Capítulo 8

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Os dois continuaram a conversar o caminho inteiro. Shawn fazia várias e várias perguntas a Selena e ela sempre respondia de maneira mais curta e objetiva, sempre sorrindo. Nisso, Shawn havia descoberto que Selena frequentava um terapeuta, tinha perdido sua filha de 3 anos pra um assassinato misterioso em uma escola maldita, segundo as palavras dela. A dor era tanta que ela se recusava falar o nome da menina, não queria lembrar de sua bebezinha mole em seus braços, fria, sem vida….

Shawn também contou um pouco de sua vida, lhe falou sobre sua mãe extremamente protetora, porém muito fofa e lhe contou sobre seu pai baixinho.

— O nome dela é Helena. - Falou Shawn, sorrindo de orelha a orelha.

— Não gosto do nome Helena, não sei o motivo. Mas sua mãe me parece ser legal…

Eles tinham chegado a praça onde Mali morava, e só então Shawn percebeu. Ele travou por alguns instantes, até perceber que Selena era inquilina de Mali. Morava no andar de baixo, ocupando a parte mais subterrânea do casarão.

— Você conhece a Mali? - A perguntou, confuso.

— Fico surpresa que _você_ conheça a Mali.

— Eh… Foi bom ter te conhecido.

— Foi bom também, nanico. Qualquer dia a gente se esbarra de novo.

— Coitado do meu bumbum. Tchau Sel!

Subiu as escadas correndo, pulando os degraus de dois em dois. Tinha a pretensão de bater na porta de Mali, mas quando estava a frente do seu tapete, pôde olhar pela janela antes de definitivamente bater no pedaço imenso de madeira polida.

Então, o viu.

Ele também era enorme, mas era um enorme assustador. Ele estava lá, ao lado de Mali na bancada da cozinha, e podia ver o quão minúscula ela era ao lado dele. Ele estava encarando ela com uma expressão indecifrável no rosto. Ela estava vermelha e se controlava para não… Chorar? Seus olhos estavam vermelhos, ele tinha percebido isso devido a sua inquietude em se mover pela cozinha. Ela murmurava algumas coisas para ele, e ele a respondia com calma, sem demonstrar nenhum sentimento.

Mali parecia estar triste, mas era uma tristeza esquisita. Shawn sentia que era mais que isso, ela estava nervosa e ansiosa. Talvez com o monstro gigantesco que estava a vigiando naquele momento.

Então, talvez ela goste de flores.

Pensou Shawn. Um sorriso imenso voltou a crescer em seus lábios e ele saiu dos degraus da casa de Mali, correndo para floricultura mais próxima de lá. Ao chegar, adentrou ao local e sorriu para florista. Era uma senhora mais gordinha, com lindos e sorridentes olhos azuis. Ela sorriu para ele e disse:

— O que te traz aqui?

— Quero comprar flores… De preferência com cores quentes. Sempre me dizem que isso melhora o humor de uma pessoa.

— Ajuda… Flores são o remédio para alma… Deixa eu ver aqui… Pra quem você quer dar essas flores?

— Para uma amiga, o nome dela é Mali.

— Mali? - Uma expressão confusa inundou o rosto da mulher. Ela saiu de trás do balcão e começou a olhar para os vasinhos de plantas que estavam num lado mais ensolarado da floricultura. — Você a conhece? Humm… Não recomendo fazer o que quer fazer… Você conhece o marido dela?

— Como?

— Bem… Talvez ele te poupe por ser uma criança, mas mesmo assim ele queira te assustar… Ele é bem agressivo e não deixa quase ninguém se aproximar da coitada da Mali. Eles tem uma relação bem conturbada…

— Sério? - Mas, como? Mali era a pessoa mais doce que Shawn conhecia. Foi então que um pensamento horrível o encheu. E se Mali estivesse chorando por causa dele? Ela estava nervosa e ansiosa. — Não podemos chamar a Polícia?

— Da última vez que tentei ele ameaçou meu marido… Foi horrível. Então… nunca mais eu me meti com a Mali. Você tem certeza de quer dar isso a ela?

— Eu… Mas… Ele não pode ficar assim! E se ele estiver machucando ela? - Isso não passava pelo pensamento de Shawn, mas quando passou ele sentiu seu rosto esquentar e seus olhos se encherem de lágrimas.

— Ah, meu anjo… Me desculpe…

Ele baixou os olhos, encarando os sapatos. Estava triste, com raiva, confuso e ao mesmo tempo sentia uma estranha sensação de injustiça. Mali era sua amiga e aquilo não era justo com ela, ela não merecia sofrer nas mãos de alguém que ela não gostava. Ele voltou a encarar a florista, retirou algumas notas do bolso e com uma expressão mais calma, ele disse:

— Eu quero as flores…


Helena estava mais leve. Tinha deitado na cama para assistir um filme com Ian e a preocupação com Shawn tinha passado. Mas ao ouvir a campainha tocando, o sangue escapou de suas bochechas e levantou-se rápido, caminhando até a porta e a abrindo. Assim que a abriu, foi inundada com o perfume de rosas e margaridas juntas. Piscou algumas vezes, tentando entender a situação.

— Desculpa a demora… Fui comprar isso. - Shawn sorriu, e sua mãe o encarou por mais alguns instantes.

Até seus ombros relaxarem e ela abrir espaço para ele entrar.

Em algum outro lugar, um lindo buquê idêntico tinha sido deixado a porta da casa de Mali. Os dedinhos de quem tinha feito aquele lindo presente tinham tocado a campainha e deixado lá. Mali atendeu e quando viu o buquê, soube no mesmo instante quem tinha sido, mas disfarçou, dizendo que era só um presente de uma das namoradas do Gabriel.

O Retorno Do Reino PerdidoOnde histórias criam vida. Descubra agora