Capítulo 30

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 POV Karla

Tinha chegado à poucos minutos a casa e a campainha do meu apartamento tocou, abri e vi o meu namorado com um sorriso diferente no rosto, os seus olhos estavam brilhantes. Entrou e beijámo-nos. Ele guiou-me para o sofá da sala e Max seguiu-nos, esparramando-se no chão a olhar para nós.
- O que se passa, amor? - Atirei.
Ele sorriu ainda mais.
- Nem vais acreditar... eu encontrei a minha irmã!
Abracei-o, estava mesmo feliz por eles. Já conhecia Clara e Taylor e apenas faltava esta rapariga. O sofrimento deles terminou, finalmente.
- Estou tão feliz, Karla... Ela está lá em casa agora. Vem jantar connosco, vem conhecê-la! Vais adorá-la, te garanto! - Dizia, rapidamente.
Sorri-lhe e desfiz o abraço.
- Preciso de um banho e de me arranjar já vamos, sim? Estou bastante curiosa, amor.
Beijei-lhe os lábios e fui para a minha suíte. Depois do banho fiquei algum tempo parada em frente ao closet, tentando decidir-me o que vestir. Botins num tom camel suave; jeans de ganga com um rasgão no joelho, um top curto branco e um casaco de malha com um corte bem diferente. Estava bom! Maquilhagem leve e toca a andar. Não tinha grandes paciências para me arranjar, estava cansada.
- Uau, estás linda! - Disse-me assim que cheguei à sala.
Ri-me. Despedi-me do Max, peguei na mala e lá fomos.

Entrámos dentro de casa do Chris e o mesmo caminhou para a sala, segui-o. Vi Taylor e Clara e de costas para nós havia uma mulher de cabelos negros, levemente ondulados.
- Mana! É a Karla, a minha namorada. Amor, é a Michelle. - Indicou.
Fazendo com que a mulher se erguesse. Aquelas curvas, aquele jeito. MERDA! Ela virou-se e vi-lhe o rosto. PUTA QUE PARIU! Engoli em seco, parte de mim tinha vontade de chorar, pois isto era tudo surreal. Queria rir, porque eu já a conhecia melhor do que era suposto. Outra parte, estava totalmente chocada com tudo e nem conseguia ter reacção. É muito azar para uma pessoa só. Ela caminhava até nós, de forma arrogante e altiva.
- Muito prazer em conhecê-la, Michelle. - Cumprimentei.
Os olhos verdes da morena, tornaram-se um pouco mais escuros. Ela segurou a minha mão de forma delicada, enquanto os seus lábios se curvavam com um sorriso diabólico e aquelas duas esmeraldas se conectavam, de forma intensa a mim.
- Prazer... - Disse ao se aproximar.
Depositou um beijo rápido na minha face.
- Sinto até hoje, quando me lembro, Agente Karla... - Sussurrou.
Toma esta, Karla! Touché! Xeque Mate! Ponto para Michelle! A mulher afastou-se, ainda com os olhos fixos em mim, engoli em seco e tentava processar as suas palavras. Pisquei os olhos mais do que devia, sentia-me muito nervosa e quente. Ela tinha mesmo dito aquilo? Ainda por cima, com o irmão tão perto?



POV Michelle

Era incrivelmente estranho, estar ali com a minha irmã e a Clara. Ainda não a consigo chamar de mãe, mesmo que ela se tenha desculpado por tudo. É muita coisa para processar. Porém sentia-me feliz, a Taylor está tão linda e com uma personalidade adorável. O Chris tinha saído para ir buscar a namorada, parecia realmente muito feliz quando falava dela. Era bom ver o meu irmão assim.

- Mana! - Ouvi a voz do meu irmão atrás de mim.
Levantei-me do sofá e voltei-me. Estanquei. Não! Foda-se! Não podia ser real... deixei de respirar naquele momento.
- É a Karla, a minha namorada. Amor, é a Michelle. - Apresentou-nos ele.
Trinquei os maxilares e respirei fundo, contornando o sofá e aproximei-me deles. Já que não convinha ter um ataque de raiva, por motivos óbvios... lógico que o sarcasmo e a provocação cresciam dentro de mim.
- Muito prazer em conhecê-la, Michelle. - Cumprimentou-me.
Os meus olhos intensificaram nos dela, sorri-lhe de forma bem expressiva e toquei na sua mão suavemente.
- Prazer... - Retorqui enquanto me aproximava da latina.
Beijei-lhe o rosto quente e macio.
- Sinto até hoje, quando me lembro, Agente Karla... - Disse, bem baixinho perto da sua orelha.
O choque tomou conta da expressão da mulher, e eu continuava como se nada tivesse acontecido. Aquilo magoava-me de forma cruel, e não estava com os melhores humores, como devem calcular.

