Capítulo 9

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No dia seguinte, tinha refeito o mesmo percurso.

Caminhou por aquela calçada esquisita, onde estava começando a achar que era amaldiçoada por fazer com que ele encontrar-se com as pessoas tão violentamente. Tinha medo de acabar esbarrando em alguém novamente, mas era um medo superficial e que era clichê demais para fazer as pessoas se encontrarem. E que maneira mais clichê e interessante de se encontrarem? Ora, o universo olhava atentamente para terra, a fim de rir com os pequenos humanos. Pensava em mil maneiras de fazer com que eles se encontrassem, mas a mais divertida era se esbarrando.

Imagina só?

"Encontrei meu inimigo esbarrando com ele enquanto pensava na menina que gostava"

Era tão… Patético, clichê e desinteressante que isso divertia Yohan. Se bem que escrever sobre si mesmo em terceira pessoa é meio estranho… Mas parando para analisar, isso só é realmente estranho entre humanos, portanto continuarei. Vamos focar novamente em mais um pedaço de minha história.

Shawn estava ansioso e meio nervoso, imaginando os acontecimentos do dia anterior passando em sua cabeça como filme. Ele tinha plena consciência de que tinha que fazer algo para ajudar Mali, mas não sabia exatamente o que. Ela não merecia viver ao lado de um homem que a machucasse e que não desse a ela o amor que ela merecia. Aos poucos, conforme ia andando, Shawn foi se decidindo mais e mais que iria livrar Mali daquele sofrimento.

— Nem que seja com minhas próprias mãos… - Murmurou. Deixando de encarar o chão e olhando atentamente para frente.

Seu olhar estava tão concentrado, mas tão concentrado, que a coitada da senhora ao lado dele preferiu só esperar que ele percebesse sua presença. Ela estava andando com ele já tinha um curto período de tempo, mas era o suficiente para ouvir ele murmurando e com aquele olhar esquisito que uma criança GERALMENTE não deveria possuir.

— Do que está falando? - Decidiu soltar para tentar chamar sua atenção.

Shawn pulou. Suas bochechas esbranquiçaram-se, deixando todo rubor sumir do rosto e dar lugar a uma palidez assustadora. Ele virou o rosto lentamente, encarando a senhora com os olhos arregalados e parando imediatamente de respirar.

— Calma, garoto, você está bem? - Perguntou a senhorinha, olhando para ele realmente bem assustado

— O que… Não faz isso… Meu coração é frágil moça… - Talvez fosse, mas ele realmente estava extremamente branco naquele momento.

— Ahwn… Não tive pretensão de te assustar. Só queria conversar com alguém. Me sinto entediada ultimamente.

— E pra isso a senhora precisa me assustar, moça? Meu coraçãozinho… - Com uma risada doce, a senhora afagou os lindos cachos armados de Shawn.

— As vezes minha chegada é inesperada.

— Ah. O que quer conversar então?

— Primeiro, é estranho que você está conversando com um estranho mas mesmo assim continua conversando com um estranho. Isso é perigoso, sabia? E se eu for o _Ghost face_ da sua história?

— Por que você seria o Ghost Face de minha história? Eu sou uma criança, o que eu teria te feito?

— E se seus pais fizeram? - Sorriu, arredondando mais o seu rostinho pequeno e já redondo demais.

— Então seria burrice me matar assim… A menos que queira fazer eles sofrerem. O que daria super certo. - Deu de ombros, simplesmente aceitando sua situação improvável.

A mulher riu, achando aquele serzinho ao seu lado extremamente fofo.

— Sou amiga da Helena, desde antes dela começar a namorar o Ian. Ela não queria ter um bebê, mas quando pegou você ela só aceitou que iria ter que se tornar mãe…

— Então você me conhece?

