que se esqueceram de nos avisar, que ele não vem hoje? - Atirou-me Lucy.
Encolhi os ombros, a porta abriu-se. Lá vinha o professor Gustav no seu estilo descontraído de sweatshirt, jeans e ténis. E depois de o ver, ia tendo um ataque cardíaco. Atrás dele, entrara outra pessoa. E como era muito óbvio os olhos dessa pessoa caíram logo em mim, como se houvesse um íman gigante entre nós. Foi óbvia a sua surpresa por me ver, aparentemente, ela também não estava à espera. O professor fechou a porta.
- Boa tarde a todos! Hoje trouxe a Michelle, é da turma de artes visuais. - Indicou enquanto puxava uma cadeira para ela se sentar.
Os seus olhos viajavam entre Gustav e eu. Por duas vezes, fixou-se os meus colegas ou observava a sala.
- Esta aula vai ser diferente. Podem utilizar instrumentos como acompanhamento, se assim o entenderem. Pretendo que se libertem e me deixem ouvir a vossa real voz. Podem fazer em duplas ou solos. Têm 15 minutos, depois começamos.
Eu e Samuel, entreolhámo-nos como um convite em simultâneo. Ambos sabíamos tocar guitarra acústica, agora só faltava escolher a música e reparti-la. Virei-me de costas para Michelle, pois queria concentrar-me e a presença dela estava a incomodar-me demasiado. Nem nas aulas posso estar descansada, aquela rapariga agoniava-me. Gostaria imenso de entender os motivos, porque sinceramente não há paciência.
- Amor, então... que música vamos cantar? - Sussurrou Samuel.
Soltei uma lufada de ar, eu tinha de prestar atenção naquilo e deixar a tal de morena dos olhos verdes de lado. Olhei em volta para ver o que os meus colegas estavam a fazer. Dinah e Ally também em dupla e Lucy estava com a guitarra acústica, enquanto folheava com pressa o caderno onde ela tem as suas músicas originais. Conhecia-a bem para saber que ela não ia dispensar a oportunidade para expôr uma das suas criações. Voltei-me para o meu namorado.
- Counting Stars?
Ele assentiu. Ficámos alguns minutos a ver como seria a performance e quando dei conta já o professor Gustav nos estava a chamar. Michelle por algum motivo estava sentada no piano com as mangas da sua camisola preta arregaçadas, dando sinais evidentes que iria tocar e muito provavelmente, cantar. Eu não queria assistir àquilo. Pensei em pedir ao Gustav para ir à casa-de-banho, mas seria mau demais. Limitei-me a focar o meu namorado.
- Bom, a primeira é a Michelle. Talvez agora entendam porque a trouxe hoje. - Indicou o professor com um sorriso no rosto.
Ela respirou fundo, fechou os olhos e as primeiras notas começaram a soar. Identifiquei logo a música era a Do I wanna know dos Artic Monkeys. A seguir a sua voz rouca e um timbre excelente, ressoou na sala. Os meus colegas estavam boquiabertos e eu estava em puro choque. Sentia arrepios pelo meu corpo todo. Como seria possível aquela rapariga cantar daquela maneira? Não desafinava em nenhuma circunstância. Eu não conseguia fugir, a sua voz e energia agarravam-me. Ela cantava de olhos fechados, acertando com facilidade nas teclas do piano como se já fizesse aquilo por anos. Inquestionavelmente, sabia que estava fixa nela, eu mal pestanejava. A melodia e, principalmente, a sua voz abraçavam-me com uma força que desconhecia. Michelle abriu os olhos e focou-me. As esmeraldas ardiam em mim de forma intensa, sentia-me a arder num sentimento desconhecido.
"Crawling back to you
Ever though of calling when you've had a few?
'Cause I always do
Maybe I'm too
Busy being yours to fall for somebody new
Now I've thought it through
Crawling back to you"
E voltou a fechar os olhos, para meu alívio. Pois, entretanto, deixei de saber como se respirava no automático. Quando ela tocou as últimas notas obriguei-me a fazer os possíveis para desviar a minha atenção dela. Os meus olhos caíram em Dinah, que estava a olhar para mim. Pela sua expressão facial, ela tinha reparado na minha atitude e na de Michelle. Engoli em seco, ouvia os meus colegas, assim como Gustav a bateram-lhe palmas. Ela sorria, estava corada e os seus olhos brilhavam, havia felicidade nela. A minha cabeça estava inundada de perguntas. Porquê aquela música? Porque ela me olhou logo naquele trecho? O que raio estava a acontecer?
- Muito bem! - Felicitou Gustav.
Ela voltou a sentar-se na cadeira inicial, ao lado do professor. O mesmo vagueou o olhar pelos alunos, parou em mim e sorriu.
- Karla e Samuel qual será o vosso presente para nós?
O meu namorado remexeu-se na cadeira.
- Counting Stars. - Respondeu ao professor.
Soltei uma pequena lufada de ar. Eu ainda não tinha recuperado e já me estavam a obrigar a actuar. Que os santinhos e o Deus da Ally me ajudem! Raios! Gustav olhava-me fixamente, assim como a rapariga ao lado dele.
- Karla, eu quero ouvir-te. Mostra-nos o que tens aí dentro, sim?
Limitei-me a assentir e fomos buscar as guitarras acústicas, e lá nos posicionámos. Eu não estava pronta para cantar, eu ainda me sentia a tremer com a actuação daquele Ser Humaninho que eu odeio. Apenas me concentrei em Samuel e engoli em seco. Por vezes olhava para Dinah e Ally. Nunca olhei para Michelle pois, com certeza, iria ter um surto naquela sala de aula.