Chris sentou-se à cabeceira da mesa, eu à sua esquerda, assim como Taylor. A latina estava à direita dele, mesmo à minha frente e ao seu lado, a Clara. Fincava os dedos nas minhas pernas, tinha de estravazar por algum lado. Mais parecia uma viagem ao passado. Mas agora era o meu irmão, e não o estúpido do Samuel. O que, de certa forma, era um cenário mais negro! Era insuportável estar a assistir àquela cena de filme melodramático. Não era preciso muito para que eu sentisse ciúmes dela. Bastava um olhar ou um toque entre eles, para me sentir num ponto de raiva quase incontrolável. A Karla apenas me ignorava, evitando ao máximo qualquer tipo de aproximação. Durante todos estes anos, e depois de que ter sido detida o meu coração ainda pertencia àquela mulher de traços latinos. Que novidade! Embora fosse perceptível que não era mútuo, pois ela parecia feliz com o meu irmão e apenas adorava provocar-me, como tinha acontecido naquela sala de interrogatórios. Era uma dor que eu não suportava, de todo. Eu não podia aceitar a proposta do Chris para morar ali, por muito que eu amasse o meu irmão e quisesse estar perto dele. Mas desta forma, não é suportável. Não fazia ideia dos temas que eles estavam a abordar, não conseguia ouvir nada ou concentrar-me. Sentia que a minha cabeça iria explodir, a qualquer momento. Bebia mais vinho do que comia, aquilo era demais.
- ... não é, mana? - Ouvi, a voz de Taylor, ao fundo.
Foquei-a, com uma sobrancelha arqueada e ela sorriu.
- Estava a comentar que tu te trancavas no quarto com a guitarra o tempo todo. Ou desafiavas o Chris, para jogar futebol e fazias sempre questão de marcares mais golos, ficavas toda contente. - Explicou.
Assenti e voltei a concentração para o meu prato.
- Mas quando perdia, era o desastre total... não é, mana? Quando eu conseguia marcar mais golos que tu?
Ele estava realmente empolgado.
- Sim. Eu não gosto de perder. - Afirmei.
Karla ergueu a sobrancelha.
- Em nada? - Atirou, ousada...
Acenei.
- Sempre altiva! - Ouvi o meu irmão, numa gargalhada.
Eu estava desconfortável; irritada; nervosa e sentia que a qualquer momento o meu corpo iria ceder. É sério.
- Pois é, Karla! Ela sempre foi assim, mas é boa rapariga. - Disse a Clara.
Oh que caralho! Nem queria acreditar nisto. Por alguma razão, os meus olhos cruzaram com os da latina, que passou a língua pelos lábios, provocadora...
- Veremos... Eu sou um pouco exigente.
Passei a mão pelos cabelos, o que é que ela queria com isto? Sorri, de forma, cínica e fixei-a. O seu olhar brilhava em desafio.
- Não te preocupes, Karla. Sei estar à altura dos desafios. Também sou exigente no que faço e no que quero.
Os nossos olhares aqueciam, como se não houvesse ali mais ninguém.
- Estou tão contente por vocês, filho. Fazem um casal tão bonito! - Comentou Clara.
Chris sorriu abertamente, a latina apenas assentiu com um micro sorriso estampado no rosto.
- Já namoram há quanto tempo, mesmo? - Atirou Taylor
O meu irmão sorriu e pousou a sua mão sobre a de Karla fazendo um carinho, levei o copo até à boca, eu precisava de álcool. Aquilo não dava. Ajuda, Senhores!
- Um ano e seis meses. - Respondeu Karla.
Naquele instante, o vinho tinto que eu tomava desceu mais rápido do que o previsto, fazendo-me tossir descontroladamente. Senti a mão de Taylor nas minhas costas e o olhar de todos em mim.
- Está tudo bem, filha?
Peguei no guardanapo e respirei, para finalmente cessar a tosse.
- Está. Tudo. Óptimo. - Limitei-me a dizer.
Os meus olhos encontraram-se com os de Karla, que parecia saber exactamente o que se passava na minha cabeça. Ela não era tão fiel assim, eles já namoravam quando aconteceu aquilo entre nós na CIA. CARALHO! O meu irmão, parecia estar totalmente apaixonado por ela. Ela olhou para o Chris e depois para mim. Vi-a a tomar um gole do seu vinho, enquanto os nosso olhares permaneciam. Conseguia ver o líquido escuro a molhar os seus lábios carnudos, que eu daria tudo para os sentir novamente. Não! Não, Michelle! Concentra-te! Ela agora é tua... cunhada! Que merda de vida, Michelle!
- A Karla é uma mulher maravilhosa. - Afirmou Chris.
Ok, não dava mais. Foi a gota de água.
- Com licença... eu preciso de fazer um telefonema, é urgente. - Avisei, e saí disparada.
Já no exterior, no jardim, acendi um cigarro e sentei-me numa cadeira que vi por ali.
- Foda-se! Merda para isto! Porquê o Chris? - Resmungava.
Horrível, era a melhor palavra para caracterizar, ou talvez... inferno na Terra?! Terminei o cigarro, pedindo a tudo e a todos um pouco mais de paciência, para lidar com este circo. Não disse mais nada e nem a olhei mais. Sentia os seus olhos castanhos em mim, na maioria do tempo e só isso era o suficiente para me arrepiar por inteiro.