— Claro que sim! - Ela estende a sacola vermelha brilhante e cheirosa, a levando para o garoto de cachos vermelhos. — Tome, um presente. E diga a sua mãe que eu também sinto falta dela…

O garoto levantou os dedinhos magros a sacola, a segurando e logo depois olhando para seu interior. Um ursinho peludo e com os olhos brilhantes e negros sorria para ele, e uma sensação forte de que o mesmo estava sorrindo para ele o preencheu, o que aqueceu seu coração. Levantou os olhos para agradecer para a mulher, mas ela já havia sumido. Olhou ao redor e não a viu, mas também não sabia exatamente o que fazer acerca daquele presente inusitado.

Na manhã seguinte, Shawn parecia preocupado em deixar o urso escondido em sua mochila. No dia anterior havia chegado em casa totalmente confuso, não sabia exatamente o que iria falar com os pais e como iria se comunicar acerca do presente dado por uma pessoa tão aleatória quanto aquela mulher. Sua mãe estava extremamente preocupada com onde o garoto esteve, por isso foi perguntar a ele assim que o mesmo chegou por onde tinha andado.

Ele explicou a ela o que tinha acontecido, mas não citou o urso, e Helena confirmou a história da moça.

Algumas horas depois, Shawn estava em sala de aula, encarando a lousa branca à sua frente. Camila estava ao seu lado, e olhava pra ele de maneira preocupada sempre piscava diversas vezes. Ele estava perdido em seus pensamentos, às vezes chegando ao mundo exterior e se encontrando novamente com a lousa e a professora escrevendo incansavelmente.

Todas as suas aulas passaram  normalmente, a única diferença foi somente pelo mesmo não conseguir se concentrar em todas as aulas. Ao fim do dia, estava na biblioteca deitando o queixo sobre o balcão. Estava completamente entediado e sonolento, se mantinha ansioso para finalmente ir para casa. Quando seu horário estava próximo de arrumar suas coisas e sair sorridente para casa, ele observou uma estranha criatura adentrar na biblioteca. Era… Linda. Tinha olhos azuis e bem claros, pele pálida e cabelos lisos e loiros. Ela era bem baixa e estava lendo quando entrou, o que fez o coraçãozinho do pobre garoto ruivo falhar.

Ele não reagiu, ignorando o sinal de seu coração. Ela o ignorou também, simplesmente fingindo que ele não existia… Entrou mais a fundo na biblioteca, voltando minutos depois com um exemplar de um livro de terror que Shawn não conseguiria entender e nem prever que ela leria esse tipo de gênero. Quando ela colocou o livro em cima do balcão e o observou levantar sonolentamente, sorriu.

— Acho que sou a última da biblioteca… - Disse, mantendo seu tom mais baixo e obviamente mais tímido.

— Talvez… Mas não tem problema… Você gosta de Terror, é?

— Sim, meu gênero preferido… E o seu?

— Gosto de qualquer coisa que me derem pra ler… Mas prefiro jogar.

— Interessante. Minha mãe diz que quem joga está sendo influenciado a fazer coisas erradas… Lembro que ela disse isso quando eu jogava um joguinho de pizzaria. Não sei como aprender a fazer pizza poderia me influenciar a fazer coisas erradas…

Ele riu, colocando a etiqueta no livro e a entregando.

— Minha mãe gosta de jogar comigo… Já meu pai prefere assistir séries e filmes. Ele não gosta muito de livros, e minha mãe prefere aprender a fazer receitas novas e depois torturar meu pai ensinando a ele… Ele diz que ama, e ela trata como tortura.

— Seus pais parecem ser divertidos.

— E eles são, só são meio… - Protetores, introvertidos, assustadores - Eles são pais normais.

— Bem… Foi bom te conhecer, Shawn. Meu nome é Jennie.

— Foi bom te conhecer, Jennie…

A viu andar alegremente para fora, sorrindo e abraçando o livro. Mas, só depois dela saiu que percebeu o pronunciamento de seu nome. O sono era tão grande, mas tão grande, que assim que se tocou nisso acabou esquecendo.

O Retorno Do Reino PerdidoOnde histórias criam vida. Descubra agora