Capítulo 3

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Depois do ocorrido Ian acabou indo deitar no sofá, tinha a estranha impressão de que se entrasse naquele quarto poderia ser expulso a base de unhadas, não que isso não fosse algo ruim para ele, mas para ela tinha um significado diferente.

Helena não apareceu mais, pelo menos não até o outro dia. Quando amanheceu, ela saiu do quarto como um fantasma. Seu cabelo estava solto e sua expressão estava cansada, com olheiras. Ian também havia passado a noite acordado, observando o teto branco de sua casa enquanto devaneava sobre seus pensamentos, não conseguiu dormir por conta da ansiedade que o comia vivo e isso o assustava profundamente, por isso se manteve em um loop infinito de sentimentos e overdoses de ansiedade apitando em sua cabeça. Mesmo assim, quando ela saiu ele a observou com uma expressão meio perdida e ao mesmo tempo aliviada dela ter saído. Estava uma bagunça, ela _era_ uma bagunça muito linda. Seus cachos dourados caindo sobre seus ombros, os olhos inexpressivos e azuis gelados que para ele eram quentes como verão…

Suspirou, piscou e abriu a boca tentando falar algo, mas se travou ao perceber que estava babando demais a mulher com uma faca em seu pescoço naquele exato momento. Aparentemente tinha adquirido a habilidade do teleporte tão repentinamente como chegou.

— Para de ficar me encarando! - Trincou a mandíbula, apertando a bochecha dele e fazendo um bico.

— Mas… - Ela retirou a mão dele e afastou a faca lentamente — M-Mas… Por que? E pra que a faca? Somos amigos, melhores amigos…

— Repita isso mais uma vez e eu vomito, mas antes eu arranco sua cara e uso pra limpar o chão aos sábados. - Se afastou, recolocando a faca sob a mesa.

— Sua noite, aparentemente, foi bem descansada. - Ian sentou-se, passando uma mão pelo rosto e soltando um longo suspiro de cansaço.

— E sua, ainda bem, foi uma merda. - Sorriu um pouco satisfeita, encarando ele enquanto preparava a cafeteira.

Shawn emergiu na sala, saindo do quarto com a mesma expressão que Ian, porém ao contrário dele, Shawn estava adequadamente trajado com seu novo uniforme escolar, que lhe parecia um pouco incômodo. Helena demorou o olhar sobre ele e acabou sorrindo inconscientemente quando se aproximou para consertar o cinto de sua calça que estava torto e embolado, os cachinhos vermelhos e cor de fogo estavam bem bagunçados também e ele tinha colocado um pouco de creme pra tentar prender, mas não deu tanto certo.

— Ok, fique aqui que eu já volto - A loira correu para o banheiro, pegando vários produtos de cabelo e voltando para sala um tempo depois. Porém quando retornou viu uma cena um tanto estranha: Ian e Shawn estavam sentados à mesa tomando café e conversando sobre revistinhas.

Definitivamente era algo que ela PRECISAVA parar para ver.

— Eu também estava tentando ler essa, mas acabei perdendo nas mãos do meu amigo. - Ian comentou após passar manteiga em uma fatia de pão francês. — Ele nunca mais me devolveu e eu fiquei bem triste.

— Espero que eu nunca tenha amigos pra isso nunca acontecer comigo. Não quero perder ela pra um amigo. - Ocasionalmente, o ruivinho imitou (ou tentou) o pai, lambuzando toda a mão com manteiga e colocando demais da pasta no pão.

— Mas não são todos os amigos que são assim, eu não contei a você o amigo que me deu todas as revistinhas que eu tinha. Eu não tinha dinheiro pra comprar então ele comprava, lia tudo e depois me dava. Assim que eu criei uma coleção de revistinhas e ainda acho que tenho bastante aqui.

— É ou não é pra ter amigos?

— Você pode ter, ou não ter. Algo que você precisa escolher só. E passe menos manteiga no pão, vai acabar ficando doente assim.

— Sim, senhor!

Um sorriso genuíno brotou no canto dos lábios de Helena, a obrigado a prolongar um pouco mais o momento de pai e filho que Ian e Shawn estavam tendo naquele instante. Seu coração se encheu, podia sentir o calor doce e suave tomando conta de seu ser. Nunca tinha sentido aquela sensação…

— Voltei… - Comentou, depois de alguns segundos absorvendo.

(...)

O carro tinha parado bem à frente do colégio, onde várias crianças e adolescentes conversavam e se despediam de seus pais. Os muros da escola mantinham uma cor escura, num tom de verde musgo mais profundo. Vários alunos, harmonizando com a cor predominante do prédio escolar, começaram a passar pelo portão dourado e gigante assim que ouviram o sinal tocar.

Shawn, depois de se despedir de seus pais, acompanhava o fluxo de alunos novatos à procura de sua sala. Mantinha consigo um papel com a numeração exata da sala onde ficaria, e quando finalmente conseguiu encontrar a sala, entrou e se sentou em uma mesa qualquer. Ele estava ansioso, meio nervoso mas acima de tudo ansioso, e mal podia esperar para saber como seria a sua primeira aula.

O primeiro dia dele tinha sido normal, calmo e sem expectativas muito altas. Acabou passando mais uma vez na sala da diretora carrancuda para confirmar como seria o horário escolar e onde ele guardaria seus materiais. Na pequena conversa, a mulher o recomendou cursos e atividades extra curriculares para a idade dele, onde o mesmo tinha decidido por si só analisar melhor depois.

No final do dia, tinha voltado para casa feliz, acabara de fazer amizade com uma menina chamada Camila, que tinha descoberto ser a menina mais inteligente, charmosa e incrível daquela escola. Quando chegou em casa, contou tudo à sua mãe, enfatizando a Camila e como seus cabelos prateados eram lindos e sedosos, seus olhinhos cor violeta e brilhantes, seu rosto redondo e gordinho. Contou com tanta alegria e tanta vivacidade que nem percebeu sua mãe com a expressão mais atônita que conseguia fazer.

"Ele JÁ está apaixonado?"

Só conseguia pensar nisso, enquanto Ian se controlava para não rir da expressão da mulher.

— Claro, meu amor… Agora vá tomar um banho e vamos comer… - Shawn sorriu, caminhando saltitante até o banheiro.

— Parece que nosso filho cresceu…

O Retorno Do Reino PerdidoOnde histórias criam vida. Descubra agora