No final do jantar, despedi-me da minha irmã e de Clara, decidi aproximar-me do casal perfeito e encaro o meu irmão.
- Então, mana?
Engulo em seco, e rezo muito para que o meu tom de voz não saia alterado.
- Eu vou para casa, Chris. - Informo.
Ele olha para a latina.
- Amor, eu vou só despedir-me da minha irmã.
Ela limita-se a concordar com a cabeça. Os nosso olhares entrelaçam-se, mais uma vez.
- Adeus, Karla. - Suspiro.
- Adeus.
Segui o meu irmão até ao exterior e ele abraça-me alguns segundos e depois larga-me.
- Chris, eu estive a pensar e não faz sentido nenhum eu vir para aqui. Há espaço suficiente no meu apartamento.
- Mana, por favor! Estivemos separados por 10 anos. Eu quero estar contigo. Vens para aqui uns tempos e não se fala mais nisso.
- A sério, não é preciso. - Insisto.
- Michelle, amanhã eu vou buscar-te. E não se fala mais nisto! - Concluiu.
O QUÊ? Suspirei.
- Mano, a sério...
- Não se fala mais, está decidido. - Indicou e abraçou-me de novo.



POV Vero

Ouço a minha melhor amiga a entrar em casa e remexo-me, assim como Lucy, no sofá para a olhar. Ela está a chorar descontroladamente, e caminha sem jeito nenhum na nossa direcção.
- O que se passa? Porque estás a chorar? - Pergunto.
Fui até ela, sentei-a no outro sofá e abracei-a.

Ouvia as palavras dela e nem queria acreditar.
- O quê? Como assim?
- E ele sabe que vocês se conhecem? - Atira Lucy.
- Não. - Responde Michelle.
- E ainda vais morar lá para casa. Oh não, Michelle... isso é demasiado. Vai ser um regresso ao passado, mas pior. - Afirmei.
A minha melhor amiga, ainda soluçava nos meus braços.
- Sinceramente, eu já nem sei o que dizer. A Karla mal nos fala, anda sempre ocupada com os casos da CIA. - Disse Lucy.
Suspirei e tentei limpar as muitas lágrimas, do rosto da minha melhor amiga. Por amor de Deus! Como é que isto é possível?
- Eu não tenho grandes saídas, o Chris faz questão. - Sussurrava.
Olhei desesperada para a minha namorada que estava como eu, sem saber o que dizer.
Ela aninhava-se em mim e Bailey já estava por ali a olhar para ela.
- Olha, o Daniel voltou a insistir... volta a trabalhar connosco na empresa.
Ela negou.
- Vero... eu não quero isso. Eu vou fazer o que gosto. Eu vou atrever-me na música.
Sorri-lhe. Ela tinha tudo para se dar bem, isso era inquestionável.  

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