TUBARÃO DE 1T PESCADO NA CABEÇA DA VACA

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    Preâmbulo:

A noite chegou. As últimas réstias de sol foram encobertas pelo Morro Guarani e a senhora Agripina pediu a atenção dos contistas e assim se manifestou em oração pedindo licença ao mediador para usar da palavra. Expressou-se desta forma: - Sei da preocupação dos ilustrados contistas e a pressa que tem dado o astuto mediador para que corram nas suas falas, na narrativa das suas histórias, por sinal, muito interessantes, eu que, sendo filha desta aldeia já conhecia de ouvir falar algumas delas e outras para mim são novidades prazerosas e sendo uma pessoa do povo, acredito piamente em todas, mas Deus me livre e me guarde de falar dos infiéis e das puladoras de cercas que são muitos e diversas em nossa comuna, e quem tem a sua oferece a quem quer por necessidade ou por gozo, portanto não entro nesses por menores, longe de mim (se benzeu) e quero dizer que nossa taverna, nossa casa de cultura é de respeito e também de acolhimento e já sabendo que essa tertúlia poderia durar noite à dentro, que espero não passe das onze, providenciei quatro candeeiros aladins dos mais modernos que existem no mercado que produzem luz de dia e vamos acendê-los dois sobre a mesa e dois em pretaleiras suspensos nas laterais do salão, assim como adquirimos no Armarinho de Valdemar Gil vários leques que foram importados da Espanha e poderão ser úteis para os (as) que sentirem calor, só pedindo que não abanem na direção dos candeeiros para que as camisas que produzem a luz não sejam queimadas, e serviremos uma canja de galinha se o senhor mediador permitir, café com leite e pães de sal amanteigados que estão chegando do Hotel da Tereza e da Padaria Pirangy, e para aqueles e aquelas que estejam apertadas querendo se aliviar os nossos sanitários são asseados e contém sinalizações nas portas, sendo o dos cavalheiros o que tem uma imagem de Lampião e das madames o de Maria Bonita.

   Interrompi a fala da senhora Agripina acionei a sineta e propiciei um intervalo de uma hora de relógio - como diz o povo - havendo em seguida uma movimentação da senhora Agripina e sua equipe, um rapaz apelidado de Marconi Keter tá acendendo os candeeiros com maestria, Cheiroso colocando os pratos fundos para a sopa nos lugares dos oradores e Carrinho, procedente do Hotel de Tereza descarregou do seu carro de mão de madeira  um panelão contendo a canja que foi servido à vontade e a gosto com a ajuda de uma auxiliar que se chamava Jucileide dos Caldas, e chegaram igualmente os pães da Pirangy quentinhos já preparados, amanteigados, salvo engano trabalho que coube a uma menina chamada Dudinha Cruz e foi uma beleza de refeição, de muito bom preparo e gosto, sem reclamações.

   Terminado o leve jantar, Dr Tamboatá pediu a palavra para breves esclarecimentos jurídicos informando de viva voz: - Tanto o conto do Oitentinha que envolve uma possível herança pecuniária, uma gorda poupança como se alardeia e que estaria sendo cobiça por uma viúva de última hora; como esse outro dos folhetos denunciando anonimamente, folheteria fora da lei, frise-se, acusando sem provas que madames estejam a se deliciarem com outrem que não os do seu matrimônio, assim como o tal do casamento de última hora com um ser terminal para herdar a poupança acumulada em banco, merecerão deste Juizado dos Feitos, quando oportuno e desde que cheguem ao nosso conhecimento de forma oficial, por alguma ação encaminhada por advogado inscrito na OAB, tomaremos as providências com base em provas, em documentos, em fotos, em flagrantes de alcova com pavios acesos, e só assim, é que os possíveis delitos serão punidos, ainda que, sempre defendo que haja um acordo e aquele que, por acaso levou ponta possa entender que não lhe prejudique, não lhe desonra, seja perdoada a sua senhora e se mantenham juntos porque amante sempre existiu na face da terra desde o tempo de Sócrates, em Atenas, 399 a.C. É o que tinha dizer sem imputar a nenhum dos senhores e senhoras desta távola tal carapuça.

    Só depois da fala de Dr. Tamboatá abri a janela para o próximo contista apresentando-se o representante da Liga de Esportes Terrestres, Rufino Conceição Repolho, conhecido como Barragem, homem de estatura alta, ex "goal kiper" do São Cristovão conhecido dessa maneira porque quando titular desse clube, assim que o "football" chegou em nossa aldeia ainda se falava muitos termos em inglês, fazer um gol nele era difícil e o povo logo começou a dizer que parecia a barragem da Bomba que segurava a água do açude e só vazava em época de cheias, assim como Repollho que só tomava gol quando ia a campo mareado de milones, no mais um esportista de atitudes, fundador da Liga, incentivador do esporte inventado na Inglaterra, casado, cristão de missa, funcionário do Conselho onde secretariava as sessões, distinto, caboclo quase Tapuio, nascido e criado até a infância no Saco do Moura e depois migrante e estudante do ginásio onde se formou em primeiras letras.

O Homem Verde do GinásioOnde histórias criam vida. Descubra agora