POV Samuel

- Muito bem, Samuel. Karla, é isso mesmo! - Disse o professor.
Ajudei a minha namorada a guardar a guitarra, e assistimos ao resto das actuações. As meninas actuaram bem. Porém a atitude da tal Michelle, estava a enervar-me. Nem era de Música e estava ali para quê? Porquê? Ela até se desenrascava a cantar mas não era grande coisa. Eu cantava melhor e nem sei porque é que o professor está tão encantado com ela. Fiquei com ódio dela por perceber que até a minha namorada estava incomodada. Sei que a tal Michelle, é amiga da paixão da Lucy mas não é motivo para eu gostar dela. Talvez ela estivesse ali para nos jogar à cara que é do curso de artes visuais e canta, resumindo ela só quer atenção.



POV Michelle

O caminho até ao trabalho foi em silêncio, assim como o regresso a casa. Sentei-me no sofá a fazer festas ao Bailey e ela estava a fazer o jantar.
- Michelle?!
Levantei-me e fui ter com ela à cozinha.
- Está pronto. - Indicou.
Comemos em silêncio e ela foi passear o Bailey, fui à varanda fumar. Sentia-me com vontade de bater em alguém. Não conseguia entender porque é que a latina me importava tanto. Porque é que ela me ignora e enquanto eu estava a cantar ela estava fixa em mim, os seus olhos brilharam. Ela parecia... inconsciente? Aspirei a nicotina e deixava o fumo escapar pelos meus lábios de forma lenta. Lembrei-me do primeiro segundo em que a voz da latina entrou em mim. Era um timbre fora do normal. Agudo; afinado e poderoso. Os seus vibratos e falsetes eram perfeitos, como se fosse algo bem natural de se fazer. Karla, era um pouco tímida e contida em apresentações. Os meus olhos captavam cada reacção ou atitude sua. Não cruzou olhares comigo, como se eu nem existisse. Rosnei, eu tinha de me acalmar, havia trabalho para fazer mais tarde. Eu precisava de me concentrar e disponibilizar-me inteiramente para a responsabilidade que tinha em mãos.  

Eyes on the MoonWhere stories live. Discover now