XXXV - Tempo

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Minhas pálpebras se abrem rapidamente. Levanto meu corpo, sentando-me na superfície macia, e respiro profundamente, hiperventilando. Começo a tossir, tentando expelir a água do meu pulmão, que parece queimar. Bato com as mãos no meu peito. Estou me afogando.

— Nhu! Chawarin!

A primeira imagem que meus olhos captam é de Pruk; seus olhos castanhos estão me observando, em um misto de preocupação e alívio. Então é assim que minha nova vida começa? Com o rosto de Pruk. Ao menos consigo lembrar dele, e meu desejo foi atendido. Ainda posso me lembrar de toda minha vida passada, como se tivesse terminado ontem.

— Você acordou — ele suspira e se senta ao meu lado no leito, segurando minha mão. — Está tudo bem, você está bem.

Tento normalizar a respiração. Meu corpo treme, e volto a deitar na cama. Lembro do que aconteceu. Foi tão real, não apenas um sonho ou pesadelo. Eu estive lá. Agora eu me lembro.

Um barulho repetitivo começa a soar. Olho para o lado e percebo que é um cardioscópio sinalizando que a minha frequência cardíaca aumentou. Suspiro, tentando me acalmar e não pensar no que aconteceu. Viro a cabeça para os lados e percebo que estou em um quarto de hospital. Quantas vezes este ano estive em um hospital? Bem mais do que já estive na outra metade da minha vida. Franzo o cenho, estranhando a situação. Estico o pescoço e procuro pelo meu braço direito. Continua enfaixado com a tipoia lilás. Eu não morri?

Um sentimento de alívio me inunda, e me sento novamente para abraçar Pruk. Ele está aqui comigo. Talvez meu pedido tenha sido ouvido, mas de forma diferente. Eu posso não estar em outra vida agora, mas continuo nesta com ele.

— Ah, seu braço salvou você — Pruk fala, após nos afastarmos, percebendo que estou olhando para o meu membro quebrado. — A faca ficou presa no gesso, por sorte.

— Eu estou vivo — murmuro. — Estou vivo.

— Você está — sua mão toca meu rosto, acariciando.

Sinto meu rosto ficar úmido e quente; devo estar chorando. Depois que senti a aproximação de Arun, eu desmaiei. Minha visão ficou escura, e pensei que fosse dessa forma que as pessoas se sentiam quando estavam indo embora para sempre. Então, me encontrei em uma espécie de limbo, e era tudo escuro, até que me deparei com aquela vila no meio da floresta. A única coisa que aconteceu da mesma forma nos dois momentos foi a imagem de Pruk que continuava em meus pensamentos.

Agora, ao vê-lo, percebo que meu amor por ele é maior e mais forte que todos os infortúnios impostos em nossa vida, seja nesta ou na vida passada.

— Onde... Onde ele está? — pergunto, não querendo pronunciar o nome de Arun.

— Ele foi preso em flagrante; tentou fugir, mas algumas pessoas o cercaram e chamaram a polícia. Ele não vai mais te machucar, meu amor.

— E o que aconteceu depois? — tento me sentar na maca. Pruk ergue meu corpo e coloca minhas costas apoiadas na cabeceira.

— Você desmaiou, e pensaram que ele tinha te atingido. Chamaram uma ambulância. Eu estava te esperando, mas tive um pressentimento ruim. Já estava anoitecendo, e você não retornava, então resolvi ligar para James, mas ele disse que você já tinha saído do apartamento dele há horas. Decidi te procurar. Então, vi uma aglomeração, e de alguma forma eu sabia que algo tinha acontecido com você.

— E o meu braço? Não dói, mas está bem?

— Examinaram você na ambulância, e constataram que foi apenas um choque. Mas eu insisti que trouxessem você para o hospital. A médica disse que você receberia alta quando acordasse. Você dormiu por 12 horas. 

Eu Posso Ouvir sua Voz (ZeeNunew)Onde histórias criam vida. Descubra agora